AB DALTON MELO DE ANDRADE

Dalton Mello de Andrade

             Alguém se lembra? Secos & Molhados eram como se chamavam as empresas que vendiam, no atacado, de cereais aos enlatados, passando por charque e bebidas. No meu tempo de adolescente, trabalhando com meu pai, conheci essas firmas, que tinham negócios conosco.

            Ficavam, praticamente todas, na Ribeira. Localizavam-se, principalmente, nas Ruas Chile e Frei Miguelinho. Lembro-me perfeitamente da Vva. Machado, G. Lettieri (passou a ser A. Suassuna & Cia. Ltda., em razão da II Guerra; era italiano e passou a empresa para o genro, Aurino Suassuna, grande figura), José Lucena (hoje Conjol, que mudou de ramo, e a única que sobreviveu, graças à Wellington, filho do velho), Luiz Morelli (outro italiano), Cunha & Maia, (Otacílio Maia, um dos titulares da empresa, construiu o Cinema Rio Grande, junto com Ruy Paiva). Clemente Carvalho e Silva, Oswaldo Figueiredo, José Mauricio, Mário Lima, e mais alguns outros, na Miguelinho. Outros chegaram um pouco depois, como Miguel Carrilho e Durval Porpino.

            Algumas das casas da Rua Chile, com os fundos para o Potengy, tinham uma inscrição “Ship chandlers”; abasteciam navios. E em cima de Lettieri ficava a famosa boate “Wunderbar”, homenagem aos alemães da Condor e que, com a chegada dos americanos, mudou o nome para “Wonderbar”. Não tinha idade para freqüentar, mas cheguei a conhecer. Tinha uma vista bonita do rio. Contam que lá dominava Luiz Tavares.

            Lembro de muitos desses comerciantes. Na Viúva Machado, o gerente geral era o Sr. Aníbal Correa, português, muito amigo de meu pai. Na casa dele, ali no lado direito da descida da Ladeira do Sol, onde hoje há um belo arranha-céu (tai um nomezinho antigo) passamos “refugiados” os cinco dias da intentona comunista. Por sinal, sua empresa foi saqueada pelos revoltosos, que também roubaram o Banco do Brasil, então na esquina da Dr. Barata com a Tavares de Lira. Para arrombar o cofre do banco, levaram o único sujeito que entendia do assunto, cofres e não roubo, Inácio Paiva, que também conheci, e o obrigaram a abrir o cofre. Foram histórias que escutei, à época.

            Por sinal, há uma estória divertida de Inácio com Luiz Morelli. Tendo esquecido o segredo do cofre, mandou chamar Inácio, que colou o ouvido na porta, rodou o segredo p’ra lá e p’ra cá e num minuto o cofre estava aberto. Quanto lhe devo? Quinhentos mil réis. Muito caro, seu Inácio! Faça um abatimento. Inácio, pavio curto, fechou o cofre e rodou o segredo. Morelli, ressabiado, disse: o senhor é muito afobado; abra o cofre. Agora, é um conto de réis.

            Outra estória de seu Morelli. Tinha um vendedor, Mangabeira. Tomava umas cachaças brabas e rara era a segunda-feira em que não faltava ou chegava ainda triscado. Seu Morelli reclamava e nada. Um dia, já cansado, dispensou-o. Chamou-o e disse: Sr. Mangabeira, árvore que não dá frutos se corta pela raiz.

            Como essas, há muitas outras estórias, gostosas e divertidas. Meu pai escreveu um livro, sobre a vivência dele na Ribeira, que tem uma quantidade delas. Nesses dias, reproduzirei algumas. Uma estória com meu pai, conto agora.

            Foi nomeado agente da Gillette. Naquele meados dos anos 30, a navalha era a rainha. Para tornar a gilete conhecida, ia para as feiras, montava uma mesa com uma bacia d’água, sabão e pincel, e fazia a própria barba. E vendia uma quantidade de aparelhos e laminas. Nunca o acompanhei nessas andanças. Tempos que se foram e vivem na nossa lembrança.

 Dalton Mello de Andrade – ex-secretário da Educação do RN

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *