SAÚDE BUCAL NA QUALIDADE DE VIDA E INCLUSÃO SOCIAL DE ADOLESCENTES COM CÂNCER –

A saúde bucal constitui uma parte da saúde geral e é considerada essencial para a qualidade de vida.

Na adolescência, o impacto do diagnóstico de câncer implica em várias mudanças, no desenvolvimento biopsicossocial dessa fase da vida, na imagem corporal em decorrência dos efeitos colaterais do tratamento, além das alterações na rotina.

A existência de uma equipe multidisciplinar na terapêutica do câncer numa Casa de Apoio se faz muito importante na elaboração do diagnostico por parte desses adolescentes e no enfrentamento dos efeitos advindos da quimioterapia e radioterapia, modalidades terapêuticas do câncer. A casa de apoio é um local de acolhimento e re-significação do adoecimento ao proporcionar o compartilhamento de experiências com outros pacientes.

A Casa Durval Paiva é uma instituição sem fins lucrativos que atende crianças e adolescentes com câncer e hematológicos crônicos enquanto durar o tratamento. São pacientes carentes socioeconomicamente e culturalmente que não têm acesso a um serviço odontológico especializado.

O serviço odontológico da Durval Paiva atende as crianças e adolescentes com câncer além de seus acompanhantes. Tão logo sejam diagnosticados com câncer na enfermaria pediátrica do hospital pela equipe médica, são encaminhados para passar por toda equipe multidisciplinar da Casa de Apoio, inclusive o dentista.

Apesar de ser muito importante para o tratamento do câncer, a quimioterapia e a radioterapia podem desencadear algumas alterações, prejudicando a saúde da boca e até mesmo o tratamento da doença.

A quimioterapia não é seletiva, ou seja, atinge as células doentes e sadias, baixa a imunidade do paciente, ficando o mesmo susceptível a uma série de alterações, principalmente, na boca, como infecções oportunistas, fúngicas (fungos) e bacterianas (cárie). No momento em que o paciente encontra-se com a imunidade baixa, essas infecções aumentam o risco de vida, pois via corrente sanguínea pode levar a uma infecção generalizada e o mesmo ir a óbito. O ideal é que o tratamento odontológico seja realizado sempre que possível, antes da quimioterapia e/ou radioterapia de cabeça e pescoço, para prevenir e tratar os possíveis focos infecciosos.

Então, nesse contexto, os adolescentes com câncer passam por muitas mudanças e perdas, uma delas pode ser o aparelho ortodôntico, que deve ser removido tão logo receba o diagnóstico. O dentista remove temporariamente, enquanto durar o tratamento oncológico, evitando trauma para a mucosa oral, que estará mais sensível neste período. São doados kits de higiene oral como escova, fio e creme dental. O serviço odontológico oferece tratamento preventivo, educativo e curativo.

A maioria dos pacientes chegam com a cavidade oral precária, muitos adolescentes, que já possuem a dentição permanente, chegam com os dentes frontais, impedidos de sorrir, se alimentar, dificultando mais ainda a socialização, inibindo-os.

Uma adolescente, S.C, 15 anos, com osteossarcoma (tumor ósseo), já com metástase (doença à distância) pulmonar, chegou ao serviço odontológico da Casa com uma cárie no dente central superior, quando queria sorrir e falar sempre colocava a mão à frente para esconder, ela achava que seu dente não tinha jeito que não poderia recuperá-lo, não conhecia o material restaurador para dentes anteriores. Foi atendida, tendo a recuperação do dente do sorriso, da função mastigatória e da sua autoestima. E tivemos um retorno gratificante ao ouvi- lá dizer que tinha ganhado um dos melhores presentes da sua vida, pois era o seu aniversário.

 

 

Simone Norat Campos – Dentista – Casa Durval Paiva – CRO/RN 1784

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