REVOLUÇÕES –
Nos meus oitenta e nove anos, já presenciei uma ruma de confusões neste nosso país. Olho em redor, e mais atrapalhados de que nós só outros países da América Latina e, fora de série, os países do Oriente Médio. Estes, campeões mundiais em anarquia.
Nasci em 1930, em maio. Meses depois ocorreu a primeira confusão, ou revolução, como queiram, liderada por Getúlio Vargas, com o argumento de que necessitávamos de uma constituição e um governo sério. Em outubro daquele ano, assumiu o poder e não largou mais até 1945, quando saiu forçado pelo resultado da II Guerra Mundial.
Nesse intervalo, entre 1930 e 1945, tivemos várias confusões. A de 1932 que, quando estudei História do Brasil ainda durante o governo getulista, fui ensinado como sendo uma revolta de São Paulo querendo separar-se do Brasil. Só depois de 1945 é que soube a verdade: uma tentativa de São Paulo de derrubar Getúlio e trazer de volta ao país um regime democrático. Desta, aprendi nos livros.
Mas as demais, me lembro como se fosse hoje. A primeira delas, a Intentona Comunista de 1935, lembro perfeitamente. Tinha cinco anos. Começou num sábado à noite. Estávamos na casa de meu tio-avô, Padre Calazans Pinheiro. Morava na Vigário Bartolomeu, pertinho da Ulisses Caldas. Ouvimos o tiroteio e meu pai foi à rua saber o que se passava. Voltou quase de imediato, e disse que o 29º BC havia se revoltado e estavam nas ruas, armados e lutando com a Polícia Militar, que procurava manter a ordem.
Éramos eu, meu pai, minha mãe e minha irmã. Em casa, tinham ficado os menores. Morávamos na Felipe Camarão, perto do Colégio da Conceição. Meu pai decidiu ir para casa, e fomos andando debaixo do tiroteio. Fui com um medo danado. Chegamos em paz e dormimos debaixo das camas. No dia seguinte, meu pai falou com o seu amigo Antônio Correia, português, gerente da firma Vva. Machado, que o convidou para irmos para a casa dele. Morava na Ladeira do Sol. Lá ficamos os cinco dias que durou o que os comunistas chamavam “revolução libertadora”. Roubaram, entre outras coisas, o Banco do Brasil. E assassinaram algumas pessoas sem nenhuma razão, como Alberto Lyra, amigo de meu tio Protásio, que não tinha trinta anos ainda. O deixaram sangrando com uma baionetada no estomago, trancado num banheiro de uma casa que tinha na Redinha. Esse movimento foi mais forte aqui e no Rio. O governo ameaçou bombardear a cidade e me lembro dos aviões sobrevoando a Praia do Meio. Fugiram, e tiveram um encontro que não lhes foi agradável, com Dinarte Mariz.
Depois dessa intentona fracassada, com Getúlio já considerado ditador, tivemos a confirmação dessa ditadura com o Estado Novo em 1937. Nova Constituição, da lavra de Francisco Campos, era quase uma cópia da de Mussolini. Claro, muitos não concordaram e a oposição continuou. Em 1938, os Integralistas, liderados por Plínio Salgado, atacaram o Catete, com a intenção de assumir o poder. Foram rechaçados pela Guarda do palácio, que teve o apoio do Exército.
Como já mencionado, a vitória dos Aliados em 1945 forçou a saída de Getúlio. O novo governo, provisório, com Nereu Ramos como presidente, elegeu os deputados que escreveram a Constituição de 1946 e fez uma eleição que levou Dutra à Presidência.
Esse sistema durou até 1964, quando os desmandos de políticos irresponsáveis forçaram as Forças Armadas, sob a liderança do Exército, e sob forte pressão popular, a assumir o controle do país, que caminhava para um completo desastre.
Continuarei depois com outros acontecimentos políticos que marcaram minha vida.
Dalton Mello de Andrade – Escritor, ex-secretário da Educação do RN
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