O Rio Grande do Norte ultrapassou a marca de 5 GW de capacidade de produção de energia eólica, gerada pela força dos ventos, em maio. O número representa cerca de 27,5% da capacidade de produção dessa “energia limpa” no país.
O estado segue como líder nacional na produção da energia renovável, contando com 177 parques em operação, 52 em construção e 64 já contratados. Somados todos os projetos, são 9,6 GW de potência, segundo os dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Considerando todas as fontes energéticas, a energia eólica representa 88% da produção no estado, que há anos se tornou exportador de energia, ou seja, consome menos do que produz. No Brasil, essa matriz energética representa apenas 13,6% da produção.
A costa potiguar também é destino cada vez maior de empresas que também querem produzir energia em alto mar. De acordo com Hugo Fonseca, coordenador de desenvolvimento energético da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Energético, pelo menos quatro projetos aguardam licenciamento do Ibama.
“Apenas dois desses projetos teriam o dobro da capacidade de produção que o estado todo tem hoje, com a produção em terra, ou seja, 10 GW”, afirmou. Apesar disso, ele afirmou não pode revelar as empresas interessadas.
Segundo ele, a expectativa do estado era de que a produção no mar começasse a se tornar realidade em 10 anos, mas diante do interesse cada vez maior, a estimativa é de que isso possa ocorrer entre 2027 e 2028.
“Pode parecer longe, mas quando se fala da criação da infraestrutura, já estamos em uma corrida contra o tempo”, afirma. “Temos as melhores condições climáticas e geográficas para isso”, defende.
O estado prepara a produção de um “atlas” dos ventos e do sol – para que empresas interessadas possam consultar a capacidade de produção de energética em tempo real – e também começou estudos sobre a viabilidade de um porto-indústria no alto-mar.
Uma das funções do porto-indústria seria justamente a produção peças para a construção das usinas que seriam instaladas no mar.
Para Hugo Fonseca, um dos entraves para o novo setor é a falta de regulação sobre o assunto no país, visto que a produção no mar se daria em uma área que pertence à União.
Um projeto de lei apresentado em fevereiro pelo senador Jean Paul Prates (PT), do Rio Grande do Norte, prevê a criação do marco regulatório para a exploração de energia na costa brasileira, seja eólica, solar ou das marés. O PL 576/2021 ainda aguarda tramitação.
“Esse projeto era o tijolinho que estava faltando para autorizar a instalação de projetos de geração de energia no mar que hoje já estão em desenvolvimento no país”, disse o senador após a entrega do texto.
O primeiro leilão de energia com venda regulada de energia eólica aconteceu em 2009. Desde então, o Rio Grande do Norte despontou como um dos estados pioneiros na produção da energia gerada pelo vento.
A chegada da nova fonte de energia também se tornou fonte de renda para muitas famílias e mudou o cenário de pequenas cidades no interior do estado.
Na região Central, a pequena Bodó tem cerca de 2,2 mil habitantes e registrou um Produto Interno Bruto per capita consolidado de R$ 142,8 mil em 2018, segundo o IBGE – o maior do estado. Em 2010, o PIB per capita era de pouco mais de R$ 6 mil.
Na capital, Natal, por exemplo, o PIB per capita consolidado de 2018 era de R$ 27,1 mil.
Além de renda direta e indireta, o estado também passou a preparar mão de obra qualificada. De acordo com coordenador de energias renováveis da Sedec, a cada dez trabalhadores do setor no país, um foi capacitado no estado. Instituições como o IFRN têm cursos específicos para a área.
“Somente em 2020, o estado captou cerca de R$ 7 bilhões em investimentos para os próximos anos”, afirmou.
Mesmo que a maior parte da mão de obra seja contratada para a construção do parque, ele considera que os municípios continuam a ganhar dinheiro, com a manutenção de equipes para operar os parques, além de centros e indústrias montados pelas empresas no interior do estado, que também movimentam uma cadeia de serviços.
O estado também estuda projetos para ampliar linhas de transmissão de energia, que já foram um gargalo para o setor no Rio Grande do Norte. É por meio dessas estruturas que a energia produzida entra no sistema nacional de energia.
“Nós estamos montado um projeto de estado, para continuar esse desenvolvimento nas próximas décadas”, diz.
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