SAUDAÇÃO A AMÉRICO DE OLIVEIRA COSTA NA ACADEMIA MOSSOROENSE DE LETRAS –

Senhores acadêmicos,

Minhas senhoras, meus senhores,

Escolhido para fazer a saudação a Américo de Oliveira Costa, tenho antes a honra de falar sobre o patrono da cadeira de número seis, que hoje é declarada a sua vacância.

Aurélio Waldemiro Pinheiro era natural de São José do Mipibu, nascido aos 28 de janeiro de 1882. Médico pela faculdade de medicina da Bahia, onde foi aluno destacado. Àquela época já fazia parte de saraus literários e de monitorias na qualidade de Professor Auxiliar. Despertou para a poesia, para a crônica, para o romance, tornando-se, além de médico, filólogo e memorialista.

Escritor de altos méritos, remanescente do realismo, Aurélio Pinheiro teve sua obra literária soterrada pelo modernismo.

A tentativa não muito exitosa de reabilitá-lo partiu de Américo de Oliveira Costa, tendo Américo o escolhido para patrono de sua cadeira na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras em 1949.

O seu discurso lembrando a figura ímpar de Aurélio, além de uma bela oração acadêmica, é um profundo resgate, um criterioso estudo biográfico, que ressurge igual à Fênix, não somente das cinzas, mas das trevas do esquecimento literário.

Américo de Oliveira Costa nasceu em Macau aos 22 de agosto de 1910, entretanto foi criado e educado aqui em Mossoró. Continuando sua educação em Natal e Recife, muito cedo perdeu seus pais, senhor Pedro Vicente da Costa e senhora Vitória Alves de Oliveira.

Após a morte dos pais veio para Mossoró onde foi recebido com muito carinho, ainda criança, pelo Dr. Eufrásio de Oliveira, juiz de direito nesta comarca e sua mulher senhora Amélia.

O menino sentou nos bancos do memorável Colégio Diocesano Santa Luzia, onde abeberou os seus primeiros conhecimentos humanísticos. Parafraseando Shakespeare “a vida nos faz dono dos nossos destinos”.

Ali tomou conhecimento dos substantivos, dos objetos diretos e indiretos, dos verbos irregulares que ainda hoje nos infernizam; conheceu no velho e amado Diocesano do Padre Sátiro o quadrado da hipotenusa, o valor da raiz cúbica, o início das leis de Isaac Newton, que sem conhecer o motor criou a sua terceira lei, lei esta que hoje é obedecida ao pé da letra nos aviões a jato; conheceu o estreito de bósforo, a cultura dos Caldeus e da Mesopotâmia, Tigre e Eufrates.

Em Natal e em Recife o salto foi maior ainda. Em 1931, já acadêmico de Direito, logo depois iniciou sem orgulho, sem soberba, sem prepotência, com muito estudo, criterioso como causídico, obsessivo ao escrever, ao resgatar a memória.

Além de advogado, foi Procurador do Estado, professor da Escola Doméstica de natal, membro da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras e primeiro ocupante desta cadeira na nossa Academia Mossoroense de Letras.

Segundo Vicente Serejo, Américo não gostava de ver livros em sebos – a estranha vida dos títulos raros e esgotados – jogados fora pelas viúvas, sim, é a primeira coisa que é feita, desfazer-se dos livros do falecido, do finado, que os tinha com um amor maior, isso talvez explique o ciúme das mulheres com os homens e os livros, mas deixemos isso para Freud.

Em primeiro de julho de 1966 o seu coração parou.

O homem que melhor interpretou e historiou Câmara Cascudo, nosso folclorista de renome internacional, deixava definitivamente esse plano e ia para a poeira cósmica, onde todos um dia se encontrarão.

Senhores confrades, minhas senhoras e meus senhores, agradeço sensibilizado a honra que me coube de imortalizar na nossa memória nomes que fizeram a construção literária do nosso conhecimento, ser culto e ter cultura é singular, sinônimo de denodo e dedicação, que começa na infância e não termina nunca.

Muito obrigado.

 

 

Paulo Negreiros – Médico dermatologista e membro da  Academia Mossoroense de Letras

 

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *