Profissionais de saúde da linha de frente do combate à Covid-19 reclamam que a vacinação da categoria em São Paulo está privilegiando os funcionários do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Pelo menos 196 estudantes de um curso de pós-graduação da instituição foram convocados para a vacinação, embora não trabalhem diariamente no local nem tenham contato direto com pacientes. Eles também não têm acesso ao prédio do Instituto Central do hospital.

Em nota, o HC disse que vacinou 60% dos funcionários e que está devolvendo 4,6 mil doses da CoronaVac recebidas. A instituição alegou ainda que vai apurar casos que eventualmente estejam fora dos procedimentos de vacinação.

Nesta quinta-feira (21), o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, também questionou a vacinação no HC. O município calcula que o número de doses da CoronaVac já enviados é suficiente para apenas 40% dos profissionais de saúde da cidade. Por isso, a campanha na capital está priorizando aqueles que lidam diretamente com casos suspeitos ou confirmados de Covid-19.

O HC deveria receber 30 mil doses da CoronaVac enviadas diretamente pela Secretaria Estadual da Saúde em uma megaoperação que deve ser encerrada nesta sexta-feira (22).

No entanto, funcionários afirmam que foram entregues apenas 25 mil doses e que, por isso, os terceirizados não tiveram direito à vacina. A aplicação, segundo eles, foi apenas em profissionais concursados ou naqueles contratados diretamente pelo HC.

Outros hospitais da capital receberam as doses da prefeitura de São Paulo, que tem 430 mil doses, o suficiente para imunizar cerca de 200 mil profissionais de saúde e 14 mil idosos que estão em instituição de longa permanência.

Em nota, a secretaria estadual da Saúde disse que “a recomendação é que sejam vacinados os profissionais da linha de frente de Covid” e “que a falta de agilidade na disponibilização de vacinas contra COVID-19 por parte do Ministério da Saúde obriga os Estados a programarem remessas fracionadas até que venham novos lotes” .

Vacinação de estudantes da USP

Profissionais de saúde que trabalham na linha de frente da Covid-19 em São Paulo fora do HC procuraram o Portal G1 para denunciar que alunos de pós-graduação do HC estavam tomando vacina sem estarem diretamente ligados ao combate à doença ou terem acesso ao prédio do Instituto Central.

Eles compartilharam prints de estudantes de doutorado e mestrado que conseguiram se vacinar sem apresentar o crachá do hospital, usando apenas a carteirinha de aluno da USP.

Uma mensagem enviada em aplicativo de mensagens mostra uma estudante convocada, que não é funcionária do HC, dizendo que “nessa hora é salve-se quem puder”. Em um post nas redes sociais, a aluna mostra o comprovante de recebimento da primeira dose da CoronaVac.

O Portal G1 conversou com uma dessas estudantes, que faz doutorado em Alergia e Imunopatologia. Ela compartilhou nas redes sociais uma publicação sobre a vacina e, questionada sobre o motivo de ter sido imunizada, informou que foi convocada junto com outros 196 estudantes pelo próprio HC.

A aluna outros estudantes de pós-graduação de laboratórios ligados às doenças imunológicas também foram convocados, mesmo sem contato direto com pacientes.

Em nota, o HC disse que “foram priorizados os profissionais com maior potencial de exposição à doença, que contabilizam cerca de 25 mil pessoas”, mas destacou que vai apurar eventuais denúncias.

Queixas contra o HC

Nas redes sociais, médicos e profissionais de saúde também narraram convocações profissionais em situações semelhantes.

“Um pouco decepcionado de perceber que, sim, SP escolheu vacinar o HC inteiro antes do resto. [Foi vacinado] Mesmo quem atende em ambulatório de especialidade, sem ver paciente com Covid”, disse um médico geriatra.

Outra profissional escreveu no Twitter: “Conheço gente do laboratório de ginecologia molecular que foi vacinado só porque é ligado ao HC. Não faz menor sentido”.

Uma terceira também relatou: “Fato. Conheço médico que não é linha de frente, não está atendendo há anos, mas como tem vínculo com o HC foi vacinado. Erraram feio isso aí”.

Linha de frente em SP

O secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, disse que repassou aos hospitais a orientação de priorizar os funcionários da linha de frente do combate à Covid-19.

“Fez-se uma recomendação para que o serviços dessem atenção aos profissionais médicos, fisioterapeutas, todas as especialidades que diretamente estivessem atendendo ao paciente, seja paciente com diagnóstico confirmado de Covid, seja o paciente com suspeita de Covid”, disse o secretário nesta quinta.

“Então [são] esses profissionais de UTI esses profissionais de enfermaria, e esses profissionais de pronto socorro que devem ser priorizados.”

O que diz a Secretaria Estadual de Saúde

Leia, abaixo, a íntegra da nota da secretaria:

“A campanha de vacinação contra COVID-19 tem como referência o número de pessoas imunizadas contra a gripe em 2020 indicado pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Assim, o Ministério da Saúde utiliza este critério para envio Estados, e o mesmo ocorre em SP para redistribuição às Prefeituras.

O Estado de São Paulo aplicou 1,5 milhão de doses da vacina de Influenza no ano passado, sendo 561,5 mil apenas na capital. No entanto, para a campanha de COVID-19, até o momento o MS disponibilizou a SP apenas 1,3 milhão de doses – a serem aplicadas em duas etapas, podendo assim imunizar pouco mais de 650 mil pessoas. Consequentemente, o mesmo critério precisou ser adotado de forma equânime para todas as 645 cidades de SP.

No momento, a recomendação é que sejam vacinados os profissionais da linha de frente de Covid. Novas remessas serão destinadas à Prefeitura da Capital à medida que o Ministério da Saúde viabilizar mais doses, o que permitirá também a expansão de públicos-alvo e a imunização da totalidade dos profissionais de saúde.

É importante ressaltar que a falta de agilidade na disponibilização de vacinas contra COVID-19 por parte do Ministério da Saúde obriga os Estados a programarem remessas fracionadas até que venham novos lotes. Até o momento, o governo federal sequer indica perspectiva de disponibilização de mais vacinas, como a da Oxford/AstraZeneca, por exemplo.

Com relação a vacinação no Hospital das Clínicas da FMUSP, é importante destacar que a unidade sequer aderiu ao sistema home office durante a pandemia.

O HC é o maior complexo hospitalar da América Latina e referência em atendimento Covid durante a pandemia em São Paulo, contando com oito institutos que atendem casos de alta complexidade em diversas especialidades, incluindo urgência e emergência no seu PS. Na campanha de vacinação que acontece esta semana no Hospital, estão inclusos médicos, enfermeiros e fisioterapeutas de todos esses institutos que têm contato com pacientes COVID. O esquema vacinal do complexo inclui a imunização dos profissionais de outras grandes unidades como Instituto do Coração (Incor), Instituto do Câncer e Instituto da Criança, por exemplo.

Com planejamento há mais de três meses da sua logística e necessidades para executar a campanha, o Governo do Estado de São Paulo agiu rapidamente, e em menos de 72 horas distribuiu mais de 477 mil doses para 123 cidades e 14 Grupos de Vigilância Epidemiológica regionais. Este quantitativo inclui as 203 mil doses entregues nesta terça-feira (19) ao município de São Paulo, para que este possa iniciar as estratégias de vacinação”.

Fonte: G1

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