Dalton Mello de Andrade
Sem assunto. Não que haja falta de assuntos. Os há, de sobra. Só que não me apetecem, até por que já muito comentados. E por gente mais capacitada.
As mazelas estão aí, e aumentando. Economia desastrada, saúde doente, segurança insegura, educação deseducada, sofrimento sofrido, e tantas outras se somam e nos levam ao ápice das más notícias. Sobre todas essas, há muitos à escrever e não preciso me juntar.
O que gosto mesmo é escrever sobre coisas boas, que nos fazem bem e nos trazem alegrias. E aí está o problema. O que diabo de bom há por aí para comentarmos? Procuro, olho de lado, olho para a frente, e uma possível luz no fim do túnel não aparece. Deve ser o preço da energia.
O jeito é voltar ao passado. Até parece coisa de velho. Até certo ponto é, já que os mais jovens não tem muito do que lembrar, ainda. E espero que venham a ter. Ontem, encontrei um amigo, bondoso, que lamentou o fechamento do “Jornal de Hoje”, onde gostava de ler minhas crônicas. Agradeci, disse que também lamentava, e só esperava que não tivesse sido o que escrevia que fechou o jornal. Nos rimos juntos da piada; espero que seja piada mesmo. E lhe disse que, agora, podia me ler no Facebook, e nos blogs de Nelson Freire (www.blogpontodevista.com.br) e Minervino Wanderley (www.natalpress.com.br) Ele, que é da minha faixa de idade, confessou que não usava esses “novos instrumentos”. Aconselhei-o a usar; forma de se manter em dia e com a cabeça boa. Mas adverti; não acredite em tudo que vier a ler. Use sempre uma pedra de sal.
Esse negócio de dizer que o passado passou é exagero. Que passou, sem dúvida. Mas a lembrança fica e deve ser lembrada. Você pode fazer uma escolha, entre o que foi agradável e chato. Esse um dos lados bons. Lembro-me sempre das coisas gostosas e tento esquecer as desgostosas (algumas não esqueço, mas também não comento).
Lembrar os amigos, sua inesquecível convivência, sua verve, suas manias e idiossincrasias, suas mesmices e originalidades, tudo isso trás de volta um tempo que se foi e que é bom reviver. E isso acontece comigo a todo momento. Ao ver e ouvir música no YouTube, por exemplo, reencontro Eudes Moura, Odilon Garcia e Alvamar Furtado. E ficou remoendo como eles ficariam felizes em ver os programas que estou vendo, escutar os comentários que fariam sobre os artistas, as orquestras, os compositores. O que faziam quando ouvíamos apenas o CD ou DVD. São sobre essas coisas que gosto de escrever e lembrar. E levo meu pensamento nessa direção. Como é bom. Especialmente com um whiskinho de lado, como eles também gostavam. Exceto Alvamar, que só tomava coca (Coca-Cola, claro).
Dalton Mello de Andrade – Ex Secretário de Educação do RN