“SEMODEZA” –
“Tenha modos, menino”! Tenha modos, menina!
Esta era a repreensão feita pelos pais ou avós, no século passado, quando um filho (a) ou neto (a), “fazia arte”, ou seja, era buliçoso (a), treloso, mexia no que não devia, ou quando as crianças queriam se esmurrar mutuamente.
Uma repreensão dos pais ou dos avós servia como um alerta para que fossem obedientes e não fossem agressivos. Às vezes, bastava um olhar de desaprovação dos pais ou avós, para que a criança entendesse que estava errada.
Os castigos aplicados eram ligados à privação de sair para brincar na rua, ou de ir ao cinema ou praia no final de semana. Tempos depois, também era castigo, a proibição de assistir televisão.
Nesse tempo, os pais ou avós eram livres para ralhar com os filhos e netos o quanto fosse necessário, dando-lhes conselhos que perdurariam para sempre. Isto fazia com que as crianças os olhassem com respeito e aprendessem a ser cordiais e sem agressividade. Daí, nascia a disciplina doméstica, indispensável à formação do caráter da criança, tarefa que os pais e avós tomavam para si, com seriedade. Não havia o descaminho hoje ensinado pelos veículos televisivos, e pelas redes sociais.
A era cibernética trouxe muitos avanços para a humanidade, mas, em contrapartida, trouxe muito prejuízo à família, na criação dos filhos, com a banalização da violência, dos costumes e do desrespeito aos mais velhos, principalmente pais e avós.
“Tenha modos!” é uma expressão que já não se usa. Os conselhos dos pais e avós, nos dias de hoje, são levados na brincadeira, sendo motivos de galhofa, por parte da maioria das crianças e adolescentes.
Atualmente, o maior castigo que os pais podem impor aos filhos, sejam eles crianças ou jovens, é tirar deles o celular e a internet, privando-os das redes sociais por algum tempo. São capazes de entrar em depressão, com um castigo desse tipo. Essa privação é uma forma de educar.
Desde a sua invenção, o celular passou a ser a peça mais importante na vida dos jovens e adultos.
É comum, numa sala de espera para qualquer atendimento, as pessoas que ali aguardam sua vez, se contentarem em “conversar” apenas com o celular, evitando encarar as pessoas ali presentes. Não se faz mais amizade, nas longas esperas para atendimento médico ou outro qualquer.
O ser humano se sente, cada vez mais, sozinho, tendo como principal rival o celular.
A escola recebe os alunos, esperando que eles tenham recebido em suas casas o mínimo de educação doméstica. Infelizmente, isso é uma utopia no mundo atual. A educação doméstica, nos tempos modernos, é “terceirizada”. O convívio entre pais e filhos, logo cedo, é prejudicado, pela evolução dos costumes, com a mulher trabalhando fora de casa.
Logo cedo, a criança é tirada do ambiente familiar para as creches, onde passam o dia convivendo com as “tias”, e depois passam logo para as escolinhas. Em casa, o trabalho e dedicação das mães também é “terceirizado”, passando a criança a conviver mais com as babás do que com elas. E muitas crianças terminam vendo como mãe a própria babá.
Essa decadência familiar é fruto do progresso.
“Tenha modos!”, não se diz mais. A expressão caiu em desuso.
Entretanto, a “semodeza”, ou indecência, se alastrou pelo nosso País em todos os aspectos. Com os novos métodos de educação, o que antes era errado, agora é certo, e nada mais é “ilegal, imoral ou engorda” (canção de Roberto Carlos – 1976)).
A “semodeza” tomou conta da sociedade capitalista e cresceu sem limites, principalmente na vida pública e política do nosso País.
Entretanto, a Natureza é inexorável, e mais cedo ou mais tarde, se vingará exemplarmente da violação de suas leis.
A bola da vez, agora, é a descriminalização do aborto.
Pois bem. O aborto, praticado por comodidade ou conveniência, é um crime, e como tal, terá o seu castigo. Mestre Mundo não perdoa. Ele dá muitas voltas, mas chegará o dia em que acertará as contas com o devedor.
Quem pratica um ato de maldade, cedo ou mais tarde colherá seu fruto.
O palco da vida chega a dar medo. Quando se abrem as cortinas, os papeis se invertem. É a hora da colheita. Na vida, só se colhe o que se planta.
Como cantava uma ceguinha na feira de Nova-Cruz, na calçada da bodega do meu saudoso pai:
“O que a gente faz aqui, aqui mesmo a gente paga.
Não estou rogando praga, você vai pagar aqui…
Lá em cima tem o Criador, o Nosso Senhor com um livro na mão. E lá de cima ele está vendo tudo, está tomando nota, prestando atenção.
Não vá pensar que vai ficar assim; o que você fizer aqui, aqui mesmo vai pagar…São palavras de um velho ditado, se achar que está errado, procure modificar…”
Por enquanto, assistimos ao desenrolar da comédia humana, até que venha o reverso da medalha.
“No picadeiro ao léu, palhaços sem papel, somos todos nós, falseando a voz, e a plateia chora, rindo.” (Ri – Miltinho – 1976).