SARUÊS “INVADEM” A CAPITAL DA REPÚBLICA –
Moradores da Asa Sul de Brasília, quando se dirigem ao clube de Vizinhança (espaço assim batizado por Oscar Niemeyer, concebido para o lazer dos habitantes da então nova capital) são surpreendidos pela quantidade de saruês que se aninham nas árvores das quadras circundantes.
Enquanto no Congresso outra fauna de terno e gravata se alvoroça nos debates da ingente Reforma da Previdência, nas árvores da cidade, os cassacos, como assim os cearenses chamam os saruês, se agitam para conseguir alguns nacos de lanches e frutas das lixeiras abertas ao léu.
O saruê, espécie de gambá, que de comprimento do nariz até a ponta do rabo o simpático bichano das árvores chega a medir até um metro, na classificação é o gambá-de-orelha-preta. Mas não se enganem com a aparência de simpático felídeo porque o saruê pode ficar com raiva de quem o queira atacar. Ainda possui resistência a certas peçonhas, há quem diga que muitos deles são imunes ao veneno de serpentes e escorpiões. Portanto, para quem circula por Brasília é preciso ter cuidado se quiser afugentar o gambá da cara branca e orelha preta.
Dia desses, dois espécimes de saruê foram confundidos com ratos após invadirem um supermercado na mesma zona da capital, quando atacaram a prateleira dos ovos. Fregueses reclamaram da possível falta de atenção dos funcionários, mas, para alívio do gerente, foi apenas a “incursão” de alguns cassacos. O zeloso empregado do mercado, de origem na estimada Paraíba, logo identificou o bichinho como “timbu”, como no sertão de Suassuna e Lampião assim o saruê é chamado. Menos mal! Os fregueses logo compreenderam a aventura do simpático marsupial.
Sim, o saruê é um marsúpio, uma vez que o filhote ficam na bolsa marsupial, tal qual um canguru, mantendo-se por período de até quatro meses. Crescem na bolsa, mas a mãe não o deixa sair sozinho, e ela o transporta para todo lado em seu dorso. Além do empenho na caça aos ovos, o saruê também sai em busca de restos de frutas, pequenos
roedores, insetos, serpentes e até escorpiões, como dito.
Na aparência e proximidade com os humanos são tranquilos, embora tais aproximações devam se dar com cautela, agora, se investirem contra ele o cassaco pode atacar, mas nada mais que um breve susto, sem inquietação maior, só ter cuidados. Não dá para comparar os cossacos “invasores da República” com alguns outros partícipes da cena, conturbada, política de Brasília. Os simpáticos marsúpios efetivamente não precisam usar coleiras nem tornozeleiras, apenas provocam admiração, em meio a algum sobressalto ou desassossego pela agitação provocada por outros seres vivos.
Nada mais do que isso. A vida da República está a salvo.
Luiz Serra – Professor e escritor