QUANDO O POUCO É MUITO –
A maioria, senão a totalidade dos governadores eleitos em 2014 na nossa república federativa destacou a saúde, a educação e a segurança pública como prioridades administrativas de seus mandatos. E puseram tamanha ênfase nas suas promessas, que fomos levados a imaginar estarmos prestes a desfrutar de um período de benesses de dimensões nunca dantes imaginadas nos estados brasileiros.
Seriam providências bem vindas e necessárias naquele momento, haja vista o fato de amenizar a insatisfação de uma população carente de serviços básicos integrantes do rol de atribuições constitucionais obrigatórias dos governos.
Pois bem, se na época aplaudimos a promessa do restabelecimento de tais providências, hoje, lamentamos o descaso ou a irresponsabilidade de não as vermos consolidadas ao final das administrações empossadas, quatro anos atrás.
Se houvéssemos anexado a essa relação de serviços prometidos em campanhas pretéritas, o transporte público de qualidade e a moradia digna para o carente de abrigo, teríamos completado o quinteto basilar de obrigações que o cidadão espera de cada governante que elege.
Nunca sonhamos em possuir, no Brasil, Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) comparados com o de países como Nova Zelândia, Suíça ou Islândia. No entanto, é duro estarmos posicionados abaixo de nações como Costa Rica, Uruguai, Chile, Panamá e Argentina, quando o assunto é nutrição e atendimento à saúde, abastecimento e saneamento básico, moradia e segurança.
Por que tanta distorção, quando somos um país muito mais rico em recursos naturais que esses últimos, e tornado república quase na mesma época deles? Isso mesmo! Com exceção do Panamá – o mais jovem -, os demais países latino-americanos citados obtiveram suas independências praticamente no mesmo período que o nosso: entre 1816 e 1828.
Suponho que nas campanhas políticas daqueles bem posicionados vizinhos não sejam aventados, com tanta ênfase ou preocupação, os índices negativos de desenvolvimento humano, como o são aqui. Nos países de além-mar, líderes do ranking de melhor IDH, certamente que não.
Os objetivos eleitorais deles devem contemplar outras providências, tais como preservação ambiental, controle de gases para evitar o efeito estufa, novos métodos para prolongar o tempo de vida dos compatriotas ou estudos para melhorar a posição do país na próxima Olimpíada. Coisas desse tipo.
Enquanto isso, nós continuamos implorando por uma educação de qualidade para nossos descendentes, transporte público com um mínimo de eficiência e conforto, uma rede de saúde mais humana e presente, uma segurança pública que garanta ao cidadão a certeza de que ele voltará com vida para casa após cada jornada de trabalho.
É uma tristeza admitirmos essa realidade, mas em terra onde tudo funciona ruim, qualquer melhoria é lucro. Por isso é que diante da oferta de campanha de nossos excelentíssimos futuros governantes fica difícil renegar o parco quinhão oferecido por cada um deles, pois diante da desqualificada situação do serviço público, temos que engolir o pouco prometido como sendo uma baita parcela de benefícios.
José Narcelio Marques Sousa – É engenheiro civil – jnsousa29@gmail.com
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