A proposta de reforma administrativa, encaminhada pelo governo nesta quinta-feira (3) ao Congresso, propõe acabar com a estabilidade para parte dos futuros servidores públicos. Pelo texto, permaneceriam estáveis os servidores de carreiras típicas de Estado (que só existem na administração pública). Uma lei a ser enviada posteriormente listará quais serão essas carreiras.
A proposta do governo vale para futuros servidores dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário da União, estados e municípios. O texto, enviado em formato de proposta de emenda à Constituição (PEC), ainda precisa ser aprovado pela Câmara e pelo Senado.
Atualmente, a regra geral é que todo servidor público é estável no cargo. Ou seja, só pode ser demitido se for condenado sem mais possibilidade de recurso na Justiça ou se cometer infração disciplinar.
“Desde 1988, são estáveis todos servidores públicos, não interessa natureza da sua função. Tem funções mais estratégicas até as mais operacionais. Isso não faz sentido em lugar nenhum do mundo. A estabilidade existe em várias democracias, mas cumpre o propósito de manter o corpo de funcionários que mantém atividade de Estado. Não atividades de apoio, acessórias”, afirmou durante uma entrevista coletiva o secretário-adjunto de Desburocratização do Ministério da Economia, Gleisson Rubin
A proposta do governo prevê o fim do chamado “Regime Jurídico Único”, que estabelece estabilidade dos servidores. Com as mudanças, irão coexistir diferentes de regras de estabilidade para servidores públicos, a depender da atividade exercida.
No ano passado, o governo já havia antecipado ao Portal G1 que avaliava flexibilizar as regras de estabilidade de novos servidores públicos por meio da contratação de celetistas e de funcionários temporários via concurso.
A proposta de flexibilizar as regras para estabilidade no serviço público acontece em um contexto no qual boa parte dos servidores vai se aposentar nos próximos anos. Em 2017, o então Ministério do Planejamento estimou que quase 40% dos servidores se aposentariam até 2027.
No ano passado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, falou que 50% do funcionalismo se aposentaria em até 5 anos, o que ele avaliou na ocasião ser “grande notícia”. E emendou dizendo que iria “travar” os concursos públicos -, que, de fato ainda não aconteceram na gestão Bolsonaro.
Depois de aprovada a PEC, porém, ainda há outros projetos de lei que também precisam ser aprovados para que as todas as regras entrem em vigor. Estão previstos projetos de lei para “gestão de desempenho”, para “consolidação de cargos, funções e gratificações”, para “diretrizes de carreiras”, para ” modernização das formas de trabalho”, para “arranjos institucionais” e para “ajustes no Estatuto do Servidor”.
Atualmente, os servidores públicos estatutários da administração direta, de autarquias ou de fundações públicas têm direito à estabilidade após três anos de efetivo exercício, desde que aprovados em avaliação especial de desempenho.
Isso vale para todos os poderes da União, de estados, do Distrito Federal e dos municípios.
Quem faz concurso para empresas públicas e sociedades de economia mista é chamado de empregado público e está submetido ao regime jurídico estabelecido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Os gastos com servidores são obrigatórios, ou seja, o governo só pode reduzí-los por meio de alterações nas leis. Com as regras atuais, de acordo com as projeções contidas na proposta de orçamento de 2021, os gastos com funcionalismo público, englobando as aposentadorias, somariam:
Estudo do Instituto Millenium, divulgado neste mês, mostra que o Brasil gastou 13,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019, cerca de R$ 930 bilhões, com servidores públicos federais, estaduais a municipais. De acordo com o documento, o gasto do país com servidores é o dobro das despesas com educação e 3,5 vezes as despesas com saúde (3,9% do PIB).
Depois de fazer a reforma da Previdência no ano passado, a equipe econômica tem defendido ajuste nos gastos com servidores para abrir espaço para outras despesas no teto de gastos – mecanismo que autoriza o aumento de despesas somente com base na inflação do ano anterior.
Na proposta de orçamento do próximo ano, enviada ao Congresso Nacional no começo desta semana, cerca de 94% das despesas totais são obrigatórias e, com a regra do teto, sobrariam poucos recursos para os gastos “livres”, chamados de “discricionários”, o que, segundo analistas, poderia comprometer o funcionamento de alguns serviços públicos em 2021.
Também nesta semana, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que seria importante pegar recursos “do andar de cima” para repassar aos mais pobres, neste caso, para formar o Renda Brasil, que substituiria outros programa sociais como o Bolsa Família.
Na ocasião, ele não deu detalhes específicos sobre como retirar recursos do “andar de cima” , mas citou a discussão sobre “super salários” no funcionalismo público. Uma das propostas do governo, já enviada ao Congresso Nacional, é reduzir jornada e salário de servidores públicos para abrir espaço no teto de gastos.
Fonte: G1
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