Jean-Paul Prates
O Grupo LATAM (Lan Chile e TAM) é a 12a maior companhia aérea do mundo, tanto em passageiros quanto em carga aérea e está escolhendo entre Fortaleza, Natal e Recife onde instalar a sua base de operações – o decantado “hub”.
À primeira vista, tanto pelo peso político quanto diante da situação caótica que nos deixaram quanto ao acesso ao Aeroporto, temos tudo para ser os azarões desta disputa. Também na questão da infraestrutura de hospedagem próxima ao Aeroporto, há tudo por fazer. Em geral, no que concerne conforto, rapidez e segurança para acesso e uso do Aeroporto por parte dos clientes e funcionários, perderíamos.
Mas nossos pontos fortes são realmente fortes: aeroporto novo e privatizado (a TAM tem trauma da Infraero e se dá muito bem com a Inframerica numa parceria bem sucedida em Brasília); turismo local bem desenvolvido com maior número de leitos do que as cidades concorrentes e alto PIB per capita alto.
Há, no entanto, um último fator decisivo que pode desequilibrar a disputa a nosso favor, pois é relevantíssimo para operações aéreas em qualquer lugar do mundo. Trata-se da disponibilidade e preço do querosene de aviação ou “QAV“, o combustível dos jatos.
É aí que entra a Refinaria Potiguar Clara Camarão (RPCC), localizada em Guamaré e inaugurada por Lula em 2009. À época desprezada (quase ridicularizada por alguns), ei-la agora cantada em prosa e verso como salvação para o hub da TAM. É a “refinaria-Cinderela”.
O QAV é um combustível internacional, precificado em dólar do dia. A Petrobras entrega o QAV lá em Guamaré na porta da refinaria. Dali, a distribuidora leva ao posto revendedor no aeroporto. Como há substituição tributária nos combustíveis, a isenção dada pelo Governo do Estado beneficia não só a Petrobras, como também a distribuidora e o posto revendedor (que é quem de fato fatura às companhias aéreas).
O QAV de Fortaleza e de Recife vem de fora (por caminhão ou por cabotagem), seja saindo da Refinaria daqui, seja de outras (quando a Clara Camarão não atende toda a demanda). Às vezes é até importado. Lá, a Petrobras também entrega no terminal como se fosse na porta da refinaria. Só que o preço é acrescido do frete até chegar ao Ponto A de lá.
Por esta razão, o preço (porta de refinaria) do QAV aqui no RN hoje já é praticado 7 centavos abaixo de Fortaleza, por exemplo.
E a tendência é melhorar isso com mais escala de produção. A produção de QAV na RPCC vai ser AMPLIADA no próximo mês de dezembro, dos atuais 12 mil m3/mês para o DOBRO: 24mil m3/mês. Um investimento de cerca de 30 milhões de reais que já está em curso – gerando 700 empregos na refinaria e outros 2000 empregos em Guamaré e entorno.
Isso faz parte do trabalho discreto mas consistente da equipe da nossa Refinaria Clara Camarão para elevar a capacidade total da nossa refinaria para 60mil barris/dia até o ano que vem. Seremos então capazes de processar TODO o petróleo produzido no Estado, ultrapassando a Refinaria de Manaus e a Refinaria de Capuava (SP).
A RPCC é uma refinaria que, por força da proximidade com a RNEST (SUAPE) resolveu se especializar em gasolina e QAV, já que a refinaria de Pernambuco está configurada para produzir diesel e gás de botijão. Hoje, o Aeroporto de Natal demanda cerca de 6mil m3/mês de QAV (na alta, pode chegar a 8 mil). Caso o hub da TAM venha para cá, com este tremendo atrativo de preço, a estimativa é que as vendas saltem para 12mil m3/mês (na alta estação, podendo chegar a 15mil).
Considerando uma tancagem de aeronave de 20mil litros, é como se a refinaria da Petrobras em Guamaré estivesse propiciando 1400 reais de diferença no combustível para cada aeronave que abasteça aqui. E do melhor QAV do Brasil, porque segundo a nossa refinaria, a especificação deles está acima dos padrões exigidos internacionalmente e pela ANP, para não correr riscos.
Portanto, não há de ser pelo preço do combustível, ao menos o da porta da refinaria, que o Hub não virá para Natal. Resta trabalhar muito bem os demais atributos – principalmente ser convincente quanto aos acessos e infraestrutura hoteleira vizinha.
No mais, graças à refinaria que muitos desprezaram e chamavam de mini-refinaria, “me-engana-que-eu-gosto” e outros apelidos criativos, saímos da condição de azarões para ficar em condições de igualdade e vantagem sobre nossas capitais adversárias.
Jean-Paul Prates – Consultor em Energia, Diretor-Presidente do CERNE.org.br
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