PROFISSÃO DE FÉ –
Sempre gostei de repetir a definição do ex-senador Dinarte Mariz que: “Política, meu filho, é uns empurrando os outros”. Não tfoi fácil para mim percorrer com sucesso, os caminhos da vida pública, sendo descendente de um político que empobreceu no exercício dessa atividade e que deixou materialmente para os filhos o que recebeu dos seus pais: uma casa na rua da Cruz e uma propriedade, já vendida, para custear campanhas eleitorais. Aqui e ali, surgem as estocadas dos invejosos de plantão. O meu mandato parlamentar pertenceu ao povo. Tenho, até com certo orgulho, uma larga folha de serviços prestados a Macaíba, Natal, Extremoz, São Gonçalo, Parnamirim, São Pedro, entre vários outros municípios.
Quando me candidatei a deputado estadual em 1986, preparei-me, primeiramente, dezesseis anos. Ingressei na política em 1970, mas antes adquiri experiência como líder político e prefeito de minha terra para me lançar candidato. Não fiz de minha atividade política uma aventura inconsequente. Entendo que, quem chega deve respeitar os que já estão e se puder fazer melhor que lute por isso.
Na política, ao longo de minha trajetória, sempre vivi as minhas horas mais completas. Um antigo amigo, certa vez, aconselhou-me: “Não fale nada dos outros e menos de ti”. Mas, vivi episódios que falaram por si mesmos. Macaíba, Natal e São Gonçalo são a mesma geografia, a mesma história, a mesma vida em comum, uma corrente de afinidades e compreensão. Os nomes são diferentes mas a terra, o ar, as pessoas, tudo é tão parecido que as fronteiras se tornam flexíveis. Nessas paragens há passagens esparsas de minha vida por toda parte. Deixei o rastro no chão e a alma também, que no dizer do poeta Fernando Pessoa “é vasta e a obra imperfeita”. Sou de Macaíba, o filho, o irmão, o cidadão, o íntimo, com uma presença evocativa de amor e respeito. Tanto aqui quanto ali, pisei o mesmo chão, respirei o mesmo ar, participei da mesma natureza.
Na minha infância, eu já conhecia o mapa e os homens de bem da minha terra. Sem ilusões, não moro nas alturas e não tenho em minhas mãos o que não é meu. Atravessei as noites escuras do tempo, as dificuldades de reeleições difíceis em 1990, 1994 e 2000. Em 2002, cheguei ao Tribunal de Contas e fiquei por por 11 anos. Entendendo que ainda não soou a minha hora de silêncio e por isso não me calo. O que importa é ter a coragem de viver e sustentar a alma que não se rende. Serei para todos macaibenses sempre devedor de suas generosas votações.
Os dias que me restam na política serão poucos para agradecer. Só posso fazer e dizer, finalmente, na emoção, igual ao do poeta nordestino: “Que sempre beijarei a terra que me dá a benção da maternidade”.
Valério Mesquita – Escritor, mesquita.valerio@gmail.com
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