No início dos anos 2000, a banda potiguar Officina se preparava para lançar o seu segundo álbum de carreira, o “Som da rua, som da praia”. Durante o processo de produção do disco, dois integrantes do grupo, Anderson Foca e Ana Morena, perceberam uma lacuna na cena musical potiguar daquela época.
“Estávamos vendo os selos acontecendo em outras cidades e não tinha um aqui ainda sólido pra tentarmos fazer alguma coisa. A gente teve a ideia de fazer um selo chamado DoSol, meio combinando com o nome desse disco. Era bem despretensioso assim”, conta Anderson Foca.
E foi assim, “despretensioso”, que surgiu o selo DoSol, que neste ano chegou aos 20 anos de existência. E nesse tempo, muita coisa mudou: a marca ganhou um estúdio de ensaios e gravação, teve casa de show, e mantém um festival anual consagrado no calendário e alguns outros eventos culturais pelo Rio Grande do Norte.
E essas duas décadas de história foram praticamente ininterruptas. Apenas a pandemia forçou o DoSol a parar, parcialmente, algumas atividades, já que os eventos de grande público foram suspensos por uma questão sanitária. Assim, nesses últimos dois anos, a marca voltou o foco lá pra sua origem como selo, lançando artistas, e para as produções digitais.
“A impressão que eu tenho é que o DoSol passou esses 20 anos se preparando para segurar essa onda que está acontecendo agora. Tanto de apoio e suporte pros nossos artistas, pra nossa cena, pra manter isso vivo mesmo com tanta adversidade e impossibilidade, já que a gente não está podendo fazer nossos eventos presenciais. Estamos mantendo só a nossa atividade digital, que a gente já tinha muito forte”, disse Ana Morena.
O lançamento do disco do Officina lá no início dos anos 2000 veio logo acompanhado de mais um lançamento pelas mãos do selo: o disco do General Junkie, em 2002. E um combo começava a surgir naquele momento.
“Nesse mesmo período, arrumamos uma sala de ensaio e começamos a receber outras bandas. Foi meio ao mesmo tempo: fazer o selo, lançar nossa própria banda e começar a trabalhar com outros artistas“, lembra Foca.
Entre outros parceiros iniciais da trajetória, estão também os grupos Peixe Coco e Base Livre. O cenário musical potiguar naquele momento, recorda Foca, era bem mais tímido se comparado ao atual. Principalmente para artistas autorais.
“Era bem pálido, sem muita energia, poucas bandas ativas. Em relação a hoje, nem se compara. Era outra conversa. Tinha um show por mês, se tivesse. Era bem pouquinho. E tinha um outro mercado do qual até a gente fazia um pouco parte, de tocar na noite. Esse sim tinha mais gente. Mas o mercado de lançar as próprias músicas era bem pouquinho”, conta.
Para Ana Morena, a evolução da cena é refletida na diversidade de gêneros musicais dos grupos atuais. “Quando a gente começou há 20 anos, basicamente as bandas eram de hardcore ou rock com rock, sabe? Não existia música de dançar muito”, relembra.
A produtora cultural acredita que tanto o DoSol quanto outros festivais e projetos culturais no estado foram e são importantes nessa construção.
“Eu acho que a evolução de uma cena é imprescindível e natural quando se tem projetos que promovem intercâmbio entre artistas. Festival DoSol tem esse papel,o Mada também. E outros projetos daqui da cidade têm esse papel e você vê claramente como a cidade evolui, como a cena evoluiu justamente por causa desse contato. Quando você fica muito resumido em você mesmo, não há outros incentivos, outras coisas que pode mirar pra evoluir”, reforça Ana Morena.
Anderson Foca lembra que assim que o selo começou a lançar os discos, uma das estratégias de divulgação era realizar um show de lançamento. Só que era praticamente o máximo que se conseguia com grupos autorais naquele momento.
“A gente conseguia umas casas [de shows], umas pautas. Mas para ter a sequência, era muito ruim”, conta.
Em meio a mais essa necessidade inicial, o selo entendeu que era o momento de ter uma casa própria para esse tipo de evento. E foi aí que surgiu o Centro Cultural DoSol, importante casa que ficou ativa entre 2004 e 2019 no bairro da Ribeira.
“Parecia mais barato ter um lugar do que ficar alugando toda vida para empreender. A gente já tinha uma demanda maior de ações. E por causa disso, a gente começou a entender melhor o processo e passou a funcionar melhor tendo o lugar”, contou Foca.
Um dos projetos mais expansivos e importantes da marca é exatamente o Festival DoSol, que teve a sua primeira edição em 2002 apenas com artistas do selo, como Jane Fonda, Officina, General Junkie e Peixe Coco.
Mas, como relatado por Foca, ficou parado por dois anos, retornando em 2005 para não parar mais – nem em 2020, em que aconteceu no forma online por conta da pandemia.
“A gente já tinha um estúdio, em que a gente coletivamente montou uma ilha de gravação e começou a se gravar. Aí na sequência, já veio o Centro Cultural DoSol. E também a primeira edição do Festival DoSol”, lembra Foca.
O evento é hoje data marcada no calendário cultural potiguar e tem se expandido na última década também para o interior do estado. Antes realizado na Rua Chile, na Ribeira, nos últimos anos o evento tem acontecido na Via Costeira.
A estrutura idealizada, no entanto, segue semelhante, com bandas tocando simultaneamente em diferentes palcos.
Na última edição presencial, em 2019, foram mais de 50 bandas se apresentando. Entre elas, estavam grupos como Maglore, Ana Cañas, Francisco El Hombre, Felipe Cordeiro, Terno Rei e Potyguara Bardo.
Nesses 20 anos de estrada do DoSol, Anderson Foca acredita que pelo menos 100 artistas foram lançados pelo selo.
“Nos streamings, a gente tem quase 400 lançamentos [entre músicas e álbuns]. Acho que do zero, a gente deve ter lançado pelo menos 100 artistas. Mas é um número que eu não tenho de cabeça”.
E já são gerações que passam por duas décadas, relembra. “De Jane Fonda, Allface, numa outra geração, passando por Talma e Gadelha e Monster Coyote em outra, passando pela Ayira, PotyguaraBardo, Plutão Já Foi Planeta em outra…Calistoga. É difícil destacar. Mas é muita gente que passou pelo selo e ainda passa”, diz.
Anderson Foca diz que uma das graças de ter tanto tempo de história é o público que começou a ver a atuação do DoSol ainda adolescente.
O DoSol é tido por muitos críticos culturais como um marco ou uma espécie de mola propulsora da cena musical do estado. Ana Morena diz que é difícil fazer uma constatação desse tipo estando “dentro” do projeto, mas que hoje já admite isso.
“Fazendo um trabalho crítico assim, vendo de fora, eu acho que sim, sem falsa modéstia, que o DoSol faz um trabalho muito legal. Somos um dos combos culturais mais sólidos que tem no Brasil, um dos mais antigos que se mantém em pé e fazendo exatamente a mesma coisa que é o fomento de uma cena local, dos artistas do nosso estado e um fomento de um público consumidor desse desses artistas”, pontuou.
O futuro ainda é um incógnita por conta da pandemia da Covid e do chamado “novo normal”. Eventos culturais com grandes públicos ainda estão sendo testados em vários lugares do mundo, em que a vacinação está mais avançada.
No RN, assim como no Brasil, as liberações graduais começaram recentemente, mas a vacinação com as duas doses ainda está abaixo do esperado e há ainda uma preocupação por conta da variante delta.
Analisando o cenário e esperando o avanço da vacinação, o DoSol se prepara para um possível retorno.
“Como vai ser agora, eu não faço a menor ideia. A gente está estudando a volta, com outros parceiros, de outros lugares, conversando com parceiros da Europa, EUA, vendo tudo que está acontecendo lá pra poder replicar aqui”, disse Foca.
A ideia é que, em caso de pandemia controlada, pelo menos três eventos aconteçam até abril do próximo ano, data para qual está programado, inicialmente, o Festival DoSol.
“Acredito que do final do ano em diante vá ter como a gente saber um pouco melhor como as coisas vão acontecer e a gente está pronto pra fazer o Pôr do Som, o carnaval e o Festival DoSol nesse período pré-carnaval ou até abril. Vamos ver se a gente consegue segurar a agenda desse jeito e se vai ser possível fazer. Mas o plano é esse”.
Ana Morena conta que a intenção é fazer microeventos como testes e só após todos terem tomado as duas doses da vacina contra a Covid. Além disso, a ideia é fazer campanhas de conscientização.
“A gente vai desenvolver uma campanha educativa que eu acho que muita gente já está desenvolvendo e a gente vai também fazer coro a isso. É uma campanha educativa sobre para que as pessoas, um, se vacinem e, dois, passem a maior parte do tempo de máscara nos projetos, mesmo vacinadas. Eu quero que as pessoas tenham orgulho de estar de máscara nos projetos”.
Fonte: G1RN
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