Dalton Mello de Andrade
Espanta-me, como provavelmente muitos que me leiam, a total ausência de racionalidade de nossos dirigentes em suas decisões.
Não precisa sair do RN, embora haja lugares piores, inclusive e especialmente na área federal. O bom senso, a racionalidade, nasce com as pessoas e são aprimoradas pela educação, pelo exemplo, e pela inteligência. Naturalmente, um tempo em países mais civilizados, ou, para não ser agressivo, mas adiantados que o nosso, ajuda muito. Mas, fiquemos no nosso RN, que serve de modelo, ruim, mas por isso mesmo serve.
Em pouco tempo e curtas análises vimos decisões, se não irresponsáveis, completamente infantis, para não dizer malucas, em três importantes ocasiões.
Um aeroporto isolado, caro, dispensável, já que o nosso Augusto Severo atendia e poderia atender muito bem a qualquer incremento de demanda. Já possui ótimas pistas, que têm espaço para serem aumentadas. Já tinha uma razoável infraestrutura para receber os passageiros e que havia sido há pouco melhorada, e que poderia ainda ser aprimorada, à necessidade. Por ser também militar, nada o prejudicaria. O Galeão, entre outros, é também militar. Gastamos dinheiro desnecessário, que nos custaram os olhos da cara, e para viajarmos de avião fazemos uma viagem por terra, às vezes mais demorada do que a de avião. E tínhamos um acesso fácil, belo e rápido à cidade.
Outra decisão fajuta. Esse novo estádio. Desnecessário; trouxe alguns poucos jogos da Copa, que não nos teriam feito falta e teríamos melhormente vistos pela TV. Só nos dá hoje prejuízo permanente. O Estado se obrigou a pagar perto de doze milhões mensais, por 22 anos. Façam a conta, é fácil. Elefante branco. Da pior qualidade.
Alguns alegam. O estádio melhorou a mobilidade urbana, com viadutos, eliminou sinais, o trânsito flui melhor. Aonde? Continuo preso por horas e horas nas horas de pico. Alguém, por favor, de dê as dicas de como chegar na minha rua, que é junto à Maternidade Januário Cico, vindo de Ponta Negra, em menos de meia hora – mesmo usando a Via Costeira – aí uma obra útil.
Para minha alegria, vejo o governo tentando se livrar de alguns abacaxis, como os citados, transferindo para iniciativa privada. Já fizeram isso com o aeroporto; não vi melhora, pois o acesso de avião é fácil, lá como sempre foi aqui em Parnamirim, mas por terra, um Deus nos acuda. Querem transferir o estádio. Quem diabo vai querer? Fazer o que com ele? A minha burrice não enxerga nada que o melhore. Fala também em contratar empresa para economizar os desperdícios de água da Caern. Tomara que dê certo.
Mas, aí está meu problema. Não vejo nenhuma racionalidade nessas iniciativas, para quem tem um mínimo de bom senso. E os empresários, sérios, honestos, bem-intencionados, que ainda são, felizmente, a maioria, dificilmente embarcarão numa canoa furada.
No meu tempo de MEC, quarenta anos atrás em Brasília, briguei muito em reuniões de engravatados, no ar condicionado, querendo mudar as coisas no Nordeste, por exemplo, sem nada saberem da nossa realidade. Acho que a coisa continua do mesmo jeito. Uma pena.
Dalton Mello de Andrade – Ex secretário de Educação do RN