QUANDO DEUS TE DESENHOU –
Lembra quando iniciamos os nossos primeiros rabiscos, aprendendo a escrever as letras do “a e i o u”?
Eu lembro.
Sim faz tempo. Foi na casa da professora Donana, lá em Macaíba, na rua da Conceição, quase vizinha à casa do padre.
E o que tem isso de especial?
De especial: O meu lápis de escrever!
Pontas feitas na ‘lapiseira’ de manivela de Seu Estevam, uma borracha branca na outra extremidade, um desejo de aprender a juntar letra com letra e formar as primeiras palavras, que abririam as portas para o “viajar” pelo fantástico mundo da escrita e consequentemente da leitura.
Um “b” com “a”, bê-abá. Um “b”com “e”, bê-ebé. Um “b” com “i”, bê-ibí, e lá ia eu construindo sons e garranchos infantes, que me faziam mais e mais parceiro da Cartilha Método ABC, do Caderno de Caligrafia e da temida (não tanto assim) Tabuada que desafiava a memória tênue em decorar “tanto vezes tanto” para escapar da palmatória.
Hoje estou aqui, na era digital, dedilhando letras misturadas em um teclado, para trazer certas lembranças de um tempo que ser feliz, me bastava angariar saberes.
Mas estava a falar do lápis.
O meu era da marca Faber-Castell, talvez a única naqueles idos. É com o lápis que as crianças de todo o mundo, ainda, mesmo com a tecnologia avançada, aprendem a escrever e a desenhar.
Feitas as devidas recordações, transponho o assunto para o lápis da vida e para a mão do maior dos mestres, Deus, para entender como fomos “desenhados” por Ele.
Primeiro quero supor que diferentemente de mim, Ele possui muitos tipos de lápis: ponta fina, ponta média, ponta grossa, todos da marca “Divina” e, de ponta inquebrável.
Também aprendi, na trajetória da vida, que os traços utilizados por Ele trazem a sutileza de quem sabe graduar a força do riscar, para obter a beleza dos sentimentos humanos.
Observei que Ele não utiliza a borracha encaixada em Seu lápis, mas constantemente, nos franqueia a oportunidade de utilizá-la para apagar caminhos tortuosos e retomar o traço que nos fez imagem e semelhança.
Quando olhamos para o próximo, não como um estranho, mas como reflexo do desenho reproduzido naquele coração, podemos, em parte, imaginar o tipo de lápis utilizado por Deus. Um traço fino ou grosso tem a sua importância para o “amadurecimento” espiritual que vamos aprendendo na Cartilha da Vida, na Tabuada do Compartilhamento, na Caligrafia da Compreensão.
Quando você foi desenhado, foi impingido de um toque que o diferenciou dos demais, no entanto, sempre será possível distinguir a qualidade dos ‘traços’ que trazemos. Uns gostam de colocar seus traços de bondade em disponibilidade para que deles outros usufruam; alguns são mais ‘recatados’ e se prendem a si mesmo, deixando de partilhar o quanto Deus, utilizando o Seu lápis, nos deu a forma universal do bom convívio.
Não se prenda apenas ao contorno do seu desenho. Mostre todo o seu sentimento através de atitudes. Afinal Deus desenhou você para ser admirado pelo que faz, não pelo que você diz que faz ou deixa de fazer. Lembre-se que o traço que Deus utilizou para nos desenhar tem a espessura certa do amor.
Se nessa altura da vida você já “escreveu” tudo que era possível, a ponto de seu lápis está um ‘cotoco’, que tal fazer uma revisão e ir apagando com a borracha do perdão as velhas e novas mágoas da vida?
A propósito, você ainda tem o seu lápis e sua borracha guardadinho em um porta lápis de ‘lata’?!
Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])