Investigadores afirmam que Fabrício Queiroz não está preso no Batalhão Especial Prisional (BEP) porque ele tinha “uma caderneta com anotações manuscritas sobre pessoas que supostamente poderiam ajudá-lo caso fosse preso no batalhão prisional da Polícia Militar”.
“(…) determina à Secretaria de Administração Penitenciária – SEAP, que encaminhe o referido investigado para uma unidade prisional compatível com a sua segurança e o rigor da medida preventiva, preferencialmente no Complexo de Gericinó, em Bangu, estando vetada em qualquer hipótese sua custódia no Batalhão Especial Prisional – BEP”.
O ex-assessor e ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi preso em Atibaia, interior de São Paulo, na manhã desta quinta-feira (18). Ele foi localizado em um imóvel de Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro, e transferido à tarde para o Rio, onde permanece preso em Bangu 8. Ele ficará isolado por 14 dias, seguindo o protocolo de prevenção da Covid-19.
Na decisão que autorizou a prisão de Queiroz, o juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal cita a sua a influência com milicianos no Rio, repasses de ex-assessores para conta de Queiroz no valor de R$ 2.039.656,52 e saques na conta do investigado que totalizam quase R$ 3 milhões.
Os promotores do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção destacam também que, durante a investigação, fotografias e mensagens de texto demonstraram que, apesar de Fabrício Queiroz alegar não poder depor por suposta indicação médica, ele levava uma vida ativa, aparentando estar bastante saudável, chegando a consumir bebidas alcoólicas e churrasco.
Outra suspeita do Ministério Público do Rio de Janeiro é sobre R$ 261 mil pagos em dinheiro por mensalidades escolares e plano de saúde das filhas de Flávio Bolsonaro.
Segundo a documento, ao qual a TV Globo teve acesso, foram 116 boletos quitados em espécie.
Ao menos dois desses boletos, de mensalidades de um colégio no Rio, foram comprovadamente pagos por Queiroz, segundo o MP.
O ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa (Alerj) quitou duas mensalidades, de R$ 3.382,27 e R$ 3.560,28, em 1º de outubro de 2018, segundo fotos e dados incluídos no processo.
Ao cruzar dados e imagens de câmeras de segurança de agência bancária de dentro da Alerj, o MPRJ concluiu que Fabrício Queiroz fez esses dois pagamentos.
Queiroz foi assessor do hoje senador Flávio quando ele era deputado estadual e teve a prisão preventiva decretada por suspeita de participação em um esquema esquema de “rachadinha”.
Segundo a investigação, funcionários de Flávio devolviam parte do salário, e o dinheiro era lavado por meio de uma loja de chocolate e através do investimento em imóveis.
O pagamento das mensalidades seria mais um indício de que a arrecadação do salário dos servidores do gabinete chegava de volta para o parlamentar, um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro.
Os investigadores acreditam que Queiroz era uma espécie de operador financeiro de Flávio Bolsonaro, que seria o líder da organização criminosa.
“As movimentações bancárias atípicas e o contexto temporal nas quais foram realizadas resultam em evidências contundentes da função exercida por Fabrício Queiroz como operador financeiro na divisão de tarefas da organização criminosa investigada, tanto na arrecadação dos valores desviados da Alerj quanto na transferência de parte do produto dos crimes de peculato ao patrimônio familiar do líder do grupo, o então deputado estadual Flávio Nantes Bolsonaro”, diz trecho do pedido do MP.
Queiroz é amigo da família Bolsonaro desde a década de 80 e e foi chefe de gabinete de Flávio na Alerj. Ele trabalhou com o então deputado até ser exonerado em outubro de 2018, época da eleição presidencial de Jair Bolsonaro.
O procedimento investigatório criminal do Ministério Público Estadual do RJ que apura as irregularidades envolvendo Queiroz na Alerj chegou a ser suspenso por decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, após pedidos de Flávio Bolsonaro em 2019.
As investigações envolvem um relatório do Coaf, que apontou operações bancárias suspeitas de 74 servidores e ex-servidores da Alerj. Recursos usados para pagar funcionários na Alerj voltavam para os próprios deputados estaduais.
A movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz ocorreu, segundo as investigações, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, incluindo depósitos e saques.
Fonte: G1
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