SANTA IGNORÂNCIA ? –
A ignorância é a mãe de todos os principais males da sociedade. Da história antiga aos dias atuais, a falta de conhecimento específico sobre algumas áreas é um campo fecundo para o medo, a intolerância, a preguiça, o desrespeito e o preconceito. A ignorância leva seres humanos a agir como animais, a atacar antes de questionar e a pensar depois que o mal está realizado, muitas vezes, depois que não há mais volta.
Esquecemos que, enquanto seres humanos, há mais coisas que nos unem do que as que nos separam. Esquecemos que, independente do credo, somos todos irmãos, fruto da mesma matéria, e, seja adepto do evolucionismo ou do criacionismo, todos somos frutos da mesma árvore, filhos do mesmo Deus ou netos do mesmo primata. Não importa o prisma que se olhe, não importa religião, sexo, opção sexual ou mesmo ideologias. Somos absolutamente iguais.
O que nos difere, de um modo geral, são as reações que temos diante das situações pelas quais devemos passar para chegar a qualquer lugar. O interesse em aprender e aceitar o próximo, a vontade de julgar ou não. A surreal e soberba crença de que somos capazes de conhecer o que vai no íntimo do outro. Essas são as atitudes que fazem a diferença.
Acusar e aceitar não são sinônimos. Respeitar e compreender podem ser. Os maus-tratos podem ser perdoados, mas a história os registra para que possamos aprender e não repetir. Lamentavelmente, porém, nós conseguimos pisar no mesmo buraco tantas vezes quanto possível e transformamos o hoje numa versão piorada do ontem.
Os seguidores de uma determinada religião foram perseguidos na Idade Antiga, jogados à arena do leão e proibidos de cultuar sua fé. Então, na primeira oportunidade possível, enterraram o perdão numa cova bem funda e perseguiram aqueles que estavam além do seu entendimento. As cruzadas, as guerras, os holocaustos aos quais viemos submetendo a massa. A caça às bruxas, aos iluministas, a alienação às artes, a escravidão, a homo e a xenofobia são exemplos tristes de que ainda não aprendemos a ter consideração pelo desconhecido.
A preguiça de aprender e se reciclar gera um medo irracional pelo que nem se sabe se existe ou, se realmente existe, não se sabe como é. Como o medo da morte. Tão temida, tão indesejada, muitas vezes por motivos egoístas, por exemplo: eu não quero morrer porque eu ainda quero aproveitar e não sei o que há do outro lado. Vamos desmistificar a morte, para poder viver com mais intensidade. Ou, segundo as religiões, existe o outro lado – leia-se paraíso; ou não há nada, nem bom, nem ruim. Começamos a morrer no momento em que nascemos, e preocupar-se com o que pode haver depois não vai impedir a morte de nos apanhar.
Devemos viver plenamente. Sem frustações, arrependimentos, rancores ou mágoas. Devemos viver o hoje, aprendendo e ensinando todas as lições que pudermos. Devemos devotar ao próximo os mesmos sentimentos que gostaríamos de receber. Devemos não temer e nem julgar, deixar que cada um pense e conduza sua trajetória da maneira que achar melhor. Devemos ser felizes e multiplicar essa felicidade por seis bilhões. É esse o caminho do sucesso, da saúde e da paz!
Ana Luíza Rabelo Spencer, advogada ([email protected])