Uma iniciativa tem mudado a vida de pessoas analfabetas em Natal num período de cerca de quatro meses. O Programa de Alfabetização e Letramento de Jovens e Adultos tem dado a oportunidade para parte da população aprender a ler e escrever e ter uma vida mais autônoma e independente.
“Eu nasci no interior, meus pais sempre moraram em fazendas, então eu estava sempre mudando de lugar. Quando eu cresci, ao invés de procurar estudo, fui procurar trabalho. Trabalho desde os 10 anos”, contou Adriana Araújo, de 46 anos, aluna do Módulo I do projeto, voltado para pessoas que estão em nível inicial.
“Eu não sabia identificar letra nenhuma. Hoje, já consigo escrever poucas coisas. Eu erro, apago, faço de novo até acertar. Tenho fé em Deus que saio daqui lendo”, disse.
Neste domingo (8) é comemorado o Dia Mundial da Alfabetização.
No RN, segundo a última pesquisa Pnad Contínua, divulgada em 2023, 153 mil idosos acima dos 60 anos não sabiam ler e escrever, representando 51% da população que é analfabeta do estado. A taxa de analfabetismo no RN foi de 6,6%, um ponto acima da média nacional.
Com os mesmos 46 anos da aluna Adriana, Lucinete da Silva sabe ler, mas tem dificuldades de escrever corretamente, o que a fez também entrar no curso.
“Comecei a trabalhar cedo para ajudar meus pais e depois tive uma filha. Agora, quero fazer o curso de cuidadora de idosos, mas preciso estudar para conseguir o diploma”, explicou.
O projeto é promovido pelo Instituto Yduqs em parceria com a Estácio, oferecendo aulas gratuitas com todo o material didático necessário e uma metodologia de ensino própria.
Desejo de independência
Aos 66 anos, Jorge Bezerra, também aluno do Módulo I do programa, contou que estudou até a quarta série e sempre teve dificuldades para assimilar as letras. Agora, Jorge viu na educação a oportunidade de se tornar mais independente.
“Uma pessoa sem estudo é uma pessoa sem independência. Uma pessoa muito limitada”, disse.
A coordenadora da iniciativa em Natal e docente do curso de Pedagogia da Estácio, Jeanne Maciel, explicou que os alunos acabam precisando ser alfabetizados em determinado momento por questões pontuais.
“Esses adultos, que não tiveram essa oportunidade de aprender a ler no passado, têm necessidades muito específicas. Eles querem tirar a carteira de motorista, pegar uma ficha no posto de saúde, ou mesmo pegar um ônibus, sem depender de outras pessoas. É um direito deles e nós vamos ajudá-los a conquistar”, disse.
Vida de desafios
O aluno Francisco Pinheiro, de 49 anos, é mais um que vê a chance de conquistar essa autonomia se alfabetizando. Com uma vida marcada por adversidades e superação, ele enfrentou uma infância difícil com o vício da mãe em bebidas e cigarros. Teve que sair de casa aos nove anos e viveu nas ruas até que uma vendedora de iogurte lhe ofereceu um lar e uma família.
As dificuldades na infância e adolescência o impediram de estudar. “Sempre foquei nas coisas que queria e nunca quis seguir o caminho dos vícios. Hoje, sou casado, tenho minha própria casa e posso ajudar minha mãe adotiva. Sou grato por isso”, disse.
“Na época, eu não pude estudar porque estava focado em ajudar em casa. Hoje, quero aprender a ler e escrever para ser mais independente e não depender dos outros para fazer coisas simples, como um Pix”, falou.
Para a coordenadora da iniciativa, Jeanne Maciel, os alunos representam uma busca por uma vida melhor, independente da idade.
“Cada história que conhecemos aqui é um testemunho daqueles que, apesar das dificuldades, buscam na educação a chave para uma vida melhor. E são iniciativas como a do Programa de Alfabetização e Letramento de Jovens e Adultos da Estácio que possibilitam enfrentar o analfabetismo e abrir portas para um futuro mais independente para muitos brasileiros que só precisam da oportunidade certa”, disse.