SELMINHA, MINHA MÃE –
Selminha é portadora de uma convergência bombástica: Inteligência, erudição, tesão por amizade e amor generalizado.
No último Dia dos Professores, 15 do outubro de 2020, fomos surpreendidos com o emocionante depoimento de uma professora que foi aluna de Selminha Pereira, minha mãe. Assim escreveu Nalva Martins:
“Tive professores excelentes em toda a minha vida estudantil. No entanto, sinto-me sensibilizada e quero, nesta importante data, homenagear a minha grande professora Maria Selma da Câmara Lima Pereira. Sim, a professora e grande amiga Selma sempre foi brilhante professora da UFRN.
Planejava as suas aulas e as executava com esmero e dedicação. Prendia a atenção dos educandos. Sabia ouvi-los e tirar suas dúvidas. Dialogava com muita sensibilidade, pois esta prática é muito importante. Desempenho extraordinário da profissão. Ministrava suas aulas sempre risonha, muito feliz e segura das orientações que transmitia a todos.
Desejo neste espaço, citar ainda, inúmeros atributos da maior estimuladora da minha vida, a fim de que eu desempenhasse a profissão que exerci durante quatro décadas.
Selma querida, agradeço a nosso Deus a vocação que ele me deu e, a você, por tudo o que pude praticar em sala de aula, através da espetacular disciplina didática de Línguas Vivas.”
Selminha tem uma outra característica, interessantíssima: a irreverência – sempre repleta de graça. Aqui descrevo um, de inúmeros outros “causos” protagonizados por ela. Estávamos na praia de Muriú, anos atrás, quando ultraleves sobrevoaram o telhado de nossa casa, um deles, com um piloto e um aventureiro na garupa.
Papai, estarrecido, falou: “Tem gente doida pra tudo. Como é que um sujeito tem coragem de voar num negócio desse?”. Mamãe ouviu a crítica e desapareceu para, em minutos depois, ressurgir num voo rasante sobre o telhado da casa, gritando: “Chiiico!…rsrsrs.” Naquele dia, papai, por pouco não enfartou. Quando ela chegou, ele riu aliviado e disse: “Minha filha, você não existe!”
Selminha foi filha única de Apolônio e Anita. Casal simples, de classe média baixa, que ralava bastante para manter um lar digno e dar o melhor para a filha. Vovó Anita – banqueteira – educou mamãe. Mostrou-lhe o valor dos estudos, permitindo que, naquela época, ela fosse para Recife, Rio de Janeiro e, depois, Paris.
Vovô Apolônio – funcionário público – era só afeto! Fazia todos os gostos de Selminha, e ela, se tornou uma filha, absolutamente, apaixonada pelo pai. Não sei por qual milagre, porque com tantos mimos nem se tornou egoísta, tampouco ficou entediada por ver todos os seus desejos atendidos. Ao contrário, seguiu em frente como um foguete passando, com notas máximas, em tudo que fazia com uma personalidade que encantava pela educação, cultura, simplicidade e alto astral.
Amiga generosa dos amigos. Usarei aqui um lugar comum para definir Selminha: quem dela é ou foi amigo, nunca esteve sozinho.
Foi na Maison de France, no Rio de Janeiro, que Selminha e Chico Pereira se conheceram. No início ficaram amigos, porém, no final, descobriram estarem apaixonados um pelo outro. Aí começou um belo relacionamento pautado no amor e na admiração mútua, interrompido apenas pela morte precoce de meu pai, aos 64 anos de idade. Geraram três filhos: eu, Saulo e Flávia.
Este ano de 2020 foi atípico. A tal pandemia mudou todos os hábitos. A preservação do núcleo familiar sempre foi, para mim, um propósito perene. Portanto, a grande maravilha que o isolamento nos forneceu foi o reencontro familiar, pleno e mais intimista. Em tempos de resguardo percebemos, com nitidez, que é em nossa casa que encontramos a paz mais verdadeira. É quando podemos cuidarmos de perto, uns dos outros; e, cuidar, na essência é amar.
Contraditoriamente, a pandemia deu-me um grande presente. Trouxe meus dois filhos, ambos médicos, desenvolvendo seus projetos profissionais fora de Natal, para perto de mim. Tenho cozinhado para os dois e levado longos papos, como nunca fizemos antes.
Idêntico procedimento tem acontecido com minha companheira, meu enteado, meus irmãos e um punhado de amigos próximos. Porém, foi com Selminha, a Rainha desta crônica, que tenho mantido os contatos mais constantes, resguardando o prudente distanciamento físico. Claro! Falo com ela, pelo telefone, inúmeras vezes por dia, sempre atento a todas suas necessidades. Fazemos um almoço semanal presencial com máscaras, álcool e tudo mais… Ela é uma fonte de alto astral. Uma dádiva divina!
Arthur Shopenhauer, filósofo alemão do século XIX, dizia: “O bom humor é a única qualidade divina do ser humano”. Já no meu entendimento, só existe uma saída: fé em Deus, alto astral e propósito!
Fabiano Pereira é arquiteto, urbanista e escritor.
Fabiano Pereira – Arquiteto
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Exalte enquanto puder a sua mãe. Assim, a saudade será menos doída quando de sua partida para o infinito. Parabéns, amigo, por Selminha.