RESQUÍCIOS DA II GUERRA –
Lamentável acompanhar o desenrolar da guerra Rússia versus Ucrânia, assistindo edifícios desmoronarem ante os impactos precisos das bombas de Putin sobre Kiev, importante cidade da antiga República Socialista Soviética e hoje capital da Ucrânia. A cidade é história pura. Abriga vários museus dentre os quais o das vítimas do Holocausto, bombardeado, e diferentes templos religiosos onde se sobressai a belíssima catedral de Santa Sofia com suas cúpulas verde-escuras de mil anos de existência.
Mas deixemos de lado a peleja insana provocada pela Rússia, e vamos aos resquícios da II Guerra Mundial que tento aqui abordar. Em agosto de 2021, foram localizados no litoral do Ceará e demais estados do Nordeste, fardos misteriosos trazidos pelas marés que encalharam em variadas praias da região. Os blocos maciços de borracha, pesando em média 80 quilos, provinham do Sudoeste Asiático para serem utilizados na confecção de pneus, uniformes e equipamentos bélicos na Alemanha.
Oceanógrafos do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará, rastreando a origem do material descobriram ser oriundo de carga do navio “SS Rio Grande” – nome brasileiro utilizado em cargueiro alemão como disfarce para os inimigos de guerra. Isso mesmo, a embarcação foi afundada na costa do Nordeste brasileiro, abatida por forças aéreas dos Estados Unidos.
Estima-se o naufrágio entre 1º e 4 de janeiro de 1944, em plena II Guerra Mundial, quando do transporte da carga para a Alemanha. Somente 50 anos depois, em 1966, o navio foi descoberto distante mil quilômetros da costa. A corrosão natural do casco permitiu que os fardos se desprendessem e viessem pelas correntes marítimas até o nosso litoral.
Nesse último Carnaval que não existiu, eu me isolei na Praia de Cotovelo, no Litoral Sul do estado, sem ouvir nenhuma marcha carnavalesca nem ver nenhum “papangu” à beira mar. Não imaginei que fosse possível presenciar tal efeito deletério da pandemia na animação de foliões e “papudinhos” de plantão, onde antes cordões carnavalescos desfilavam pela praia. Calmaria plena em “mar de Almirante”.
Os resquícios da II Guerra, eu os encontrei na forma de dois dos fardos acima citados, postados na escada da casa onde me aninhei, trazidos pelas ondas que somente Deus sabe de onde. Animei-me a guardar um deles como recordação daquele conflito que não vivenciei, mas que assisto algo semelhante se consolidando no sudeste da Europa. Porém, o peso era demasiado para a minha estrutura física minguada.
Mesmo assim, registrei o fato como um alerta para que não esqueçamos o que a fome de poder produz quando domina o consciente do homo sapiens – homem sábio -, na verdade o mais irracional dentre os seres vivos que habitam o nosso planeta.
Que o sofrimento dos ucranianos, retratado ao vivo e em cores a todo instante pelos meios de comunicação, sirva de exemplo para nós brasileiros a fim de que repudiemos quaisquer tentativas de subornar a paz que desfrutamos e preservamos, e pretendemos deixar como um legado de vida ideal para nossos filhos e netos.
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro Civil