PRONTO, FALEI! –

Ah, estava tudo aqui, engasgado. Um nó sem tamanho na garganta, eu nem conseguia respirar com tamanho regurgitar. Eu queria mesmo era gritar ao mundo, rasgar de vez toda minha decisão. Isso mesmo! Hoje eu decidi contar tudo, não esconder nada.

Sabe aqueles dias em que se quer chutar o pau da barraca, rasgar a taioba, botar para fora tudo que está engasgado dentro do peito? Pois é, hoje eu “tô que tô”, meio sei lá, com as caraminholas fervilhando o juízo. Deve ser o calor do verão chegando ou algo a ver com as temperaturas elevadas dos trópicos, talvez um alerta nos avisando que mudaram as estações, mas, nada mudará se não nos empenharmos em sermos pessoas melhores.

O que temos para hoje? Apenas o calor nos abrasando, queimando a nossa pele e o nosso juízo, que ainda não é o final. Muito há de se perceber nas caminhadas e tropeços dessa vida. Sim, a vida é assim, desse modelo. Não poderemos chutar o pau da barraca se não acordarmos antes de todos que se puseram a dormir nas altas horas de uma madrugada iluminada pela lua cheia. Só chuta o pau da barraca quem acorda primeiro para a vida, quem dela usa, sem abusar de sua generosidade e clemência.

Acordar para a vida… acho que foi isso que me fez tomar essa decisão. Contar tudo, não esconder absolutamente nada. Calma, chego lá. Não pensem que estou enchendo linguiça, cozinhando o juízo de vocês, pois, se pensarmos bem, diante do calor infernal que o verão nos traz, entenderemos que precisamos nos movimentar, encontrar sombras que nos abriguem, paisagens que nos agradem, instantes que se resguardem e nos guardem nesses paraísos tropicais, alojados nas estações dos nossos pensamentos.

Acho que o tempo se finda e não há mais nada que eu possa dizer, antes de revelar todo o meu pesar… Pesar? Não, não existe pesar em minha vã alucinação, o que tenho aqui, dentro desse corpinho cinquentão, com mente de trinta, são apenas pensamentos soltos cheios de conexões com a vida normal…, mas o que é vida normal, senão ser apenas o que desejamos ser? E se assim não o fosse, confesso, não estaria interessada em ver os capítulos seguintes.

Pois bem, deixemos de enrolação e vamos ao que interessa. Decidi que preciso fazer aulas de dança, um tango, quem sabe…, entretanto, antes, preciso, também, entrar para aulas de canto. Essas matérias ainda não paguei na escola da vida, e, para mim, são importantes ou mesmo necessárias. Explico: cantar a vida em todos os seus ritmos, num canto que embale o gingado das danças, que nos faça ter o jogo de cintura, que a vida nos exige.

Ah, como poderia esquecer, gente! Teria de registrar cada espaço de tempo vivido, entre danças e cantigas, cada passo dessa caminhada, cantada com o melhor jazz que um sax pode interpretar. Nesse caso, terei de me matricular nas três aulas: Dança, canto e fotografia.

E haja TPM, antes da menopausa chegar. Enquanto isso:

– Concedes-me o prazer dessa dança?

Com direito à registro através das chapas e cantos de pé de orelha.

 

 

 

 

 

 

 

Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência, [email protected]

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *