A PROMESSA – 

São Severino dos Ramos (ou São Severino do Ramo) é uma imagem devocional católica, centro de um importante culto religioso, em alguns estados do Nordeste do Brasil, como Pernambuco e estados vizinhos.

A estátua em tamanho natural, cuja origem é incerta, representa São Severino de Nórica, deitado e vestido em trajes de soldado romano. Encontra-se na Igreja de Nossa Senhora da Luz, no município pernambucano de Paudalho, em uma capela ao lado do altar principal.

Os primeiros relatos da realização de milagres por intermédio de São Severino dos Ramos datam do século XIX, quando se espalhou o boato de que a estátua seria o próprio cadáver incorrupto de  São Severino, de tal maneira preservado, que se fosse furado, verteria sangue.

A notícia se espalhou entre os habitantes das regiões circunvizinhas. Chegou a outros estados do Nordeste, e passou a atrair grande número de romeiros, para visitar a Igreja de Nossa Senhora da Luz, no Engenho Ramos, onde a estátua se encontrava. Logo o São Severino do Engenho Ramos tornou-se São Severino dos Ramos, nome pelo qual a devoção é até hoje conhecida.

A devoção a São Severino dos Ramos continua sendo uma manifestação religiosa, ainda importante nesses estados, tendo sido mencionada por João Cabral de Melo Neto, no poema  “Morte e Vida Severina”.

Essa devoção é fundamentada na Devoção de São Severino, soldado romano, martirizado nos primeiros séculos do cristianismo.

O Martirológio Romano de 1930 acrescenta que São Severino foi martirizado no tempo de Diocleciano, e que as suas relíquias se conservaram em catacumbas romanas.

Décadas atrás, em Nova-Cruz, cidade do interior do Rio Grande do Norte, era comum o deslocamento de devotos até o santuário de São Severino dos Ramos, para o pagamento de promessas alcançadas. A viagem era feita no trem que trafegava de Natal para Recife, e os romeiros costumavam regressar no dia seguinte. Levavam objetos de cera, como cabeças, braços, mãos ou pernas, para depositar aos pés do altar, conforme o milagre alcançado.

Certa vez, a devota dona Luíza, de Nova-Cruz, viajou até Paudalho, (PE), para pagar uma promessa a São Severino dos Ramos. Foi na companhia do marido Dilermano e da filha Rose, de 8 anos. Levava numa bolsa uma cabeça de cera, para depositar aos pés do altar e uma oferta em dinheiro.

A menina passara mais de um ano se tratando de uma impingem na cabeça, doença de pele, cujo nome científico é “Tinha Corporis”, provocada por um fungo altamente contagioso. Em vez de cicatrizar com os unguentos indicados pelo médico consultado, a “Tinha” se alastrava cada vez mais, com forma arredondada e atingindo o tamanho de um pires. Na parte afetada, o cabelo caiu todo, ficando exposto o couro cabeludo. Era uma ferida repugnante, que causava à doente ardores insuportáveis.

Desesperada, vendo a filha piorar cada vez mais, Dona Luíza se pegou com São Severino dos Ramos, fazendo uma promessa de viajar até o seu santuário, para dar o seu testemunho, se a menina fosse curada. Levaria também uma cabeça de cera e uma oferta em dinheiro.

Depois de dois meses, Rosana estava curada. A ferida sarou completamente. Aos poucos, os cabelos foram nascendo novamente.

A notícia do milagre se espalhou em Nova-Cruz e o número de devotos a São Severino dos Ramos aumentou bastante.

Dona Luíza,o marido e a filha foram, de trem, a São Severino dos Ramos pagar a promessa. Desembarcaram na Estação Ferroviária de Paudalho, e se hospedaram num pequeno hotel da cidade.  Chegaram com antecedência ao santuário, para a Missa que seria celebrada às 10 horas da manhã .

Depois de falar com o celebrante da Missa, entregar sua oferta e depositar a cabeça de cera aos pés do altar de São Severino dos Ramos, Dona Luíza, ao lado do marido e da filha curada, deu o seu testemunho, sob um clima de grande emoção. Para os fiéis, estava configurado mais um milagre, com a cura da menina Rose.

Voltaram para o hotel, onde almoçaram e depois foram a uma feirinha de artesanato nas imediações, onde predominavam motivos religiosos.

Nessa feirinha, Dona Luíza notou que sua bolsa estava aberta e dela tinham furtado a “capanga” do seu marido, portando o dinheiro para as despesas, documentos e talão de cheque.

Desesperados, o casal e a filha curada voltaram ao santuário, na intenção de pedir que lhes fosse devolvida uma parte da oferta que tinham feito. Mas o vigário já tinha se retirado, levando consigo todo o dinheiro.

Ajoelhados, os romeiros rezaram muito, e imploraram a São Severino dos Ramos que lhes concedesse a graça de recuperar o que lhes fora furtado.  A fé que tinham nesse santo milagroso  continuava  inabalável.

A viagem, de volta para Nova-Cruz, seria às 5 horas da manhã, no trem que viria do Recife.

Um caminhoneiro, hóspede do mesmo hotel, ouviu o casal contar ao gerente o furto ocorrido, e se ofereceu para levá-los à Delegacia de Polícia, para prestar queixa, e registrar o B.O (Boletim de Ocorrência). Ao chegarem todos à Delegacia, viram entrar um casal, preso, conduzido por dois policiais. Imediatamente, Dona Luíza reconheceu a “capanga” do seu marido, que a mulher trazia na mão, e, sem se controlar, falou para o Delegado, em voz alta:

– Esta “capanga” é a do meu marido!!!

Depois de confrontados o conteúdo da “capanga” e o furto registrado em B.O, Dilermano recuperou totalmente o que lhe tinha sido furtado. Estava tudo intacto: O dinheiro, os documentos e o talão de cheque.

Mais um testemunho de uma graça alcançada. Outro milagre de São Severino dos Ramos.

A fé remove montanhas.

Violante Pimentel – Escritora
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