Diógenes da Cunha Lima

Nesta Cidade dos Reis, quase ou todos somos súditos. Em O Pequeno Príncipe, há um rei, que não tolera indisciplina, e é tão poderoso que até as estrelas lhe obedecem.  Mora no asteroide 325, tão pequeno que o manto real cobre o planeta quase inteiramente.

As vestes cerimoniais exteriorizam a função. Como convém, esse rei se veste de púrpura e arminho. A púrpura tem prestígio de ser reservada à indumentária de sumos sacerdotes, reis e príncipes. O arminho representa a pureza, a inocência e é também um símbolo real. Sobre o longo manto branco, pousam estrelas douradas.

Não tem apenas nome de casa real e a nobreza de palavra e de atitudes Antoine Jean Baptiste Marie Roger Foscolombe de Saint Exupéry. Ele é herdeiro do título nobiliárquico de conde, viveu a infância no castelo, de estilo Luís XVI, pertencente à família em Saint-Maurice-de-Rémens. Sua tia, a castelã, tinha ideais monárquicos e era leitora do jornal La Nouvelliste, também de tendência monarquista. O castelo era adequado à aristocracia com grandes parques, gramados, altas árvores em plantação simétrica. A capela é ornada com a flor-de-lis, emblema da realeza na França. Em Piloto de Guerra, o autor mostra a influência dos primeiros anos: “Eu pertenço à minha infância como a um país.” Menino, graças ao seu cabelo louro-dourado, ganha o apelido de “Rei Sol”.  Para completar, eram frequentes as visitas à avó materna no Castelo de La Môle.

Em Um Sentido para a Vida, Saint-Exupéry, na Rússia, volta a se sentir com honras reais perante onze velhinhas francesas: “Sou qualquer coisa como o príncipe encantado, bêbado de glória e de vodca”.

O velho rei da aquarela de O Pequeno Príncipe é solitário, quase cego, gago e cansado. Entretanto, explica o seu poder com absoluta lucidez: “Autoridade se baseia na razão”. E ainda erige em princípio um ideal comunista: “É preciso exigir de cada um o que pode dar”.

As ordens do rei seriam sempre razoáveis. Assim, não poderia ordenar que um general se transformasse em gaivota ou que voe de flor em flor como se fosse uma borboleta. Se o rei dormisse um pouco mais, poderia dizer, como no aforismo de Lichtenberg, que hoje permitiu ao sol que se levantasse mais cedo do que o rei.

O Pequeno Príncipe nem mesmo quis exercer a função de ministro da Justiça para não julgar a si mesmo. Nem a um velho rato a quem deveria perdoar a cada condenação. Mesmo assim, foi designado embaixador para exercer o comando real em outros seis planetas, no espaço sideral.

Diógenes da Cunha Lima, é Escritor, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

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