Continuando minha conversa sobre as firmas de Secos & Molhados, venho agora me referir as empresas da Rua Frei Miguelinho, que tinha o maior número de firmas desse setor, além de outras de ramos diferentes, mais muito influentes, ou pelo seu negócio ou originalidade.
Descendo a rua e caminhando até a Tavares de Lyra, tínhamos, logo no início, uma das firmas mais tradicionais de Natal – Martins Irmãos – cujo negócio era a exportação de couros e peles e de um produto original do nosso Estado, cera de carnaúba. Segundo informação da própria exportadora, os grandes compradores eram as fábricas de discos de 78 rpm pois, no processo de sua fabricação, essa cera era indispensável.
Depois, vizinho, vinha a Costeira, representada por Ruy Paiva, pessoa muito conhecida e influente na cidade, inclusive como um dos donos do Cinema Rio Grande. Era a companhia de navegação dos famosos Itas, aqueles do “peguei um Ita no Norte e fui no Rio morar”. Um tio meu trabalhava lá e um dia levou-me a visitar um deles, onde tomei o meu primeiro chope.
Logo em seguida, ficavam as empresas de Miguel Carrilho e Durval Porpino, distribuidores de farinha de trigo. Empresas grandes, tinham praticamente o monopólio da venda desse produto.
Em frente, a galvanizadora de Mario Alcoforado. Não tenho certeza, mas acho que foi a primeira empresa do ramo em Natal, e passou anos sem um concorrente. Era um ramo muito especializado.
Daí em diante, de um lado e outro da rua, as empresas de Secos & Molhados. Claro, me lembro das principais, com as quais nossa firma tinha negócios. Mario Lima, que não era das maiores, mas muito sólida. Oswaldo Figueiredo, bem maior, mais tradicional por ser inclusive mais antiga, e uma figura com a qual me dava muito bem. Clemente Carvalho, firma sólida, mas Clemente vivia irritado e era de difícil relacionamento. Mas me dava bem com ele. Em frente à Oswaldo e na outra esquina, Luiz Bezerra, uma ótima figura, que deixava os negócios nas mãos da esposa, muito competente. Quase em frente, José Mauricio de Souza, firma grande e sólida, uma pessoa simpática e agradável, com o qual mantinha um ótimo relacionamento.
Daí em diante, os ramos mudavam. Quase em frente à Mauricio, o escritório de despachantes de João Ferreira de Souza e Luiz Siqueira. Os despachantes eram as figuras que se encarregavam de retirar as mercadorias que chegavam de navio, praticamente o único meio de transporte de então. Levavam toda a documentação para despachar junto à Alfandega, Docas, Estado, etc. Acho que essa profissão não existe mais.
Continuando o caminho para a Tavares de Lyra, tínhamos a Cooperativa de Crédito dos Comerciários, que era conhecida como o banco de Jesse (Jesse Freire), do outro lado o “Banco de Dr. Aldo” (Aldo Fernandes). Logo na esquina, de um lado, as Lojas Brasileiras, que pegou fogo num dos maiores incêndios de Natal e, do outro, a firma M. Martins & Cia., firma grande, tradicional, distribuidora, entre muitos outros produtos, de automóveis, se não me engano, da Ford.
Não sei o que vocês acham, mas, para mim, lembrar essas coisas é muito importante, especialmente na nossa cidade, onde o passatempo predileto é esquecer o passado e mudar os nomes das ruas e praças.
Dalton Mello de Andrade – Escritor, ex-secretário da Educação do RN