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Programa de incentivo à indústria destinou mais de R$ 247 milhões a empresas no RN

Segmento têxtil é um dos destaques da indústria potiguar — Foto: Governo do RN/Arquivo

A indústria do Rio Grande do Norte já recebeu R$ 247,1 milhões em financiamentos ligados ao Plano Mais Produção. Ao todo, 264 projetos de indústrias foram aprovados no estado, do ano passado até o último mês de agosto, segundo o painel do programa divulgado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O plano tem o objetivo de viabilizar o financiamento da Nova Indústria Brasil, uma política lançada pelo governo federal que pretende impulsionar o desenvolvimento por meio da retomada industrial, na próxima década.

Desde o início de 2024, foram anunciados R$ 342,7 bilhões para o financiamento de empresas e de institutos de ciência e tecnologia até 2026, dentro de quatro eixos: produtividade, inovação, exportação e sustentabilidade. Mais de R$ 143,8 bilhões já foram aprovados em projetos de todas as regiões do país.

Dos 264 projetos aprovados no estado, 263 estão no eixo de produtividade e um no eixo verde, de sustentabilidade.

Representantes do setor comemoram a retomada dos incentivos governamentais para a indústria, mas ressaltam que o programa ainda conta com desafios, como um melhor acesso das pequenas e microindústrias às linhas de crédito.

Segundo a Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), a microindústrias, com até 19 empregados, representam 89,7% dos negócios do estado. Porém, apenas R$ 8,3 milhões foram aprovados no estado para negócios desse ponte – o valor representa cerca de 3,3% do valor total liberado no estado.

Além de financiamentos, o plano também prevê outras ações do governo como indutor do desenvolvimento industrial, por meio de compras governamentais, subvenções, investimento público, créditos tributários, infraestrutura, regulação, encomendas tecnológicas, entre outros.

Apoiadora da Nova Indústria Brasil, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) ressalta que o país viveu um processo de desindustrialização ao longo das últimas décadas. A indústria de transformação, que já chegou a responder por mais de 30% do PIB, nos anos 1980, atualmente responde por apenas 15,1%. O Brasil já figurou entre os 10 maiores produtores industriais mundiais até 2014, porém caiu para a 16ª posição.

Também houve um processo de “especialização regressiva”, ou seja, os setores que produzem os bens de maior complexidade perderam peso na economia. Na pauta de exportações, a participação dos bens de alta e média intensidade tecnológica caiu de 21,6%, há 10 anos, para atuais 14,5%, segundo a instituição.

Segundo Fabrício Silveira, superintendente de Política Industrial da CNI, a nova política do governo foi construída em resposta a um movimento global de reestruturação das políticas industriais, inclusive com a entrada da Inteligência Artificial na pauta e a importância cada vez maior dada ao combate ao aquecimento global.

“A gente tem a figura da IA invadindo e sendo absolutamente pervasiva em todos os sentidos das nossas vidas. A digitalização é um fenômeno inevitável, importante e que, na medida em que traz riscos, também traz grandes potenciais para toda a indústria e para a sociedade. Ao mesmo tempo, a gente tem os fenômenos envolvidos com a mudança climática. Tudo isso traz um outro contexto de a gente repensar nosso modelo de produção e de consumo, a resiliência das nossas cidades a essas mudanças climáticas. Um novo modelo que a gente precisa construir para chegar, de fato, aos parâmetros que estão dados hoje, que são de zerar as nossas emissões a médio prazo antes que o processo de aquecimento global seja irreversível”, afirmou.

Fabrício ressaltou que, as mudanças geopolíticas são importantes nesse novo modelo a ser pensado. De acordo com ele, o agravamento de guerras e o fim de relações diplomáticas entre países provou que o modelo que funcionava até recentemente, como a concentração da produção industrial em algumas nações, era equivocado.

“Os efeitos de mudanças geopolíticas são muito fortes no mundo, com o agravamento de algumas tensões, guerras e separação de alguns estados, de relações com outros. A pandemia também colocou um ingrediente adicional nisso. Os modelos econômicos que estavam postos, muito globais, deixa tudo em alguns países, se mostrou inadequado para responder às demandas que a gente tem hoje. A gente tem que preservar o mundo, tratar tudo de forma ecologicamente correta, reduzir as emissões, tem que aproveitar a oportunidade para digitalizar, para alcançar níveis de produtividade mais elevados e tem que aproximar a produção do consumo. Porque, em casos de bloqueios, a gente pode ficar sem acesso”, considerou.

O superintendente ainda CNI destacou a importância dos pequenos produtores buscarem conhecer melhor os novos planos e medidas anunciadas para a indústria brasileira.

“É importante, para entender como ele pode aproveitar essas oportunidades, para ele se inserir de forma muito mais competitiva nesses mercados de futuro, que vão exigir que ele tenha uma mensuração correta do quanto ele está gerando de impacto para a sociedade e gerando de impacto para o meio ambiente. Que vão exigir dele a adoção de tecnologias mais limpas, mais produtivas”, considerou.

Metas do NIB até 2033

  • agroindústrias: • Aumentar a participação do setor agroindustrial no PIB agropecuário de 23% para 50%, ampliar de 18% para 70% a mecanização dos estabelecimentos de agricultura familiar, suprir pelo menos 95% do mercado de máquinas e equipamentos para a agricultura familiar com produção nacional e garantir a sustentabilidade ambiental na agroindústria.
  • complexo industrial da saúde: Ampliar a participação da produção no país de 42% para 70% das necessidades nacionais em medicamentos, vacinas, equipamentos e dispositivos médicos, materiais e outros insumos e tecnologias em saúde.
  • infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade: Reduzir em 20% o tempo de deslocamento de casa para o trabalho (atualmente esse tempo médio é de 4,8 horas semanais) e aumentar em 25% a participação da produção brasileira na cadeia da indústria do transporte público sustentável.
  • transformação digital: Transformar digitalmente 90% das empresas industriais brasileiras, assegurando que a participação da produção nacional triplique nos segmentos de novas tecnologias. Atualmente 23,5% das empresas industriais são digitalizadas, no que diz respeito ao uso ou adoção de novas tecnologias.
  • bioeconomia e transição energética: Promover a indústria verde, reduzindo em 30% a emissão de CO2 por valor adicionado da indústria, atualmente em 107 milhões de toneladas por trilhão de dólares. Ampliar em 50% a participação dos biocombustíveis na matriz energética
  • de transportes, que atualmente é de 21,4%; aumentar o uso tecnológico e sustentável da biodiversidade pela indústria em 1% ao ano.
  • tecnologia de defesa: Obter autonomia na produção de 50% das tecnologias críticas para a defesa, a partir da elaboração da lista dessas tecnologias.

Indústria potiguar deve focar em desenvolvimento de potenciais

 

Presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern) e do Conselho da Micro e Pequena Empresa da CNI, o empresário Roberto Serquiz considera que o programa é um “ponto de partida” para o Brasil voltar a desenvolver a indústria e ressaltou a importância de uma maior inclusão das micro empresas nas linhas de crédito.

“A indústria de transformação está mais focada na micro e pequena empresa. A indústria de confecção, aqui no Rio Grande do Norte é formada por micro e pequenas empresas. Nós temos a indústria de imóveis, panificação, a indústria de transformação, a manufatureira, todas são indústrias pequenas. E a gente precisa que essas empresas tenham esse acesso para o sucesso do próprio programa”, defende.

De acordo com ele, o foco nessas indústrias é importante pela “quantidade que nós temos no país todo e pela representatividade que elas têm na empregabilidade”.

Segundo Serquiz, países desenvolvidos têm investido trilhões de dólares na indústria de transformação e essa é uma tendência mundial.

No Brasil, com a reforma tributária, que deverá acabar com a guerra fiscal entre os estados – que não poderão mais oferecer impostos menores para atrair indústrias – a tendência será dos estados focarem cada vez mais nas suas potencialidades originais, na avaliação do presidente.

Por isso, o presidente afirma que o Rio Grande do Norte precisa se organizar para acelerar a formação de mão de obra especializada e criar a infraestrutura necessária para manter indústrias no estado, além de focar em suas potencialidades naturais, como as energias renováveis, o sal, a pesca (e industrialização) do atum, entre outros.

Serquiz ainda afirma que a indústria do Rio Grande do Norte tem buscado se organizar em formato de polos, em que pequenas empresas de um mesmo ramo possam trabalhar juntas, garantindo recursos e maquinário mais atualizado. De acordo com ele, em média os parques industriais das empresas potiguares estão 14 anos de defasagem.

“Nós temos um polo sendo construído da bonelaria, em Serra Negra do Norte, nós temos um polo da confecção sendo construído em Acari. O pessoal de móveis está se movimentando também para ter um polo moveleiro. Nós estamos estimulando aqui o associativismo. Você tem, por exemplo, uma máquina que é um alto investimento, que uma micro pequena não pode comprar sozinha, mas que pode ser compartilhada”, pontua.

O presidente da Fiern também falou que a federação tem buscado sensibilizar os empresários potiguares quanto ao estudo do mercado em que irão investir.

“Nós estamos diante de um novo empresário, de uma nova empresa, de uma nova geração, de um novo mercado, de um novo fornecedor. Nós estamos diante de um novo mundo onde a inteligência artificial está batendo a porta. A robotização está presente hoje dentro da indústria. Mas como ter acesso a isso, o micro e pequeno empresário? Estou potencializando aqui o micro, mas isso é para todos. Então o que a gente precisa fazer, e nós estamos buscando aqui, é fazer com que esse recurso tenha tiro certo”, diz.

Fonte: G1RN

Ponto de Vista

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