Nelson Freire
Vez por outra eu me pego meditando, divagando, pensando em coisas que nos dias de hoje poucos se preocupam. Por exemplo, quem é Deus? Ou o que e Deus? Sei que cada um tem sua própria definição, geralmente baseada em experiência pessoal, mesmo que a tarefa não seja tão simples. Afinal, alguns já afirmaram que um Deus explicado é um Deus diminuído, porque reduzido aos ínfimos padrões da nossa limitada compreensão humana. Como podemos ter a ousadia de explicá-lo? Ele, que de um ponto negro fez a luz? Do vazio fez o universo e daí criou a vida, da qual somos apenas uma parcela da sua representatividade?
De fato, é uma tarefa difícil. Mas sei que no geral, cada um tem a sua própria visão pessoal sobre a questão, dada a enorme complexidade desse mistério. Particularmente, eu entendo que Deus é luz, é força, é movimento. Para mim, Deus é vida, é sensação, é sentimento. E vou mais além. Sempre tive a perfeita noção que Deus está dentro de cada um de nós. É o que nos move e nos impele para frente, para os desafios, para o amanhã, para a busca e para o encontro. Somos um pouco da sua essência, do seu Eu. Creio Nele, sim. E por isso procuro Tê-lo sempre ao meu lado, dentro do meu espírito. No coração e também no cérebro. Para celebrá-lo de forma eficaz e consciente, sem os exageros do fanatismo. Com a firme convicção dos que tem fé. Afinal, só ela remove montanhas, como Cristo ensinou. E eu sou cristão convicto.
Negar Deus é, a meu ver, diminuirmos ainda mais o nosso tamanho. É nos sentirmos frouxos no éter da incerteza. É perdermos a nossa própria identidade de seres humanos. As religiões, que são muitas, podem até não ser a mais perfeita forma de induzir a esse encontro íntimo e intransferível, por causa dos seus dogmas, das suas conveniências e das suas políticas. Mas esse é um dos caminhos, uma das fórmulas que existem. A que está mais à mão. E que, por isso mesmo, deve ser preservada. Mesmo com as muitas falhas e defeitos inerentes a cada uma delas. E já que não é isso o que está em questão, o que importa é sentirmos a presença desse Ser superior, guiando-nos e às forças de todo o Universo. E sempre presente nos momentos em que Dele mais precisamos. Porque Deus é muito maior que os exageros cometidos em seu nome.
Muitos já usaram e continuam a usar Deus como escudo e argumento para exercício de um poder temporal e humano na terra. Basta ler a História para que isso se torne ainda mais claro. Em qualquer civilização, qualquer religião, qualquer que seja a região do globo terrestre. A utilização do medo do pós-morte faz com que segurem a rédea das massas. E a nossa própria Igreja cristã também não passa incólume a esse efeito, típico dos humanos. Mesmo após a Reforma, a primeira Igreja continuou buscando, pelos dogmas, manter as conquistas do passado. E a reformista, já bastante diversificada, impôs a sua presença e as suas ideias sobre espiritualidade. E em muitos lugares, também se transformou em força política, tanto quanto a outra. O que sempre me pareceu um pouco questionável. Pois foi o próprio Jesus que disse: o meu reino não é desse mundo.
É necessário ter em mente que a angústia humana não deve ser usada como força motriz para fortalecimento de grupos, quaisquer que sejam, que buscam de uma maneira inconfessável o poder político e o poder econômico. Já vimos esse filme antes, desde a Idade Média. E penso comigo mesmo que isso não tem nada haver com a espiritualidade, com a relação do homem com Deus, com a ligação direta da criatura com o seu Criador. Com essa força desconhecida que é superior a todas as coisas. Basta observar e refletir sobre a magnitude do universo. Mas, longe de mim a intenção de julgar. Apenas devemos ter a preocupação de estar atentos contra o perigo de haver, no meio desses grupos, os que só querem tirar proveito da situação.
Nelson Freire – Economista, Jornalista e Bacharel em Direito