QUEM HERDA NÃO FURTA –

Jesualdo ligou novamente, contando que mesmo com a pandemia, resolveu dar sopa para o azar, e aglomerou durante almoço acontecido para celebrar o aniversário de um dos netos.

Coincidentemente uma das suas filhas, mãe do aniversariante, casara com o primogênito de um conhecido da época estudantil. Foram muitos ligados na juventude quando, apesar de haverem optado por graduações diferentes, sempre se encontravam nos eventos esportivos ou nas baladas que aconteciam nas boates do Clube Fênix, Arcos, Cavuco e Middó, localizadas no Centro de Maceió, Pajuçara e Ponta Verde, respectivamente. Ultimamente, a amizade se fez mais solida devido aos laços familiares.

Naquele dia, o campeonato europeu de futebol, apresentava jogo do Real Madrid, evento que prendia a atenção dos amantes do esporte bretão. Interessante é que em todas as vezes que surgia na tela a marca de um dos patrocinadores, o relógio suíço Hublot, o genitor do dono da casa, meu consogro, apontava para o punho e dizia: “- legitimo igual ao meu, comprei na última viagem que fiz a Suíça.”

Na ocasião Jesualdo recordou, ser o seu genro, aquele do caso das algemas, exclusivo consumidor de produtos originais. Qualquer tipo de camelô, só através de programas de TV!

Para completar, contou sobre duas vergonhas que passara. Tendo viajado a São Paulo, lá visitou a Rua 25 de Março, shopping alternativo, muito frequentado na cidade e nacionalmente conhecido por comercializar itens com preços baixos, porém com credibilidade duvidosa. Lá adquiriu camisas polo de marcas diversas, e uma toalha de praia com o escudo do time do coração, o gigante da cruz de malta, Vasco da Gama.

Dias depois, já de volta a Maceió, com toda a família reunida à beira da piscina, Jesualdo falou ter sido abordado pelo genro que, bem sério, lhe perguntou: “-sogro você notou que nessa toalha nova presa em seu corpo, está escrito cruemaltino ao invés de cruzmaltino? Negociou onde essa peça?

Logo após a noite, já pronto para o jantar, o marido da filha, novamente arguiu Jesualdo: “- sogro, você já viu que está faltando um dente na arcada superior da boca do jacaré da sua Lacoste? Ela é francesa mesmo?”

Foi ai que Jesualdo, aprendeu duas verdades com aquele seu querido genro: o barato sai caro e quem herda não furta.

Tempos depois Jesualdo viajou a Dinamarca onde adquiriu relógio marca Skagen cor preta, discreto, e muito bonito. Quando retornou, na primeira oportunidade em que o usou publicamente, como era de esperar, foi logo questionando por quem de direito: – tem certificado? Rapidamente, já ressabiado com os acontecimentos anteriores, lhe mostrou a papelada comprovando a autenticidade, e ele ficou feliz.

A parte boa, Rostand, falou o Jesualdo, é que minha filha e os netinhos só vestem roupas originais e eu quando recebo presentes deles, todos são da melhor qualidade. Como sempre eu só escutei.

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

 

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