Nelson Freire

É no meu escritório, ambiente peculiar onde me enclausuro de vez em quando, que eu dou asas à minha imaginação. É nele onde eu crio, onde construo as minhas alegorias, onde exercito com vigor a minha individualidade. Onde exulto com as minhas vitórias ou curto solitário o gosto amargo das derrotas. E continuo a conversar comigo mesmo sobre as coisas do dia a dia e principalmente sobre as perspectivas do futuro.

É onde eu sempre brinco com o computador e ouço as musicas que gosto de ouvir. Onde leio e escrevo; onde componho as minhas canções; e onde questiono o meu papel dentro do meu tempo. Onde penso sobre o meu país e onde escrevo sobre as coisas do Rio Grande do Norte. E de Natal, a minha eterna Cidade do Sol.

Aqui é o lugar onde eu sou mais eu. Porque é no meu escritório onde realmente me faço levar a lugares nunca antes imaginados. Onde o pensamento evolui como um mestre-sala de Escola de Samba, ao lado da sua porta bandeira.

Mas continuo com as minhas elucubrações. Afinal, por ter nascido num dia 25 de maio, os astrólogos garantem que sou do signo de Gêmeos. E o geminiano não é brinquedo não. Ainda por cima, nascido de sete meses. Mamãe me disse que ao nascer eu cabia dentro de uma caixa de sapatos. E mais, que eu lhe dei muito trabalho e que só não morri na primeira semana de vida, porque o pediatra descobriu que o meu choro convulsivo era simplesmente a falta de leite materno.

Pois bem. Dentre algumas das muitas características de quem nasceu sob esse signo, está uma grande inquietação. A criatividade, uma energia profusa e a vocação de fazer várias coisas ao mesmo tempo. E essa tem sido a minha sina ao longo desses anos que eu já tenho de vida, sem que haja perspectiva de mudança na minha maneira de ser. Mesmo que às vezes eu lamente muito por isso.

Portanto, nada mais natural que eu, economista formado na UFRN, tenha feito o curso de Jornalismo na Faculdade Eloy de Souza e tenha escrito colunas em jornais e feito reportagens sobre assuntos econômicos em revista especializada da época, a RN Econômico. Essa condição de geminiano legítimo é o que justifica encontrar tempo para compor músicas e ainda de quebra ter sido ser político por opção e escolha pessoal.

Bem como alimentar a vontade de escrever sobre o seu tempo, suas experiências e a de outros que povoaram e ainda povoam a sua existência, como estou fazendo agora, em mais esse novo desafio. Pois concordo com Pirandelo, que vaticinou que a vida se vive e se escreve”. E isso, no meu caso, já está provado, mais que vocação, é também uma questão de signo.

Daí, algumas aventuras literárias, à qual já me dediquei, com igual impetuosidade quanto as outras. E que, mesmo com a ausência do refinamento próprio dos que cultuam a arte de escrever por oficio, reflete o impulso dessa influência zodiacal. Mesmo que muitos questionem esse lait motiff. Que me presenteou com a vocação do registro e do exercício das lembranças. Viagens pela memória que apascentam o espírito.

Daí talvez, a razão de eu ter sido aceito como membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Por isso, essas mal traçadas linhas sobre esse curto espaço de tempo no qual estou inserido. Ora como coadjuvante, ora como ator principal, tentando formar na lembrança um painel de um momento que fez surgir uma geração rebelde, inquieta, e sob alguns ângulos específicos, prejudicada. Consciente de que o tempo escorre entre os dedos e de que na vida não se faz nada certo na hora errada.

Por isso espero ao menos que essas minhas ousadias não sejam em vão. Se você não pode com seu inimigo, o melhor é aliar-se a ele, já diz a velha e boa filosofia. Por analogia, faço o mesmo com essas vocações tão dispares que estão presentes dentro de mim. O desafio consiste em não tumultuar tanto a aparição delas, para que não aflorem em momentos inoportunos.

Nada de pensar em musica na hora de ver a contabilidade da empresa. Nunca querer fazer um discurso na hora de compor uma melodia. Jamais imaginar o texto de algum projeto, quando o que estou fazendo é apenas isso que você está lendo. Sou uma peça de vários personagens e um só ator. Sem conseguir fugir ao destino de ser, também, autor. Tentando olhar, sempre, para além do arco – íris. Permanentemente atento ao caminho que leva para as muitas margens do rio.

 Nelson FreireEconomista, Jornalista e Bacharel em Direito

 

Ponto de Vista

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