PROTOCOLO: A PALAVRA DE ORDEM –

A pandemia tem nos trazido momentos desesperadores, por tudo que estamos assistindo no nosso dia a dia. Tem também  trazido à tona o ressurgimento de certas palavras até então pouco usadas, dando-lhes muita ênfase e bastante uso. É o caso da palavra protocolo.

Protocolo tem sido a palavra-chave mais repetitiva,  a mais pronunciada e tudo tem a ver com o momento atual pandêmico.

A coisa ficou tão costumeira e banal, que há pouco fui chamado a atenção pelo meu secretário praiano, Sobral:

– Doutor, o que é protocolo?

– Sobral, qual o motivo da  pergunta? Onde foi que você escutou?

–  Tanto eu como a minha mulher, Dulce, temos ouvido toda hora essa palavra. É na televisão, é no rádio, por onde a gente passa e vai, não sai dos nossos ouvidos a palavra protocolo.

– Fui à padaria, quando lá chegando, a mulher disse logo: o senhor tem que obedecer ao protocolo, senão fica sem pão;  fiquei sem entender nada, eu só queria comprar pão; fui levar a minha filha para fazer um curativo no Posto de Saúde, um  homem mascarado, grosso e estúpido logo disse: o senhor já tem conhecimento do protocolo? Caso não tenha, não adianta, não será atendido!

Tem sido uma tormenta, doutor, essa palavrinha protocolo. Que bicho é esse, doutor, pelo amor de Deus? Onde eu vou  encontrar isso? Estou doidinho para comprar logo esse negócio.

– É simples, Sobral. Com esse vírus chinês se multiplicando, contaminando e matando cada vez  mais o nosso povo, os doutores da saúde criaram algumas normas, algumas regras, alguns guias para serem obedecidos pela população, para tentar diminuir essa mortal doença.

Essas normas, essas regras, essas exigências têm o nome de protocolo sanitário, como: manter distância entre as pessoas, evitar aglomeração (não ficar junto de muita gente); usar corretamente a máscara facial; não tossir, nem espirrar próximo das pessoas; lavar bem as mãos com sabão ou usar o álcool em gel. É isso aí, deu  para entender? 

– Quer dizer que tudo que a gente for fazer agora tem que obedecer a esse danado desse protocolo?                                  

 — Sim, para diminuir a transmissão do vírus, evitar a doença e, consequentemente, a morte. Não pode facilitar, sob pena de  ficar rezando em casa, doente, pedindo a Deus uma vaga em um hospital ou aguardando um leito (inexistente) em uma UTI.

 Ainda, em relação à  palavra protocolo e, diante de uma doença nova e cheia de nuances, com replicações  e mais replicações de novas variantes viróticas, com milhares e milhares de trabalhos científicos saindo do forno a toda hora, carecemos de um consenso, de um protocolo terapêutico básico e orientador, organizado e orientado pelas autoridades competentes, envolvendo a Sociedade Brasileira de Pneumologia, de Infectologia, de Imunologia, de Intensivista, da Associação de Médica Brasileira (AMB) e do Ministério  da Saúde. Isso tem levado a uma notada insegurança na população, que passa a tomar iniciativa própria, com o uso rotineiro e preventivo de certas drogas ainda sem comprovações científicas, rechaçadas por muitos estudiosos do assunto.

Precisamos saber, sim, o que é mito e o que é  verdade; precisamos, sim, de um protocolo terapêutico nacional básico, que defina o que deve ser feito diante das fases clínicas da virose, deixando, assim, a população mais consciente e tranquila.

Continuamos tontos, nocauteados, sem saber a quem obedecer e que protocolo seguir.

Diante de tudo isso, só temos a certeza que conseguimos erradicar a piolhada e mandar a malária para o quinto dos infernos.

 

 

 

 

 

 

Berilo de Castro – Médico e Escritor,  [email protected]

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