Nelson Freire
A SCBEU – Sociedade Cultural Brasil Estados Unidos foi símbolo de uma época, de uma era, de um período de vida de muita gente boa em nossa cidade. A Natal pacata, pequena, que começava a ficar buliçosa, desejando se tornar referência cultural na região.
Cheguei na SCBEU bem jovem, em 1963, creio que no mesmo tempo de Leno, que seria depois um ícone da Jovem Guarda, e também Fon, Lola e Eustachio Lima, meus primos e tantos outros meninos de Tirol/Petrópolis, extasiados com o aprendizado de uma língua estrangeira.
Foi o tempo em que toda uma geração passou a amar os Beatles e os Rolling Stones. Por isso lembro-me até hoje das primeiras aulas que tive com a professora Maria Alice Fernandes. Ensinando que para se pronunciar melhor o th, deveríamos to put the tongue between the deeth
E foi ouvindo I want to hold your hand e She loves you, que nasceu a vontade de fazer musica. E foi ainda assim que, também fruto do ambiente da SCBEU, surgiu o conjunto musical Os Vândalos. Com Eustachio, Fon e João Bruno, além da minha participação na bateria, por um bom período de tempo.
Parece que tudo isso foi ontem, naquelas tardes tão aprazíveis de Petrópolis. Olhando para aquele imenso terreno onde se destacavam duas construções. A que dava para a Rua Joaquim Manoel, na parte baixa, e a da parte superior, com entrada pela Avenida Getulio Vargas. Ali onde funcionou, durante a Segunda Guerra, o Consulado americano.
Lembro-me do primeiro ano estudando na SCBEU, quando cheguei ainda quase menino. Onde ficávamos antes das aulas, vários colegas, sentados na calçada alta do prédio, folheando ávidos, revistas com os desenhos eróticos de Zéfiro, o primeiro contato de muitos de nós com as questões da sexualidade. Até hoje não me lembro como aquelas edições chegavam às nossas mãos.
O fato é que aquele tempo foi assim, rico em descobertas. Enquanto descobríamos a beleza do novo idioma, nos livros da série “Life with the Taylors”, descobríamos também, embora de forma imberbe e precária, um pouco da beleza do sexo oposto, com aqueles desenhos clandestinos zefirianos.
Fiz o meu curso completo de cinco anos, recebendo diploma de conclusão em 1968. O inglês que sei até hoje devo ao SCBEU. E confesso que aprendi muito. Já li, falei e escrevi bem, melhor do que nos dias de hoje. Por não utilizar tanto o idioma no meu dia a dia, fui esquecendo algumas coisas. Mas quando viajo e começo a falar com alguém, tudo começa a fluir naturalmente. É o que chamo de Efeito Bicicleta…
Ouvi muitos discos de jazz, blues, big bands e musicas country, lá no prédio da Getúlio Vargas. Era simplesmente fantástico. Lembro-me ainda que ficava impressionado com as capas dos discos, verdadeiras obras de arte. Ler livros e revistas americanas na biblioteca era outra atividade igualmente prazerosa.
O Haloween entrou no calendário dos jovens da época e anualmente se fazia uma festa gigantesca na sede da SCBEU, reunindo ali grande parte da sociedade natalense, que começava a conhecer um pouco dessa manifestação tipicamente americana. Com direito a participação do cenógrafo Roberto e muitos special effects.
E assim se passaram cinco anos da minha vida. Cujos reflexos durariam muitos e muitos anos após. Na lembrança de fatos e de nomes, que moraram na minha mente e no meu coração durante muito tempo. A long, long time ago….
Como Protásio Melo, Hermógenes Medeiros, meu tio, José Melquiades e Paulo Fernandes. Dalton Melo, Lucio Brandão, Silvino Melo, Juarez Chagas, que escreveu um livro que se transformou na memória histórica daquela época. Airce, que foi secretaria. Haroldo, Armando Vilar, Fred e Carlos Sizenando. Vilma Sampaio, durante anos, a musa. Além dos contemporâneos Ricardo Maranhão, Emanoel Pereira, Doriélio, Petit, Simoni Tonelli, entre outros.
Relembrar esse tempo é vivê-lo duas vezes. O que só faz bem para a alma e o espírito.
Nelson Freire – Economista, Jornalista e Bacharel em Direito