SANTO MEL NATURAL – 

Neste último final de semana saí em busca da vitamina do Sol – vitamina D – e do iodo do mar para suprir minhas reservas naturais escasseadas por causa do isolamento forçado decorrente da maldita Covid-19. Meu recanto é a Praia de Cotovelo, distante 24 quilômetros da capital, Natal, onde mantenho uma morada.

Na entrada do povoado existe uma banca postada na calçada de uma casa, vendendo um único produto, todo final de semana, há 14 anos. Nunca me despertou interesse de ali parar… Até a semana passada. O comerciante, um homem na casa dos 40 anos, vende mel de abelha.

Desci do carro e entabulei o seguinte papo com o dono da banca: Tem mel de abelha jandaíra? – e ele: Sim, senhor! Qual o preço do litro? – perguntei. Um tanto constrangido, ele respondeu: O litro é R$160,00. Esse mel é uma raridade, amigo. Sei que é caro, mas é puro! Se desejar, faço o teste de pureza para o senhor ver.

Aceitei o desafio e ele procedeu a operação comprobatória da pureza do produto, na minha frente. Pôs um pouco do mel numa colher, e ali lambuzou o pavio de uma vela. Acendeu-a, em seguida. Caso negasse fogo, haveria água ou outra mistura diferente no mel. Pechinchei e comprei duas porções de 250 ml, para uso medicinal.

O mel da jandaíra é um santo remédio para curar crises de garganta. Isso comprovei em 1969. Recém saído da faculdade de Engenharia, eu, funcionário do DER/RN, fui cuidar da malha rodoviária estadual na Região do Mato Grande, no Rio Grande do Norte. Cheio de gás e de entusiasmo eu percorria toda a extensão rodoviária, sob minha responsabilidade, duas vezes por mês.

Numa dessas viagens, tomado por uma baita crise de garganta, parei na sede do município de Jandaíra em busca de uma farmácia para aliviar o incômodo. Entrei na única drogaria da pequena cidade, e procurei ajuda junto ao dono do estabelecimento.

Gentilmente, ele me atendeu – engenheiros do DER sempre eram bem recebidos nas comunidades da região, porque cuidavam da manutenção das estradas, principais vias de locomoção entre municípios e com a capital – dizendo: Doutor, eu poderia lhe indicar um medicamente de laboratório, mas, se o senhor quiser ficar bom  de imediato, tome duas colheres de sopa do mel da jandaíra.

Abro parênteses. Jandaíra, a cidade, está situada a margem da rodovia BR-406, no percurso João Câmara – Macau. Naquela época, a rodovia era estadual com a nomenclatura RN-4. O nome do município foi decorrência da enorme produção natural de mel de abelha jandaíra, ali existente. Com o passar dos anos, o desmatamento descontrolado reduziu a produção do mel. O golpe fatal ocorreu com a proliferação das abelhas africanas, que enxotaram as jandairas da região. Fecho parênteses.

O certo é que eu tomei as duas colheradas do mel e logo fiquei curado. Durante anos eu recorri àquele mel nas minhas crises de garganta. Como se não bastasse sarar garganta e tosse, outras qualidades curativas são atribuídas ao mel: reduz o colesterol, previne doenças cardiovasculares, favorece a digestão e atua contra prisões de ventre, por seu efeito de laxante natural.

Alertas não faltam para as consequências decorrentes do desaparecimento das abelhas do planeta. Vão desde a redução drástica de muitas espécies de plantas, passando pelo desequilíbrio dos ecossistemas, chegando ao cúmulo de perda da biodiversidade.

Até quando vamos dispor do tal santo mel natural, é uma incógnita.

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

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