Eles estão sumindo das proximidades dos grandes centros, mas ainda existem nos matagais rasteiros do interior. Inesquecível termos visto um dia os saltos e volteios do pequenino tiziu no meio do capinzal. Quem usa máquina com zoom caprichado consegue captar verdadeiros balés desses minúsculos prodígios da natureza. Viviam principalmente se balançando agarrados ao capim-arroz a comer as sementes, e o canto acelerado, curto, era exatamente assim: “ti-ti-ziiiuuu, ti-ti-ziiiuuu”!
Seu nome científico, volatini, é uma mescla de latim e tupi: vem de volatus, ‘voo curto’, e iacarini, ou seja, ‘aquele que voa pra cima e pra baixo’. Nesse balé ou salto olímpico é por que gira no ar e desce no mesmo ponto em que saltou. Tanto o tiziu quanto beija-flor possuem segredos ainda não inteiramente decifrados pela ciência.
O tiziu mede entre 10 e 11 cm de comprido, a cor do macho é de um característico brilho azul-metálico no dorso, ainda aparece uma mecha branca sob as asas. Toma diversos nomes de acordo com a região do país: no Rio chamavam de ‘papa-arroz’, não confundir com o papa-capim que é o coleiro, este com enorme mancha branca em contraste com a sua penugem preta, e tem um canto admirável esse coleirinho, primo do tiziu. Há outro parente do tiziu, é o caboclinho, pequeno cantador, marronzinho, todos muito caçados por gaioleiros para exibirem os dotes melódicos dessas divinas criaturas. No tempo de criança, em Jacarepaguá, eu ficava admirado ao ver os repetidos e breves cantos dos tizis, enquanto saltavam abrindo e fechando as pequenas asas, tal qual ginastas olímpicos em miniatura. Quando nos aproximávamos deles desabalavam para longe na velocidade de um beija-flor. Noutros lugares o tiziu é chamado de ‘alfaiate’, ‘tizirro’ ou ‘saltador’.
Hoje os tizis sobrevivem mais da caça aos insetos pela natural ausência de áreas de capim, mas subsistem ainda na área rural em quantidade suficiente para os acolher em pequenos bandos. Curioso é que aparecem quase sempre de dois em dois, o que sugere dança nupcial, para após esse período reprodutivo, aparecem em bandos de até dez passarinhos. Seus ninhos são vistos na parte bem rasteira da mata, em meio ao capinzal. Nas matas de São Paulo, Rio e Minas não são encontrados no tempo frio, já que é certo que migram para lugares quentes. Surgem em lugares ainda descampados de capim, plantações de soja contribuem para afugentar os tizis. Esses pequenos guerreiros saltitantes da natureza!
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá
onde a criança diz: Eu escuto a cor dos
passarinhos.