AB EDUARDO VILAR

 Eduardo Vilar

Já se foi o tempo em que podíamos comparar a água daqui de Natal com as de outras cidades dos estados circunvizinhos. A nossa água era leve, límpida, doce, uma delicia para se beber, e não era de uso comum o filtro, bebíamos direto da torneira, tanto era a confiança de sua pureza. Em contrapartida, a água da cidade de Mossoró tinha um aspecto opaco, a de Recife era muito pesada e a de Campina Grande, nem se fala, continha muitos sais. Desse modo, poderíamos comparar a água de Natal com as dos mais diversos lugares dos país e não tínhamos dúvida de que nossa água era superior a qualquer outra.

Todo esse relato acontecia há cinco décadas, quando a cidade era pequena, mas tão pequena que chegávamos a conhecer o porteiro do cinema, o vendedor de rolete, o de jornal (Cambraia), e por ai vai. Era uma época em que, aos domingos, pela manhã, íamos assistir a série no cinema Rex, depois íamos à praia do Forte jogar futebol mirim. Pela tarde, na sessão das duas horas, assistíamos a um filme no cinema Rio Grande, comumente os Far-West ou então as comédias com Anquito e Oscarito ou mesmo aos filmes de Jerry Lewis. Após o cinema, íamos lanchar uma cartola no Dia e Noite e, la pelas seis da tarde, dançar na matinê do América.

Naquela época, as festas das Santas Padroeiras eram bem frequentadas. Nelas haviam parques de diversão, com roda gigante, cavalinhos e oferecimento de músicas. Alias, as festas mais organizadas eram as da paróquia de Santa Teresinha e da Catedral, situada na Praça André de Albuquerque.

0 tempo foi passando, e com ele chegou o progresso, e a nossa cidade foi crescendo, crescendo, apareceram os edifícios, as praias urbanizadas, os shoppings-centers, o desemprego e a criminalidade. E o que foi feito de nossa agua? A qualidade desse liquido tão precioso da natureza foi piorando, uma vez que a água Ievada para a nossas residências eram provenientes de duas fontes principais, os poços e as lagoas.

A tecnologia tem demonstrado, através de ensaios de laboratório, que os lençóis de água alimentadores dos poços de abastecimento estão contaminados pelos dejetos oriundos das fossas cépticas. Neles são encontrados uma alta concentração de nitrato, que quimicamente é um sal derivado do ácido nítrico, liquido, incolor, muito corrosivo. Ele dissolve todos os metais menos o ouro e a platina, o que implica não ser recomendado ao consumo humano.

Corn o intuito de ressaltar o que acaba de ser dito, convém lembrar o caso da água que abastece a lagoa do Jiqui. Ela vem através do rio Pintibu de cuja degradação tanto falam os defensores do meio ambiente. Seu estado esta cada vez mais deplorável e piorando à medida que os dejetos são lançados nele livremente. Ademais, esses problemas são agravados pela precariedade do esgotamento sanitário na grande maioria dos bairros de Natal.

Mas nem tudo esta perdido. Com o progresso, também chegaram as águas das fontes minerais que, inicialmente, começaram com os copinhos, depois com as garrafas, passando logo para os garrafões. Nos bairros em que o poder aquisitivo e mais alto, a comunidade não tem outra saída a não ser tomar a água das fontes minerais dos garrafões. Diante disso, quem é que bebe dessa água que vem dos poços e da lagoa de Jiqui?

 Eduardo Vilar – Prof. Doutor em Engenharia, Jornalista, Escritor, membro do IHGRN

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