RAMBO –

Tenho um hábito que soa meio estranho. Apego-me à rotina! Gosto de dirigir sempre pela mesma faixa, estacionar no mesmo local, fazer o mesmo percurso nas idas ao shopping, se possível sentar na MINHA mesa nos restaurantes e cafeterias e comer aquele prato que amo. Assim, ao longo de três períodos do curso de psicologia sigo para a faculdade com nosso caçula no carro. Vamos para a aula ouvindo a playlist dele e sempre – SEMPRE – sei se saímos mais cedo ou mais tarde que o esperado quando vemos um rapaz correndo.

Ele corre na Salgado Filho – Hermes da Fonseca. Todos os dias . Faça chuva ou faça sol. Sempre de bermuda, sem camisa e com uma viseira laranja virada para trás. Por isso, o apelidei de RAMBO. Se vemos Rambo perto do batalhão, sei que estamos com horário legal, sem pressa. Se o vemos perto da Alexandrino de Alencar sei que atrasamos para sair e, instantaneamente olho para o relógio preocupada. Se o pegamos perto da Nacre entendo que chegaremos muito mais cedo que o previsto. Três semestres assim!

Passamos por ele e eu grito RAMBO!!!! Dentro do carro, lógico. Com janela fechada, claro. E dou uma risada para nosso filho que, como bom representante da geração Z (né?), revira os olhos e segue na conversa. Não dá cabimento para minha relação parassocial, como ele nomeou.

Entretanto, desde as duas últimas semanas do semestre passado não o vemos. Não vemos Rambo. Me pergunto o que aconteceu com ele e, estranhamente, sinto falta dele em minha rotina.

Hoje, mais uma vez, dirigi todo aquele trecho olhando para a calçada a sua procura. Pensei em como pessoas podem significar tanto para a gente, mesmo sendo desconhecidas.

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Escritora e Autora do livro O Diário de uma gordinha

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