QUAL É O SEU APELIDO? –

Um colega de trabalho, cujo nome não me permito dizer, rejeitava apelidos e até proibia os filhos de se comunicarem a não ser pelos seus nomes próprios. O nome da pessoa é para isso – dizia.

Não estava errado. Porém, a tradição brasileira pelo menos, sempre adotou esse costume de se aplicar apodos às pessoas, seja para um tratamento íntimo e carinhoso, seja para, jocosa ou cruelmente estigmatizar alguém por esta ou aquela característica física ou moral.

O escritor Gutemberg Costa faz desfilar no seu livro Dicionário Papa-Jerimum volumoso repertório de apelidos colhidos em todo o Estado. Um trabalho rico, divertido e fundamental. Mas quero é lembrar as alcunhas de pessoas com quem eu convivi, ou conheci de perto na minha vivência suburbana. Eis alguns:

MULHERES

Cão sem Chifre – A detentora era uma alegre e destemida colega que tivemos. Marleide ainda se mostra a menina daquela época em que, por ser negra e esperta, recebeu um apelido até engraçado, porém pesado demais. Nos tempos politicamente corretos de hoje haveria problemas.

Cara de Pão Doce – Lúcia, meio branca e sarará, tinha o rosto liso e brilhante (um pão doce?). Foi simplificado para Lúcia Pão Doce.  Ficou mais romântico.

Mosquito sem Bunda – Gracinha era pequena e roliça. Por que “mosquito”, então? Do outro detalhe, sinceramente, não tenho lembrança.

Violão sem Pescoço- Apelido dado às pessoas que tinham o pescoço muito grosso ou quase inexistente. Esse era de uma pequena mulher que passava à tarde, sempre aos gritos, implicando com a vida, com todos e, principalmente, com o companheiro que a seguia silencioso, pachorrento e submisso.

HOMENS

Raimundo Tabacão – Um apelido com jeito de muitas origens. Mas ninguém sabia qual era a verdadeira.

Raimundo Pescoção – Dá pra lembrar e era isso mesmo. O detentor tinha um longo e delgado pescoço que tornava engraçado o rosto fino e narigudo.

Raimundo Pé-de-Lapa – Era pelo pé enorme, sim. Só calçava chinelões, porque as “pranchas” pareciam não caber nos sapatos normais.

Valdomiro Cachacinha – O portador do apelido gostava muito da “branquinha”. Daí…

Chapéu – Trabalhava na estiva e usava um simulacro de chapéu feito com um resto de bola de futebol, panos e estopas, para suportar os pesos que carregava diariamente.

Cabeça-de-Mola ou Pescoço-de-Mola – Andava balançando a cabeça, sem motivo ou controle.

Bode Rouco – A voz roufenha originou o apelido desse pai de lindas filhas.

Gorila – Jovem, porém já peludo e ranzinza, ganhou o apelido. Nunca se incomodou e ainda provocou a “nomeação” do irmão mais novo, Gorilinha.

Cu-de-Anjo – Quero lá saber de onde veio um apelido desses! Mas ele existia e quem o ostentava era Zezinho, um amigo grandalhão, porém meigo e camarada.

Caga Sangue – Que coisa! Por que será que foi atribuído um epiteto tão horroroso a esse companheiro de peladas?

Doloroso – Ele cruzava boa parte das Rocas com o seu andar compassado, desaprumado e com uma expressão de (doloroso?) sofrimento.

Black (Nêgo Bléque) – Um mulato que subia o Areal falando sozinho e exibindo-se com ginga e trejeitos de pretenso malandro carioca. Ele mesmo deu-se o apelido.

Todos nós alcunhamos pessoas e, decerto, muitos de nós fomos também apelidados. Eu fui. Por um defeito no olho direito já me chamaram de Pontaria, Caraôlho e Zanôlho (corrutela de Zarolho) e outros apelidos passageiros, até “oficializar” com prazer o que recebi dos meus irmãos. Em casa eu era Neném. O meu irmão mais velho tinha o mesmo apelido. Como ele era maior e mais forte, para os amigos de adolescência e parentes em geral, ficou sendo Neném Grande e eu, Neném Pequeno.

E você? Qual é o seu apelido?

 

 

 

 

 

Alberto da Hora – escritor, cordelista, músico, cantor e regente de corais

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