Padre João Medeiros Filho
Uma tradição do século II afirma que os pais de Nossa Senhora chamam-se Ana e Joaquim. Não há notícias destes nomes na Bíblia, tanto no Antigo como em o Novo Testamento. O documento mais antigo ao qual se reporta a Igreja, falando de Joaquim e Ana, é o Protoevangelho de São Tiago, que gozava de grande prestígio nos primeiros séculos do cristianismo. A devoção a Santana remonta ao século VI, no Oriente; enquanto Joaquim só é venerado, a partir do século X. A tradição diz que o casal possuía recursos, geridos por Ana (exímia administradora e economista), que os dividia em três partes: uma reservada ao sustento da família, a segunda à manutenção do culto e a última à alimentação dos pobres. Esse dado fez de Santana, na época do Império, padroeira da Casa da Moeda do Brasil, permanecendo até hoje.
Grande é a devoção do povo brasileiro à gloriosa Santana. Seu culto é tão difundido entre nós que a Mãe de Maria Santíssima é co-padroeira das arquidioceses do Rio de Janeiro e São Paulo. Doze bispados têm-na como patrona e quatrocentos e cinquenta e duas cidades a invocam e veneram como padroeira principal. Ressalte-se ainda que é padroeira de todo Estado de Goiás.
O nome Joaquim é bíblico e significa: o homem confirmado por Javé. Ana (cuja etimologia é Deus tem misericórdia) é mais frequente na Sagrada Escritura e temos conhecimento de três personagens assim chamadas. A profetisa Ana, filha de Fanuel (Lc 2, 36-38) que foi ao encontro de Jesus, quando Este foi apresentado no Templo. Há também Ana, mãe do profeta Samuel (1 Sam 2, 19-21) e Ana, a esposa de Raguel, irmão de Tobias (Tb 7, 2).
De acordo com o Protoevangelho de Tiago, Ana e Joaquim formavam um casal piedoso, mas vivia triste por não ter filhos. Joaquim dirigiu-se então ao deserto, onde permaneceu quarenta dias, jejuando e orando. No final desse período, apareceu-lhe um anjo, anunciando que seria pai de uma menina. Ana também teria recebido um aviso divino: “Ana, teu choro foi ouvido e conceberás e darás à luz e por toda a terra tua descendência será falada”.
Ana e Joaquim educaram sua filha no temor e amor a Deus. A devoção a Santana difundiu-se de tal maneira que a Igreja quis lhe reservar o título que só fora concedido a sua filha: Senhora. Desta forma, entendemos porque muitos cristãos passaram a chamá-la, no decorrer dos séculos, de Nossa Senhora Santana.
Os pais de Maria dão-nos um exemplo de fé profunda, acreditando que “para Deus nada é impossível” (Lc 1, 37). Sua vida e seu exemplo mostram-nos o poder da oração. “Quem em Deus confia jamais será decepcionado” (Sl. 25,2). A espera por Deus tem resposta, nunca é em vão. A prece não é um monólogo, como muitos pensam. “Pedi e vos será dado”. (Mt 7, 7). A educação cristã consiste primordialmente em levar o ser humano a um contato íntimo com Deus. Educar assim é realizar um ato de oração, pois esta nos aproxima do Pai. O amor, a fé e a educação religiosa são exemplos marcantes da vida de Ana e Joaquim. A iconografia clássica mostra-nos Santana ensinando a Maria, tendo nas mãos as tábuas da Lei. Nas imagens mais antigas, a Mãe de Nossa Senhora está sentada com a filha aos joelhos, lendo a Torá (a Lei). Santana é-nos representada como Mãe e Mestra (Mater et magistra). Ela está na cadeira, na cátedra. Desse termo e dessa realidade derivam catedral (espaço em que o bispo, doutor da Igreja ensina) e cátedra, onde na academia se posicionavam os professores titulares. Os doutores e mestres do cristianismo sempre são apresentados sentados para expressar sua função magisterial.
Os pais de Nossa Senhora são modelo da Igreja, cuja missão é preparar-nos para receber Cristo, como acontecera com Maria Santíssima.
Padre João Medeiros Filho – Escritor – ([email protected])