O secretário da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, responsabilizou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pelo caso do passageiro que chegou da Índia ao Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, e foi diagnosticado nessa quarta-feira (26) com a variante indiana do coronavírus.
Em entrevista à GloboNews, o secretário disse que o viajante não poderia ter sido autorizado a circular pelo aeroporto livremente. Gorinchteyn afirmou ainda que ele já apresentava sintomas da doença, como dor de cabeça.
Questionado sobre quem deveria ter barrado o passageiro, o secretário disse que “é a Anvisa que é responsável pelos aeroportos” e que “qualquer abordagem a um passageiro com sintomas ou com teste positivo deve ter encaminhamento pela agência”.
A Anvisa, no entanto, nega responsabilidade pelo caso e afirma que o passageiro foi abordado na chegada ao Brasil e declarou que não estava com sintomas.
Em entrevista à GloboNews, Alex Machado, diretor da Anvisa, afirmou que “o papel da Anvisa é identificar o passageiro sintomático” e que “não havia nenhum indício de sintoma” no passageiro diagnosticado com a variante no momento da abordagem no aeroporto.
O diretor reforçou também que a quarentena, no caso deste passageiro, era obrigatória e, ao assinar o termo, ele assumiu o compromisso de se isolar por 14 dias em solo nacional e informar o local onde cumprirá o isolamento.
Após a assinatura do termo, o viajante resolveu fazer um teste para Covid-19 em um laboratório privado localizado no aeroporto de Guarulhos. Depois do exame, embarcou em um voo para o Rio de Janeiro – por ser voo doméstico, não é exigida a apresentação de nenhum exame.
Depois de chegar em Guarulhos, em um voo da Índia com escala no Catar, o passageiro de 32 anos passou ainda pelo Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e por sua cidade natal, Campos dos Goytacazes, antes de voltar à capital fluminense, onde está em isolamento desde segunda-feira (24).
Ele recebeu o resultado positivo para Covid-19 quando já estava no Rio de Janeiro. A Anvisa foi informada do resultado pelo laboratório.
“A agência informou as autoridades competentes para que monitorassem o viajante, o que é previsto no plano de contingência”, afirma a Anvisa.
A agência diz ainda que “não é competência da Anvisa o monitoramento de pessoas em trânsito entre estados e municípios”.
Pressão para controle em aeroportos
Desde o último sábado (22) a Prefeitura de São Paulo e o governo do estado estão pedindo que a Anvisa adote novas medidas, mais restritivas para viajantes, com o intuito de conter a variante indiana.
A agência, no entanto, diz que elaborou uma manifestação técnica, mas que a implementação de medidas mais rigorosas, como barreiras sanitárias ou a exigência de testes para passageiros de voos domésticos, cabe aos ministérios da Saúde, da Justiça e Segurança Pública e da Infraestrutura.
A Prefeitura de São Paulo informou nesta quarta-feira (26) que vai fazer um monitoramento dos passageiros que estiveram no mesmo voo que o homem diagnosticado com a variante indiana.
A Anvisa diz que já pediu às companhias aéreas Qatar e Latam a lista de passageiros das fileiras próximas e que esta informação foi encaminhada aos Centros de Informação Estratégica em Vigilância em Saúde dos estados em que esses viajantes moram para monitoramento.
Casos da variante indiana
Com a confirmação deste passageiro de 32 anos, sobe para sete o número de pessoas contaminadas pela variante indiana do coronavírus no país.
Os outros seis são passageiros que chegaram ao Maranhão a bordo do navio MV Shandong da Zhi, atracado no litoral do estado. Há ainda outros três casos suspeitos no Distrito Federal, no Espírito Santo e em Minas Gerais.
De acordo com o governo paulista, não há registros de um caso autóctone, ou seja, com contaminação local da variante indiana no estado.
A variante indiana B.1.617 possui três versões, com pequenas diferenças (B.1.617.1, B.1.617.2 e B.1.617.3), descobertas entre outubro e dezembro de 2020.
As três versões apresentam mutações importantes nos genes que codificam a espícula, a proteína que fica na superfície do vírus e é responsável por conectar-se aos receptores das células humanas e dar início à infecção.
Entre as alterações, uma se destaca: E484Q, que tem algumas similaridades com a E484K, alteração encontrada nas outras três variantes de preocupação global. São elas: a B.1.1.7 (Reino Unido), a B.1.351 (África do Sul) e a P.1 (Brasil, inicialmente detectada em Manaus).
Até o momento, cientistas ainda não conseguiram estabelecer sua real velocidade de transmissão e se ela é mais transmissível, nem se ela está relacionada a quadros de Covid mais graves, que exigem internação e intubação. A eficácia das vacinas já disponíveis contra a variante indiana também está ainda em análise.
Fonte: Agência Brasil