Adauto José de Carvalho Filho
Parece que o Congresso do Partido dos trabalhadores, que aconteceu já algumas semanas atrás, deu o que falar. Uma “troupe” disposta a tudo e acuada pelo triste desfecho da própria história, começou o jogo da dissimulação.
O primeiro ato foi a ovação de Vacari, presidente do Partido, preso por envolvimento no escabroso escândalo do petróleo. Menos por ser presidente, mais por ter sido preso e a ovação de um punhado de companheiros representa, na visão apenumbrada dos fundamentalistas do partido, a uma demonstração de absolvição.
O segundo ato, com o ator principal, misto de Macunaíma e Chapolin, Luis Inácio lula da Silva, o ex-presidente que se acha eterno e para aparecer topa qualquer parada. Aliás, não precisa de muito esforço. Dizer abrobrinhas sempre foi o seu forte. Só que dessa vez, como em tantas outras, esqueceu a liderança de um partido representante dos trabalhadores (assim se acham) e fez galhofa com a demissão de jornalistas em diversos meios de comunicação e contabilizou como uma forma de amordaçamento e esqueceu que, pela crise que assola o país e que o PT nunca teve vocação para combater, as maiores empresas estão dando férias coletivas aos seus operários pela brutal retração do consumo.
No Brasil até o trabalhismo e passional. Comemora-se a demissão de alguns trabalhadores e se faz vista grossa para a ameaça a milhares que estão com o emprego com os dias contados, ou será que a realidade é devaneio de grandeza do ex-presidente?
No terceiro ato, a presidente Dilma, atriz coadjuvante, com a sua oratória carretel, ensaiou a utilização da crise, que não se pode mais esconder, como instrumento para por lenha na fogueiras dos companheiros e esqueceu que a atual crise é a mais cruel herança dos governos petistas.
O quarto ato foi protagonizado por Rui Falcão que, sem discurso, defendeu a recriação da CPMF, um imposto altamente progressivo, que atinge toda a cadeia produtiva, como fundamental para se enfrentar a crise e esqueceu, também, que o PT, enquanto arauto da moralidade e da eficiência (e lá se vão anos), considerava a criação do tributo que agora defende, como algo demoníaco para a sociedade. A posição do PT em buscar dinheiro a qualquer custo mostra a mediocridade do poder estabelecido no Brasil e seus atores canastrões. A seguir republico alguns trechos de um artigo que escrevi há dois anos:
“A insistência e a persistência do governo em criar mais um tributo em substituição à famigerada CPMF, que, num exercício de contorcionismo burocrático, receberá uma sigla palatável aos ouvidos dos cidadãos brasileiros, vítima preferencial da autofagia governamental, me fez repensar o passado e encontrar no pensamento do grande jornalista brasileiro Paulo Francis, em sua verve mais crítica, uma citação bem a caráter: “como o governo não presta serviço público, no Brasil qualquer imposto é doação”. Reconheço o radicalismo da expressão, mas, se refletida à luz dos parcos e porcos serviços públicos prestados a sociedade, o velho jornalista se reveste de razão.
Os poderes constituídos brasileiros, uma trinca, com conotação proposital, pensam contrariamente à lógica nacional. Insistem e persistem na recriação de um tributo que já se mostrou ultrapassado e deixam de discutir a institucionalização de um outro já existente desde 1988, na remendada Constituição Federal Brasileira, que traz no nome a essência de uma base racional para a existência de mais um tributo: o imposto sobre as grandes fortunas.
Imposto sobre Grandes Fortunas? Sim. Tal e qual.
Por que não foi instituído ainda? É um dos grandes segredos do Estado Brasileiro. Vamos esperar as próximas eleições, depois as seguintes e quem sabe os candidatos, no pleno exercício do dom de iludir, ofereçam uma justificativa, explicação ou qualquer coisa que nos ajude a continuarmos iludidos.
É a roda da enganação política começando a girar.
Ou o PT mentiu no passado ou está mentindo agora. Particularmente acho que mentiu sempre. A crise está instalada e tem o carimbo do PT. Todos os números do sistema econômico são indicadores de uma bancarrota, aliás comum aos governos populistas que se instalaram na América do Sul.”
Agora pasmem. O PT quer a recriação da CPMF e o ministro da Fazenda não se entusiasmou com a ideia. Ai a porca torceu o rabo. Petistas e tucanos mudaram de posição em benefício de seus interesses imediatos. O poder público brasileiro vive uma crise de seriedade e sem chance de superação pela ausência de governantes sérios.
Se fosse possível se acreditar nas intenções governamentais, tudo o mais seria possível. Mas quem acusou o capital de responsável pelas mazelas do Brasil e fez disso uma bandeira ideológica, não tem crédito para buscar no capital a solução para as suas próprias crises. O papel de vidraça não é fácil de ser exercido e a mentira tem pernas curtas.
Cansou.
Mas os atores e coadjuvantes da mediocridade continuam a falar para si. E pior. Acreditam do que dizem. É mole?
Adauto José de Carvalho Filho, AFRFB aposentado, Pedagogo, Contador, Bacharel em Direito, escritor e Poeta