A Rússia deu início a seus maiores exercícios militares desde a Guerra Fria, mobilizando cerca de 300 mil militares no leste da Sibéria.
Batizado de Vostok-2018 (Vostok significa leste), eles contam com a participação da Mongólia e da China, que está enviando 3,2 mil militares, além de veículos e aeronaves.
Os últimos exercícios russos com escala similar foram em 1981, durante a Guerra Fria. Ainda assim, eles envolveram menos tropas do que Vostok-2018, que acontecerá de 11 a 17 de setembro.
Os exercícios acontecem em meio a uma tensão crescente entre a Rússia e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar com 29 países membros liderada pelos Estados Unidos.
A relação entre as duas partes tem piorado desde que a Rússia anexou a Crimeia, que pertencia à Ucrânia, em 2014.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que os treinos eram justificados, citando atitudes “grossas e agressivas” contra a Rússia.
Como serão os exercícios?
As operações começam na quinta-feira e vão durar cinco dias, segundo o general russo general Valery Gerasimov. Terça e quarta-feira serão dedicados ao planejamento e à preparação.
O ministro de defesa russo diz que 36 mil tanques, militares armados e veículos armados de infantaria, além de mais de mil aeronaves, integrarão o Vostok-2018. Até 80 embarcações navais, de duas frotas russas, também participarão.
Três brigadas de paraquedistas militares russos terão um papel-chave durante os exercícios perto da fronteira com a China e a Mongólia, segundo o canal do Ministério da Defesa, Zvezda.
O canal também diz que o objetivo principal do treinamento é praticar o rápido deslocamento das tropas, aeronaves e veículos do oeste da Rússia às regiões no leste, cruzando milhares de quilômetros. Esse tipo de esforço envolve, por exemplo, o abastecimento de aeronaves no ar.
A escala do Vostok-2018 é equivalente à das forças empregadas em uma grande batalha da Segunda Guerra Mundial. Uma versão menor desse exercício, com a Rússia e a Bielorrússia, se deu no ano passado.
Quais são as intenções da Rússia?
O presidente Vladimir Putin tem feito da modernização militar do país, incluindo a fabricação de novos mísseis nucleares, uma prioridade de seu governo.
Em uma declaração de apoio à política de investimentos na indústria bélica, o senador russo e oficial da reserva Frants Klintsevich declarou que “convinha para o Oeste que nossas unidades e quartéis não tivessem habilidades de combate e coordenação, mas os tempos mudaram; agora temos uma atitude diferente”.
As forças armadas russas contariam com um milhão de pessoas no total.
Por que a China está envolvida?
Putin encontrou-se recentemente com o líder chinês Xi Jinping na cidade Vladivostok, no leste do país, e disse que eles têm “um relacionamento de confiança na esfera de política, segurança e defesa”.
O Ministério de Defesa da China citou como a cooperação militar entre os países se aprofundou, melhorando a habilidade dos dois de responder juntos a “várias ameaças de segurança”, sem especificar quais.
Em anos recentes, Rússia e China vêm aprofundando a cooperação militar. Durante os exercícios, inclusive, eles usarão o mesmo quartel-general – um contraste com os anos de Guerra Fria, quando a União Soviética e a China eram rivais, disputando a liderança global comunista e com confrontos em sua fronteira oriental.
A Mongólia não deu detalhes de seu envolvimento.
O ministro de Defesa russo Sergei Shoigu diz que o extremismo islâmico na Ásia Central é a maior ameaça à segurança da Rússia.
Nesse sentido, a China tem acentuado suas ações de repressão para conter o que considera “extremismo religioso” em Xinjiang, no extremo oeste do país, habitado pela minoria muçulmana uighur.
Há anos a região é foco de tensão. A China acusa os militantes islâmicos e separatistas de intensificarem o conflito. Na última semana, a ONU acusou o país de manter cerca de um milhão de muçulmanos uighur presos de forma ilegal na província.
Segundo o porta-voz da Otan, Dylan White, a organização foi informada da operação Vostok-2018 e irá monitorá-la.
Ele disse que “todas as nações têm o direito de exercitar suas forças armadas, mas é essencial que isso seja feito de forma transparente e previsível”.
“Vostok demonstra o foco da Rússia em treinar conflitos de larga escala. Isso se encaixa no padrão que temos visto há algum tempo: uma Rússia mais assertiva, aumentando significativamente seu orçamento de defesa e sua presença militar.”
A tensão entre a Rússia e a Otan tem aumentado desde que a Rússia interveio na Ucrânia em 2014, apoiando rebeldes separatistas russos.
A Otan respondeu aumentando a presença de suas forças no leste europeu, enviando 4 mil tropas para os países bálticos.
A reação foi considerada provocativa e injustificativa pela Rússia. Ela diz que a revolução ucraniana de 2013 e 2014 – uma resistência à ocupação russa na península da Crimeia – foi um golpe orquestrado pelo “Oeste”, referindo-se aos países do Ocidente.
Em mais capítula da relação cada vez mais conturbada entre as duas partes, diplomatas russos foram expulsos de países membros da Otan depois que o ex-espião russo Sergei Skripal e sua filha, Yulia, foram envenenados no sul da Inglaterra em março.
O Reino Unido culpou a inteligência militar russa pelo ataque. Moscou nega envolvimento.
fonte: G1