REVISITANDO O VELHO CHICO – Alberto Rostand Lanverly

 

REVISITANDO O VELHO CHICO –

É curioso como as belezas mais próximas de nós, costumam passar despercebidas e por serem acessíveis, chegam a se tornar invisíveis aos nossos olhos.

Recentemente retornei a navegar no baixo São Francisco, revisitando terras onde ancestrais de minha esposa, fincaram raízes e emprestaram suor para fortalecer sua fertilidade, dali retirando o sustento familiar, e também permitindo-me ser conduzido por um gigante que carrega em suas curvas e correntezas, histórias de um Brasil profundo.

Tudo começa no atracadouro das fazendas “Mu Silva” e “Paraíso”, onde o curso d’água oferece convite ao deslumbre, com margens que parecem bordadas pela natureza, o silêncio se mistura ao murmúrio das corredeiras, e a vegetação abraça o rio como se quisesse protegê-lo.

Quando surge no horizonte o povoado Potengi, com casinhas delicadas e coloridas, projetando suas imagens nas águas, como se fossem sorrisos voltados ao céu, o encantamento atinge o coração, enquanto ao fundo o toque esverdeado dos coqueirais, completa a pintura, conferindo ao cenário a serenidade proporcionada pela criatividade de Deus.

A cada remanso, o Velho Chico revela segredos que só ele guarda, numa sinfonia de reflexos, até pousar os olhos na “Ilha da Negra”, onde a harmonia entre o homem e a natureza ganha forma, criando sombras que dançam na superfície e conferem ao cenário mistério irresistível., a medida que a correnteza exibe sua força mansa, serpenteando com graça por entre histórias e lendas guardadas em cada detalhe.

Com o avanço da embarcação, surgem as dunas do Peba, como guardiãs de nova paisagem, moldadas pelo vento e banhadas pela luz do sol, anunciando a chegada ao Atlântico. Ali, as águas doces do Velho Chico conectam com beijos salgados do oceano, num enlace que mistura destinos, sabores e eternidades.

Esse percurso é mais que uma jornada geográfica; é um encontro com a essência familiar, onde o rio e seus canais, fazendas, coqueirais, povoados e o oceano se unem para resgatar narrativas que pulsam em cada gota doce ou salgada, grão de areia, e na brisa que sopra.

Essas belezas, tão nossas, ensinam que nem sempre precisamos buscar o deslumbramento distante. Basta uma pausa, para contemplar e perceber que a vida nos presenteia com pequenos milagres todos os dias.

 

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
Ponto de Vista

Recent Posts

COTAÇÕES DO DIA

DÓLAR COMERCIAL: R$ 6,0290 DÓLAR TURISMO: R$ 6,2680 EURO: R$ 6,2140 LIBRA: R$ 7,3730 PESO…

7 horas ago

Australian Open: João Fonseca perde para Sonego em batalha de quase 4h

Nem sempre é tão simples. E, por vezes, vem a queda. Na madrugada desta quinta-feira…

7 horas ago

Atividade econômica cresceu 0,1% em novembro de 2024, diz BC

A economia brasileira cresceu 0,1% no mês de novembro, na comparação com outubro, informou hoje…

7 horas ago

Doze motos são apreendidas em operação contra escapamentos barulhentos em Natal

O Comando de Policiamento Rodoviário Estadual (CPRE) apreendeu 12 motos que estavam com escapamentos adulterados…

8 horas ago

Mega da Virada: ganhador do DF ainda não sacou prêmio de R$ 2 milhões

Um dos dois sortudos do Distrito Federal que acertou as seis dezenas da Mega da Virada ainda…

8 horas ago

América-RN vê Globo FC perder pênalti e vence com virada no fim

O América-RN venceu o Globo FC por 2 a 1, de virada, e manteve os…

8 horas ago

This website uses cookies.