RESGATE DA MEMÓRIA POTIGUAR –
A condição de escrevinhador livre e despretensioso, um tanto quanto divorciado do “establishment” literário ortodoxo e formal, proporciona-me a rara oportunidade de elogiar ou criticar quem mereça, sem camisa de força ou com segundas intenções, sobretudo nas páginas democráticas e independentes deste jornal.
Nesse contexto, apercebi-me da importantíssima obra “RN – OS NOTÁVEIS DOS 500 ANOS”, fecundada e criada pela pena ágil, sensível e inteligente do sempre mestre Jurandir Navarro, esse misto de lorde inglês, cardeal católico e príncipe das letras. Jurandir – pela sua indiscutível capacidade e notória simplicidade – merece realce e destaque especiais de notável entre os notáveis por ele elencados.
O livro, além de denso em volume e qualidade, retrata, com esmero e sapiência, os grandes vultos históricos que ilustraram e ainda ornam as paisagens culturais potiguares.
O trabalho, de grande fôlego e raro senso de justiça, esmiúça os feitos, os atos e as obras de filhos da terra que se destacaram, nos vastos campos da cultura, da política, da literatura e até da santidade.
São dissecados traços marcantes da personalidade, do gênio criador e da vida pessoal de figuras inexcedíveis nas suas áreas de atuação, como Câmara Cascudo, Cardeal Eugênio Sales, Aldo Parisot, Oscar Schmidt, Felipe Camarão, Seabra Fagundes, Pedro Velho, Café Filho, José Augusto, Aluízio Alves, Djalma Marinho, Dinarte Mariz, Nilo Pereira, Amaro Cavalcanti, Noilde Ramalho, Dorian Gray, Nilton Navarro, José Mauro de Vasconcelos, Nísia Floresta e tantas outras jóias preciosas e paradigmáticas norteriograndenses.
“Os notáveis”, é obra para ler-se e refletir-se, particularmente por quem busca cultura, conhecimento histórico e ufanismo pela grandiosidade das estrelas da constelação do Estado. È, por isso, leitura obrigatória nas escolas de 1° e 2º graus, nos cursos de ciências humanas das universidades e, por quem, de algum modo, quer se atualizar com a nossa realidade histórica.
O trabalho é valioso e útil sob todos os aspectos, especialmente por fazer justiça a figuras proeminentes que contribuíram para elevar o nome do Estado, e, conquanto reconhecidos nacional e até internacionalmente, poucas vezes, são enaltecidos no nível dos seus feitos e valores pessoais.
Nesse resgate da ilustre memória potiguar, Jurandir, como é da sua formação ética e do seu caráter, demonstra mais uma vez que grande homem é aquele que se esquece de si mesmo para realçar os valores alheios, cujas biografias servirão de norte e luz aos jovens aspirantes ao sucesso e aos que simplesmente precisam sair das trevas da ignorância e da ingratidão da indiferença à história dos luminares da aldeia.
Com a sua argúcia, abnegação e seriedade de pesquisador incansável dos fatos históricos e de seus personagens, o autor nos leva, com seu estilo leve e agradável, a conhecer, em profundidade e abrangência, fatos e personagens marcantes das searas literária, política, científica, cultural, artística e religiosa da historiografia potiguar.
O memorialista, com a sua notória cultura e percuciência histórica, brinda os estudiosos e cultores das belas páginas épicas da terra de Câmara Cascudo com sutilezas, detalhes, entrelinhas dignas de enciclopedistas internacionais. Fato como este o torna merecedor dos melhores encômios, aplausos e admiração, deixando-me a convicção de que neste país de propalada memória curta, ainda há quem, pelo seu labor intelectual, preserve e cultue a biografia daqueles que, graças ao seu trabalho, cultura, inteligência e exemplo de vida, se eternizaram, sem nenhum favor, perante a posteridade.
Afinal, da tranquilidade professoral do autor, transmuda-se o livro em aula magna perfeita, com quadro de giz, rumo certo, formulações e conteúdo, aliados ao prefácio iluminado de Odúlio Botelho, uma das figuras ilustres e emblemáticas do mundo jurídico e das letras do Estado.
Adalberto Targino – Advogado, Professor e membro Catedrático da Academia Brasileira de Ciências Morais e Políticas