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Rio Negro volta a subir, muda paisagens e reaquece economia de Manaus

Rio Negro em Manaus, registro feito em janeiro de 2024 — Foto: Michel Castro, da Rede Amazônica

O Rio Negro voltou a subir em Manaus após registrar a maior seca dos últimos 121 anos. O período de estiagem tinha mudado o cenário no estado do Amazonas, isolado comunidades e fechado escolas na área rural da capital amazonense.

Agora, a cheia reaqueceu setores da economia que dependem de atividades como transporte fluvial e turismo. Os principais rios do Amazonas já voltaram a subir e seguem apresentando níveis dentro da normalidade para o período, conforme o Serviço Geológico do Brasil (SGB).

Nesta terça-feira (6), o nível do Rio Negro atingiu 21,46 metros. O valor é quase o dobro do mais baixo, registrado em 26 de outubro de 2023, quando alcançou a cota histórica de 12,70 metros, segundo o Porto de Manaus. O órgão mede o nível das águas na capital do estado desde 1902.

Municípios em situação de emergência

Apesar da melhora no nível do rio Negro e de outros rios do Amazonas, a situação no estado ainda não está totalmente normalizada, e os 62 municípios do estado ainda estão em situação de emergência por conta da seca (veja mais abaixo).

Para quem depende do rio para viver, como o marinheiro Misael Oliveira, de 36 anos, que trabalha na Marina do Davi, na Zona Oeste de Manaus, a situação melhorou, mas a movimentação de clientes ainda é tímida.

No Lago do Puraquequara, na Zona Leste da capital, os visitantes voltaram a frequentar os estabelecimentos flutuantes, mas a vegetação que cresceu na seca agora cobre as águas, formando uma camada de capim que dificulta o acesso.

Mas o lago também vive outro problema. Com a seca, a vegetação cresceu e, com a subida das águas, ela se soltou da terra, formando placas de capim, conhecidas como “canaranas”. O problema tem afetado quem trabalha no local todos os dias, porque prejudica a navegação.
“Quando secou, o capim cresceu, e agora ele começou a soltar e foram se formando blocos de capim, que ficam se movimentando. Com isso, é difícil navegar porque é muito capim. O lago fechou. Ninguém entra e ninguém sai”, disse o sucateiro Izael Santos.
O trabalhador também reclamou da falta de solução por parte das autoridades para resolver o problema. “Até o momento não veio ninguém aqui pra ver essa situação, porque prejudica o nosso trabalho, já que as pessoas não estão desembarcando aqui no lago, e nem as pessoas que moram perto conseguem chegar até aqui. É uma situação difícil”.

Morte de botos no Lago Tefé

Outro cenário que também mudou com o início da cheia dos rios é o Lago Tefé, no interior do Amazonas. No local, a vazante causou a morte de mais de 200 botos e transformou em estrada o rio que interliga as cidades de Tefé e Alvarães.

Segundo a pesquisadora Miriam Marmontel, do Instituto Mamirauá, hoje o cenário é de normalidade no lago. “É um momento bem diferente daquele que vivemos de setembro a novembro de 2023. As águas subiram bastante, enchendo até bem mais rápido do que o esperado”, explicou.

Apesar do cenário ser mais tranquilo, o instituto ainda estuda o que causou a morte dos animais e os verdadeiros motivos da mortandade.

“Ao todo, foram 219 botos mortos e nós conseguimos necropsiar a maior parte deles. Alguns desses perdemos, mas nós conseguimos estudar a maioria. A causa da morte ainda não está esclarecida oficialmente, temos análises em processamento com alguns parceiros, mas temos componentes que podem ter contribuído para isso, como, as altas temperaturas e a baixa profundidade em função das mudanças climáticas globais”, disse.

Ainda segundo a pesquisadora, outros fatores também podem ter influenciado na mortandade dos animais, como comorbidades, baixa umidade, qualidade péssima do ar, queimadas e até algas que, até então, não tinham sido detectadas no lago.

Mudanças climáticas impactam biodiversidade

Segundo o ambientalista Erivaldo Cavalcanti, da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), os eventos climáticos que estão ocorrendo com mais frequência, como a seca extrema que atingiu o estado em 2023, pode impactar o ecossistema, ameaçando, assim, a biodiversidade do planeta.

“Na nossa região esse é o maior impacto, pois esses eventos afetam diretamente o El Niño, que altera toda a nossa biodiversidade com extremos hídricos, seja pela seca prolongada, como ocorreu no ano passado, ou com cheias incomuns que podem acontecer”, avaliou.

O pesquisador também apontou que as mudanças climáticas ocasionadas pela ação humana, atreladas ao El Niño, foram fundamentais para potencializar o fenômeno da seca severa: “Esse binômio de El Niño mais ação humana representa o principal motivo desse fenômeno vivido no estado”.

O ambientalista também disse que para ajudar a evitar novos episódios extremos, é preciso combater a poluição e o uso excessivo de recursos naturais:

“Temos aí também a expansão da fronteira agrícola em detrimento dos habitats naturais e a expansão urbana, e tudo isso coloca em xeque as espécies animais e vegetais. E aí podemos agregar os impactos futuros em virtude do ciclo reprodutivo na biota, além da quantidade brutal de carbono que ao ser jogado na atmosfera, intensifica ainda mais o aquecimento global que já está em estado crítico, um exemplo muito nítido se faz presente nos regimes hídricos da região”, finalizou.

Fonte: G1RN
Ponto de Vista

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