O delegado de Polícia Federal (PF), Alexandre Ramagem Rodrigues durante coletiva de imprensa sobre operação Cadeia Velha, na sede da superintendência regional da PF (Tomaz Silva/Agência Brasil)

O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, afirmou nessa segunda-feira (11) em depoimento que tem o “apreço” da família do presidente Jair Bolsonaro, mas negou ter “intimidade”.

Ele disse ainda que foi consultado pelo presidente e pelo ministro da Justiça, André Mendonça, sobre as qualificações profissionais do delegado Rolando Alexandre, escolhido por Bolsonaro para comandar a Polícia Federal.

Ramagem prestou depoimento à PF em Brasília no inquérito autorizado pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar suposta tentativa de interferência de Bolsonaro no órgão.

O inquérito foi aberto a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR), após o então ministro da Justiça, Sergio Moro, anunciar a demissão do cargo alegando que houve interferência política de Bolsonaro na PF.

Ramagem chegou a ser nomeado novo diretor-geral da PF no lugar de Maurício Valeixo, demitido do cargo por Bolsonaro. Mas o ministro Alexandre de Moraes, do STF, barrou a nomeação por entender que houve desvio de finalidade.

“[Ramagem disse] que o depoente [Ramagem] tem ciência de que goza da consideração, respeito e apreço da família do presidente Bolsonaro pelos trabalhos realizados e pela confiança do presidente da República no trabalho do depoente, mas não possui intimidade pessoal com seus entes familiares”, afirmou Ramagem no depoimento.

“[Ramagem também disse] que no entender do depoente, o motivo da sua desqualificação, portanto, foi o fato deste não integrar o núcleo restrito de delegados de Polícia Federal próximos ao então ministro Sergio Moro, uma vez que, diante dos fatos ora relatados, não haveria um impedimento objetivo que pudesse conduzir à rejeição de seu nome”, acrescentou.

Em seguida, ele disse que o presidente lhe consultou sobre a indicação de Rolando Alexandre.

Foto com Carlos Bolsonaro

Alexandre Ramagem assumiu a segurança de Bolsonaro em 2018, após o então candidato presidencial ter levado uma facada em Juiz de Fora.

No réveillon de 2019, Ramagem foi fotografado em uma festa com o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro.

Sobre a proximidade dos dois, Ramagem disse: “Que nesta confraternização, que não foi uma festa, porque os policiais estariam muito cedo prontos para o trabalho, estavam apenas familiares […], oportunidade em que o vereador Carlos Bolsonaro passou no local para saudar os policiais pelo trabalho executado, pois no dia seguinte se encerraria a segurança provida pela Polícia Federal com a transmissão do trabalho para o Gabinete de Segurança Institucional – GSI”.

Para Ramagem, a “desqualificação” dele para o cargo de diretor-geral da PF ocorreu “através de argumento inverídico de intimidade familiar nunca antes tido como premissa ou circunstância, apenas como subterfúgio para indicação própria sua de pessoas vinculadas ao seu núcleo diretivo de sua exclusiva escolha”.

Pedidos de Bolsonaro

Durante o depoimento à PF, Alexandre Ramagem negou que houve algum pedido, por parte de Bolsonaro, de relatórios de inteligência que dissessem respeito a “questões tratadas na Polícia Federal como matéria sigilosa”.

“[Ramagem também disse] que nunca foi pedido pelo presidente da República informação ou relatório de inteligência sobre fato específico investigado sob sigilo pela Polícia Federal”, acrescenta o depoimento.

O diretor-geral da Abin afirmou também que não haveria missão específica à frente da PF, mas de cumprimento da gestão do Departamento de Polícia Federal “da melhor forma possível”.

“[Ramagem acrescentou] que o presidente da República nunca chegou a conversar com o depoente, sob a forma de intromissão, sobre investigações específicas da Polícia Federal que pudessem, de alguma forma, atingir pessoas a ele ligadas”.

‘Afinidade’

Também nesta segunda, o ex-diretor-geral da PF Maurício Valeixo prestou depoimento no inquérito. À Polícia Federal em Curitiba, Valeixo disse que Bolsonaro relatou a ele querer alguém com “maior afinidade” no comando da corporação.

Escolhido para o cargo por Moro, Valeixo foi exonerado do cargo em 24 de abril por decisão de Bolsonaro.

“Para o depoente [Valeixo], a partir do momento em que há uma indicação com interesse sobre uma investigação específica, estaria caracterizada uma interferência política, o que não ocorreu em nenhum momento sob o ponto de vista do depoente; que em duas oportunidades, uma presencialmente, outra pelo telefone, o presidente da República teria dito ao depoente que gostaria de nomear ao cargo de diretor-geral alguém que tivesse maior afinidade, não apresentando nenhum tipo de problema contra a pessoa do depoente; que o depoente registra que o presidente nunca tratou diretamente com ele sobre troca de superintendentes nem nunca lhe pediu relatórios de inteligência ou informações sobre investigações ou inquéritos policiais.”

No depoimento prestado em Brasília, contudo, Alexandre Ramagem disse que soube por Valeixo que o então diretor-geral da PF queria deixar o cargo.

“[Ramagem afirmou] que a sugestão de nomes para a sucessão do Dr. Valeixo ocorreu, pelo que o depoente tenha conhecimento, em razão das diversas manifestações de desejo do próprio Valeixo de deixar a função; que esse desejo foi manifestado ao próprio depoente por diversas vezes e também, conforme declarado pelo próprio Dr. Valeixo ao presidente da República e ao ex-ministro Sergio Moro”.

Fonte: G1

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