RIBEIRA, UM ELDORADO ADORMECIDO –
“Natal, teu nome é uma canção de berço, que desde menino amar aprendi. (Ascenço Ferreira, 1895 – 1965)”
Câmara Cascudo em sua magnífica “História da Cidade do Natal”, já dizia que a capital potiguar era uma perspectiva indefinida em razão de sua geografia peculiar e de sua limitada expansão urbana. De fato, tentando compreender os aspectos geomorfológicos da cidade e de seu adensamento populacional, vemos hoje, com singular preocupação, os destinos da nossa tão decantada terra e sua invulgar qualidade de vida, o seu ar e as suas belezas naturais.
Cascudo escreveu esta obra pelos idos dos anos de 1946, quando a cidade ainda era uma jovem noiva desnudando sua beleza pudica sob o enxoval encantador de seus adornos naturais. Àquele tempo, o “Provinciano Incurável” já demonstrava uma compreensão urbanística de quem olhava a cidade com seus olhos de futuro. E delimitava sua visão cosmopolita vaticinando: “Natal é uma cidade sem problemas. O que chamamos, com suficiência e pedantismo, problemas, são apenas soluções sabidas e retardadas pela falta de finanças ou de vontades positivas. Os problemas surgirão, vertiginosos e horrendos, quando o Alecrim deixar de ser uma esperança para bairro residencial e enriquecer intermediários e donos de lotes. Será um capítulo sinistro registrar o desaparecimento útil da terra para uso financeiro de uma classe melancolicamente míope além das fronteiras dos escritórios”.
Há muito, o Alecrim deixou de ser uma esperança para fixação residencial. Os problemas surgiram. A cidade parou de crescer. Seja, para leste, norte e oeste, ante as limitações impostas pela orla dos morros, pelo oceano atlântico e pelos municípios de Extremoz, São Gonçalo e Macaíba, seja para o sul onde Parnamirim lhe obstruiu o crescimento. E de forma sutil, considerável parcela dos habitantes da capital potiguar começou a deixar a cidade para se fixar no entorno, nos municípios da região metropolitana em busca de melhor qualidade de vida. Desde então, Natal, ao invés de organizar a ocupação de seu solo, de forma moderna e sustentável, passa a se ruralizar através das excessivas e equivocadas restrições de uso de seu espaço urbano. A cidade toma ares de uma grande fazenda, perdendo habitantes e receita tributária.
É preciso repensar urgentemente Natal. A cidade precisa recuperar sua capacidade de investimento público para que os natalenses resgatem a sua autoestima. Natal tem solução. Se não podemos ter um parque industrial, porque não termos um parque tecnológico? A Ribeira é hoje o nosso eldorado adormecido. Ali, o passado e o futuro aguardam intervenções urbanas que permitam o convívio belo e harmônico do antigo com o moderno; da cidade redescobrindo o rio e o rio, o encanto da cidade para se tornar seu canto.
O Poder Público necessita assumir concretamente a revitalização do bairro, investindo em um grande projeto de um parque tecnológico que contemple história e modernidade; cultura e conhecimento; negócios e oportunidades; turismo e segurança.
A Ribeira é onde a história de Natal começou a ser escrita. E onde ela precisa continuar.
Carlos Santa Rosa d’Albuquerque Castim – Procurador do Município aposentado e ex-secretário interino da Educação do Município de Natal