A história do Campeonato de Seleções de Futebol dos Estados data do ano de 1922, criado e organizado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Em sua primeira versão, contou com seis Estados: Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. O primeiro título (1922) ficou com o Estado de São Paulo. O Rio Grande do Norte só veio a participar do certame no ano de 1929.
Em 1934, a nossa Seleção fez uma excelente campanha, chegando às quartas de final, quando perdeu para a seleção baiana por 5 X 3, no Estádio da Graça/Salvador/BA, com o reforço inquestionável e patriótico do árbitro da partida. A disputa final foi realizada pelas seleções da Bahia e São Paulo, saindo vencedora a seleção da Bahia, pelo placar de 2 X O.
A nossa seleção ficou em terceiro lugar, obtendo o título de campeã do Nordeste, com a seguinte formação: Nené, Nezinho e Dorcelino; Teixeira, Hemetério e Pinheirinho; Aciolly, Glicério, Xixico, Neném e Mário Crise. Técnico: Elissóssio Guimarães; fizeram parte do elenco ainda: Raimundo Canto, Adalberto, Ponciano, Simão e Augusto Crise.- (Da Bola de Pito ao Apito Final – Everaldo Lopes, Edição do Autor, ano de 2006, p.151/152). Em 1959, a nossa seleção fez bonito novamente.
Com a batuta do grande “maestro” Pedrinho Quarenta, grande estrategista, o maior treinador do futebol do Estado em todos os tempos, a nossa seleção se organizou e se armou muito bem. O “maestro” aproveitou e se valeu das melhores peças das duas melhores equipes da cidade na época: o ABC e o Riachuelo, formando uma excelente seleção, chegando como o melhor representante do Nordeste, quando disputou com a excelente seleção carioca, dois bons espetáculos de partidas, tendo sofrido inicialmente uma derrota e na sequência colheu um injusto empate, exibindo um futebol de primeiríssima qualidade.
Eis a escalação do grande time: Ribamar, Biró, Calado, Pádua e Mauro; Cileno, Jorginho; Cocó, Saquinho, Aladim e Ivo. Belíssima seleção.
No ano de 1962, com dezenove anos de idade, recém chegado e contratado profissionalmente pelo Alecrim FC, fui convocado pelo treinador Eugênio Barros para compor o elenco da seleção do RN. Uma glória, uma honra, um momento inesperado e surpreendente para um jovem iniciante no futebol. Convocado como a segunda opção para quarto-zaga, uma vez que a titularidade pertencia ao mestre veterano, o príncipe, assim chamado, Cadinha do ABC FC.
Iniciada a preparação, aos poucos fui alçado à posição de titular, formando o miolo da zaga com o vigoroso e voluntarioso Piaba.
A equipe ficou assim formada: Ribamar, Gaspar, Piaba, Berilo e Jácio; Cileno e Jorginho; Cocó, Saquinho, Zé Maria e Ferreira. Um bom time.
Nosso primeiro compromisso foi contra a seleção do Ceará, no Estádio Juvenal Lamartine.
Domingo, 5 de dezembro, tarde ensolarada, casa cheia, torcida vibrante. Fizemos um bom jogo e vencemos sem muita dificuldade a seleção cearense por 3 X 1, com gols de Zé Maria (2) e Saquinho (1).
De moral alta, partimos para o próximo compromisso – o jogo da volta –, Estádio Presidente Vargas – o PV.
Uma bela tarde de domingo, na cidade de Fortaleza/CE, 19 de dezembro, estádio superlotado, torcida cearense infernizando a todo momento, inclusive na noite anterior ao jogo, nas cercanias do hotel, tentando tirar a tranquilidade da equipe.
Jogo iniciado e equilibrado até os vinte minutos do primeiro tempo. O árbitro local, por nome Vicente Trajano, patriota até a “medula”, em uma jogada disputada com o vigor físico natural do nosso zagueiro Piaba contra o atacante cearense Moésio, o “apitador” não teve contemplação: expulsou o nosso viril zagueiro. Foi uma revolta geral. A insatisfação tomou conta da nossa equipe. Foi quando o nosso goleiro Ribamar, ao se dirigir ao árbitro com veemência, foi também expulso de campo.
Naquelas alturas, com apenas nove jogadores em campo e moralmente abatido, o que fazer ? O nosso treinador por opção única foi obrigado a tirar um atacante, o nosso ponta esquerda artilheiro – Ferreira, entrando o goleiro reserva, Jarian.
Resultado final: um elástico placar de 6 X 1. Triste derrota!
Na quarta-feira, 12 de dezembro, acontece o terceiro jogo, o decisivo. Nosso time, totalmente abalado e ainda tonto da grande derrota do domingo, não se encontrou em campo. Perdemos novamente, pelo escore de 2 X 0, encerrando, assim, a nossa participação do penúltimo Campeonato Brasileiro de Seleções.
Vinte e cinco anos depois (1987), a CBF voltou a organizar e reviver o Campeonato de Seleções Regionais, quando a nossa seleção enfrentou novamente a seleção do Ceará, não conseguindo a sua classificação.
Terminava, assim, em definitivo uma história cheia de muito brilho e de muita energia; por um lado, a alegria e a vibração das torcidas, torcendo pelos seus ídolos e pela sua seleção; por outro, o prazer e o orgulho dos atletas em defender o seu Estado e as cores (a tricolor) da nossa Seleção.
Saudosa lembrança!
Berilo de Castro – Médico, escritor, membro do IHGRN – [email protected]
Valeu Berilo pelo seu histórico do nosso Futebol . Até então desconhecido por mim principalmente.