Caravelas foram encontradas na Praia de Ponta Negra, em Natal — Foto: Emerson Medeiros/Inter TV Cabugi

A praia de Ponta Negra, um dos principais cartões-postais de Natal, amanheceu tomada por caravelas-portuguesas nesta quinta-feira (4). O fato incomum tem ocorrido há alguns dias, conforme relatos de banhistas, e também foi registrado em outras praias do litoral potiguar.

Na manhã desta quinta, no entanto, a quantidade encontrada surpreendeu. O professor de surfe Diego Melo, por exemplo, precisou cancelar algumas aulas no início da manhã para não colocar em risco os alunos.

“Nossa aula começa às 5h. Quando a gente chegou, se deparou com isso: milhares de caravelas ao longo de toda a praia. E a gente está aqui há varios anos e nunca ocorreu. Então todo mundo ficou assustado, porque realmente é bem perigoso, queima bastante”, falou.

A “infestação” desses animais nas praias do litoral, de acordo com o professor e pesquisador do Departamento de Oceanografia da UFRN Guilherme Longo, se dá por uma conjunção de fatores, entre os quais estão o vento e a estratégia de reprodução da espécie.

“São animais que vivem mais longe da praia, em oceano aberto. Geralmente ocorrem em grande quantidade por conta da sua estratégia de reprodução. A questão é que parte da caravela, a que fica embaixo d’água, é feita de tentáculos, e a parte de cima é só uma bolsa de ar. E por isso ela é facilmente transportada pelo vento”, explicou.

“Então, quando elas chegam à praia e se aproximam da gente, é porque houve algum tipo de mudança no regime de vento”, reforçou.

Fenômeno esporádico

 

O professor Guilherme Longo explica que esse fenômeno não ocorre sazonalmente, em períodos certos por ano, mas que se trata de “uma coisa esporádica”.

“Esporadicamente acontece esse tipo de evento, desses animais se aproximarem. Isso já foi registrado em outros locais da costa do Brasil também. E acontece de vez em quando, não é de época”, pontuou.

Ele reforça a conjunção de fatores necessários para que haja um fenômeno como esse que atingiu a praia de Ponta Negra.

“Ter um esforço reprodutivo dessa espécie, ter o vento trazendo ela pra costa e aí entrando mais em contato com a gente nas praias. Basicamente é um evento esporádico e se deve mais a essa conjunção de ter um vento trazendo esses animais pra cá, porque eles não se locomovem ativamente, eles vão sendo empurrados pelo vento através dessas bolsas de ar”, explicou o professor.

O professor de surfe Diego Melo disse que ouviu relatos de amigos de que nas praias da Zona Leste de Natal também havia ocorrência de caravelas.

“Alguns banhistas que relataram queimaduras. O pessoal que trabalha com fotografia na beira do mar também chegou a ser queimado nos pés. E alguns surfistas relataram na Praia de Miami também terem sido queimados”, disse.

Cautela e cuidados

 

Guilherme Longo disse ainda que é preciso ter mais cautela ao entrar na água, caso já tenha visto uma caravela ou um grupo delas no trecho. Isso porque os animais podem causar queimaduras.

“O uso de roupa UV pode minimizar um pouco essa chance, essas lycras que a gente usa pra proteger do sol também vão proteger o contato direto com os tentáculos. Se chegar na praia e ver que os animais estão na praia, [melhor] não entrar, porque existe chance de contato. E quando tem contato com o tentáculo, ele causa queimadura na pele”, pontuou.

Caso haja o contato e a consequente queimadura – no qual se “vai sentir bastante dor” -, é necessário seguir alguns procedimentos.

“A gente não deve lavar com água doce, apenas com água do mar, remover os tentáculos e aí utilizar uma luva ou pinça para tirar os tentáculos que estão em contato com a pele. Porque enquanto ele fica em contato, ele fica queimando”, falou.

“Depois que fez isso, lavar com água do mar, não esfregar, e pode aplicar também vinagre em cima da queimadura. Em geral as dores duram em média 24 horas, mas, claro, que se a pessoa tiver algum tipo de reação diferente, ou mais grave que essa, deve procurar a atenção médica”.

Fonte: G1RN

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