RECORDAÇÕES –

Resolvi andar, peguei o carro e fui dirigindo sem destino, apenas andar. Cinco horas da manhã, chão um pouco molhado, e eu sem destino certo. De repente no som do carro escuto uma música cantada por Roberto Carlos, ídolo da jovem guarda, tempo da minha mocidade, e tinha uma parte da letra que diz ¨Recordo a casa com varanda/Muitas flores na Janela/Minha mãe lá dentro dela. ¨ Lembrei-me imediatamente da casa de minha mãe na Seridó e vizinho a casa de meu avô, recordações eternas em mim

O tempo passando e estrada sendo engolida. Chegando perto de Parnamirim, as ideias foram clariando, resolvi ir até São José de Mipibu, no antigo engenho de meu avô, engenho Boa Vista.

Chegando em São José, fui até o Mercado Público, onde vejo alguns amigos de infância. Foi aquela alegria, um pouco de papo sobre o presente, um pouco de papo sobre o passado. Perguntei por uma moça que tive um namorico, e se a rapaziada ainda ia para a Praça a noite namorar. Me falaram que não, hoje a moda é passeio de motocicleta, não se monta mais nos cavalos, e estes animais são raros na cidade. Me despeço dos amigos e vou até a fazenda, deixou de ser engenho.

Chegando lá, desço do carro, buzino para ver se vem alguém, silêncio total. Abro a porteira, entro, e me dirijo até a pequena igreja que fica logo na entrada da propriedade. Está fechada, vizinho, separada apenas por um jardim ficava a casa com varandas, que no final da vida, vovó sentado em uma cadeira de balanço, comandava toda fazenda, que não era ou é pequena.

Sentei em um pedaço da antiga calçada, peguei algumas pedrinhas e comecei a jogar, veio as lembranças. Do meu lado esquerdo, ficava o velho barracão, que servia aos empregados do engenho, fornecendo alimentos e materiais de limpeza, um pouco de aguardente. Na minha frente, o pátio de bagaço de cana, que a gente chamava de bagaceira, onde ficava empilhado ao ar livre, o bagaço de cana, um pouco a direita o curral onde todas ás manhãs íamos tomar leite cru, saído direto do peito da vaca. Em frente as varandas, ficava o armazém de açúcar preto, açúcar bruto, não refinado, e a direita ficava o velho engenho de aguardente. Um pouco por trás uma porteira que servia de passagem para o gado, os carros de boi carregados de cana, com o carreiro gritando e batendo no boi. O carro de boi tinha um gemido triste, talvez ampliando o cansaço e a dor do boi.

Resolvi andar um pouco na propriedade. Quando ia saindo, chega o senhor bem parecido, e se apresenta como o administrador da propriedade, ‘ que educadamente fala comigo e eu explico, que a fazenda tinha pertencido a meu avô, então ele me franquiou a visita.

Andei e fui até os Rios Trairi e Araraí,  onde costumava ir com os primos, alguns ainda vivos, outros já não estão mais aqui.

Olhei um pouco e verifiquei que naquele local nada mudou ou quase nada mudou.

Volta cair uma chuva fina, resolvo voltar, o caminho da volta parece ser mais longo. Aquelas lembranças estão muito vivas em mim.

 

 

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

As opiniões emitidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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