RUI –
ATUAL, RUI BARBOSA, MAS É PRECISO PESQUISAR PARA ENTENDÊ-LO DEVIDAMENTE
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
Rui Barbosa, político, filólogo, diplomata, em discurso no Senado, enumerou a situação do derradeiro decênio do Império, resultante no “desastre financeiro da Guerra do Paraguai, em torno da sociedade agrária e escravocrata”. O tribuno e senador baiano citou dado essencial para compreensão daquele ensejo histórico nacional, expôs “a identificação do Exército com a classe média”.
É natural que o Exército venha desembocar, em poucos anos, no movimento republicano, como era natural que a formação de suas elites procurasse uma estrutura doutrinária no Positivismo em oposição ao Catolicismo da Monarquia.
No entanto, Rui Barbosa aceitou o desafio de assumir o ministério da Fazenda na gestão do Marechal Deodoro da Fonseca, no intuito, segundo sobejas referências do próprio jurista, para reativar o desenvolvimento público no, então, nascente regime. Tentou fazer circular o dinheiro por meio de emissão contínua, mas adveio uma frenética especulação, como tal ocorre nos dias de hoje, e que resultou na crise financeira do Encilhamento, uma bolha inflacionária que marcou o limiar de nossa era republicana.
Outra polêmica questão foi a destruição dos arquivos da escravidão, no caso, livros de matrícula, de controle aduaneiro e de recolhimento de tributos. Gilberto Freyre e o biógrafo e psiquiatra baiano Nina Ribeiro invectivaram contra Rui a responsabilidade por extinguir esses documentos, que teria “desprezado a memória nacional”, segundo Nina.
No vasculhar desse período, viu-se que novas vertentes de documentos vieram à tona para a historiografia. Tema que seria esgotado em ensaios do historiador Américo Jacobina Lacombe que argumentou em favor da memória do tribuno Rui Barbosa, alegando não se poder acusar o jurista de alguma conivência com quaisquer dos grupos políticos. Em suma, a realidade antecedente à questão era que, desde a Abolição, ainda no Império, grandes fazendeiros e demais ex-proprietários pressionavam pela chamada indenização do Estado por perderem o status da escravatura que “de forma vil os faziam senhores de gentes e de almas”. Segundo o próprio ministro Rui, a providência extremada foi para que se obstassem os pleitos por imensa paga financeira pelo estado com tesouro já combalido.
Mais ainda havia um choque entre antiescravocratas e ex-senhores de escravos com trânsito no parlamento, estes últimos intitulados de “indenezistas”, que pleiteavam o recebimento do governo republicano de indenização pela perda dos escravos, além de rendas, hipotecas e garantias, que se esvaiu, em preciosa hora, pelo instituto da Abolição.
Ainda mais a registrar, a definitiva ordem para a queima de documentos da escravidão teria sido dada por Rui, porquanto era o ministro, a 14 de dezembro de 1890, no entanto o cumprimento foi em 13 de maio de 1891, quando Rui já não era o titular da pasta da Fazenda, a execução ficou a cargo seu sucessor, Tristão de Alencar Araripe, notável cearense de apreciada literatura jurídica.
Mais adiante Rui tentou pela segunda vez a eleição à presidência da República perdendo justamente para o grupo antecedente que o admoestava, desde os primórdios da República.
Restou a literatura portentosa, a lição continuada para os brasileiros, que precisam ler Rui Barbosa a fundo para compreender e fazer justiça ao grande tribuno e polímata baiano.