RESPEITEM OS ÁRABES –

Fazer generalizações negativas, infelizmente, é da condição humana. Dessa forma, pequena proporção do povo árabe pratica enlouquecidas ações terroristas e, logo, transforma-se a parte no todo. Daí, nascem preconceitos contra a gente islâmica.

Nunca lembramos que todos, o mundo ocidental, somos devedores da cultura e da civilização árabe. Esses desprezos atingem também o Oriente, sobretudo por razões religiosas. A Índia, com um bilhão e trezentos milhões de habitantes, tem um sexto da sua população (de muçulmanos) descriminada.

Em verdade, a cultura, a língua e o saber humano emigram.

Vivendo num deserto, o grupo étnico e linguístico que habitava o Oriente Médio, norte da África, produziu o império islâmico que dominou regiões da Ásia. Os árabes assimilaram saberes das regiões conquistadas, como também do passado grego-romano, criando novos conhecimentos.

Em plena Idade Média, os árabes inovaram e disseminaram a ciência. A medicina universalizou-se com o médico e polímata Averróis em Córdoba e Avicena, médico e filósofo, na Pérsia. Vale lembrar que Al-Zahravi apresentou, em tratado, a primeira cesariana. Já em 872, começou a funcionar o hospital de atendimento gratuito.

Foi esse povo que, além da numeração arábica, criou o algarismo “0” (zero), imprescindível à computação de nossa era. A ele se deve o superior valor da matemática (álgebra e trigonometria), geografia, astronomia, física e química.

Convencionou-se dizer que a Universidade de Bolonha, Itália, seria a primeira universidade (1088). Na verdade, as três primeiras universidades do mundo foram criação dos árabes. Assim, a Universidade de Tunes – Eze-Zitouna – 737. Outra universidade, a de Fez, tem a singularidade de ter sido idealizada e formada por uma mulher (859). Em 988, foi fundada a do Cairo – Alazar – de caráter eminentemente teológico. Todas eram pluridisciplinares em ciências e artes. Naturalmente religiosas, elas foram posteriores ao profeta Maomé (662).

De fato, essas comunidades acadêmicas seguiam o islamismo, ou seja, a submissão a Deus.

A influência arábica permanece notável em Portugal e Espanha. Por cerca de sete séculos, foram gerados práticas, usos, costumes, estilos, inventos. Da Península Ibérica difundiu-se à Europa a arquitetura, notadamente na decoração caligráfica, arabescos, motivos de plantas, desenhos geométricos.

O Brasil é um grande devedor do mundo árabe. O descobrimento português só se tornou possível graças à bússola, que marca o norte e o astrolábio, que fixa a distância do Equador. Dois instrumentos de origem asiática que vieram “emigrados” pelos árabes. Deles, são originários produtos de nossa exportação: o café, açúcar e álcool, o algodão e a laranja. E são de nossa mesa a alface e o limão.

Todavia, a maior contribuição, material e imaterial, veio com imigrantes árabes, de seus descendentes, valorizadores da civilização brasileira.

 

Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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